Capítulo 36

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Anahí precisou de um instante para se recuperar. E teria facilitado muito se
o homem à sua frente não continuasse encarando-a com toda aquela intensidade. Era como se ele pudesse vê-la por dentro, vislumbrar tudo o que acontecia ali. E realmente não era uma boa ideia naquele instante, já que ela mesma não sabia o que estava acontecendo consigo, dentro de si especificamente, o estômago estava revirando, a bile subindo por sua garganta. Anahí até teria recuado para trás e colocado todo o café que havia ingerido naquela manhã para fora se não fosse pelo choque súbito que tinha tomado todo o seu corpo, deixando-a completamente incapacitada de mover um músculo sequer.

Estava ali, materializado diante de si a cópia viva de Rodrigo, não fosse pelos fios longos do cabelo que lhe batiam nos ombros, a barba grande cobrindo boa parte de seu rosto, mas até a cor dos olhos era idêntica aos do irmão, se não fossem os anos de diferença, poderiam facilmente ser dados como irmãos gêmeos, era assim desde que ainda eram adolescentes. Anahí não via Charlie a anos... Ainda assim, a presença imposta dele ali a deixava tão inquieta consigo mesma que precisou raciocinar rápido para recobrar a própria consciência, estava assustada.

Olá – ele disse, e até a voz fez Anahí tremular – Anahí, quanto tempo... Que surpresa encontrar você por aqui.

— Olá... – murmurou, mas para ela a própria voz ainda insistia em não sair.

E foi então quando Charlie sorriu, ainda que um sorriso mínimo, que Anahí sentiu os batimentos cardíacos novamente, para ela, até o próprio coração tinha parado de bater. Sua pele visivelmente tinha destoado dois tons, estava além de pálida, nauseada e a bile insistente incomodando-a. Charlie ali era uma surpresa, uma que ela definitivamente não estava preparada. E como que para fazê-la recobrar a própria consciência, a voz do outro lado na linha do telefone ainda estava lá, Alfonso agora a chamava preocupado, questionando-a se estava tudo bem. Ela adiantou-se em responder que sim e desligou sem mais explicações, Charlie ainda a encarava, as mãos dispostas dentro dos bolsos do sobretudo escuro que vestia, os olhos cravados nela e o sorriso ainda nos lábios.

— Se me permite dizer, o tempo só fez bem a você – Charlie disse, avaliando-a agora dos pés a cabeça.

—  O que faz aqui? – Anahí questionou após fechar a porta do carro, não sabia muito bem o que dizer ou como se portar, certamente poderia ser uma simples coincidência, mas ela não sentia segurança ali, olhando de um lado para o outro notou o estacionamento deserto, logo escureceria.

— O mesmo que você? – respondeu retóricamente, olhando em volta e voltando a encará-la, um riso brincava em seus lábios e um nó unia suas sobrancelhas, achava divertido a forma que ela se portava, estava assustada.

E era exatamente o que Charlie esperava, apesar de não ser o que desejava, de fato. Precisava de tudo, menos que ela saísse correndo dali.

— Eu... Não esperava encontrar você aqui. – ela disse sincera, agora a cabeça latejava. Anahí piscou uma, então duas vezes, a confusão estava deixando-a estranhamente mais desconfortável.

— Grande coincidência, não? – Charlie gesticulou, sorrindo, e então aproximou-se – Estou feliz por rever você, faz muito tempo desde a última vez.

Anahí lembrava da última vez, lembrava bem, só não esperava pelo abraço inesperado que recebeu dele, e se o seu corpo já estava todo paralisado antes, agora, parecia mil vezes mais incapacitado de mover-se, os braços dele a envolveram calorosamente, tanto que chegava até a sufocar, mas não durou muito, felizmente ele a soltou, o sorriso ainda brincava em seus lábios.

— Por que não vamos tomar um café? – sugeriu – Estou a poucos dias na cidade, mas conheço alguns lugares confortáveis aqui perto. – Anahí abriu a boca para recusar, mas ele foi mais rápido em insistir – Escute, não vou tomar muito do seu tempo, e será uma conversa breve, eu prometo.

𝙐𝙣𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙋𝙤𝙧 𝙐𝙢 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙧𝙖𝙩𝙤 Onde histórias criam vida. Descubra agora