Capítulo 32

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Duas semanas depois...

Foi uma noite torturante, aquela. Anahí ainda lembrava, não conseguiu ter um sono tranquilo por dias seguidos, estivera novamente submetida aqueles pesadelos horríveis, despertando entre murmúrios e muitas vezes, entre soluços de um choro doloroso que nem ela mesma saberia explicar; eram pesadelos diversos, em sua maioria desconexos e em um deles ela se encontrava sozinha, presa entre correntes, gritando o quanto podia por socorro por horas a fio, em vão.


Alfonso estivera o tempo inteiro ao lado dela, todas as noites, não dormira um instante sequer quando acontecia, sempre presente todas as vezes que ela despertava em seu desespero para acalmá-la, mas além de tudo, Anahí também sentia-se culpada por não conseguir ao menos explicar o que sentia quando encontrava no olhar dele algum sinal de que ela poderia confiar a ele o que a tinha levado a ficar daquele jeito. Doía o olhar de preocupação dele, ainda que sentisse proteção, adoraria não fazê-lo presenciar a sua tormenta. Pouca coisa foi dita, ela só pediu que ele ficasse ali com ela e que não saísse, é claro que Alfonso não saiu, que nunca sairia do lado dela, mas o silêncio com o tempo, foi o que ajudou a deixar o clima ainda mais desconfortável pra ela. Eram muitas coisas a se pensar, e com o sol novamente nascendo lá fora, Anahí decidiu que precisaria dar um jeito em toda aquela história sem envolver ninguém. Primeiro, precisaria entender como aqueles recortes dentro daquela caixa foram parar em suas mãos. Mas sua vida não poderia continuar parada, ela não estava mais presa, poderia levantar daquela cama e mudar a situação desprezível em que sua vida tinha se tornado de uma hora para outra. Por medo.

Ela só precisaria descobrir por onde começar. A manhã seguinte ao casamento de Maite e Henry era pra ter sido uma manhã feliz, onde toda a família estaria reunida na mesa, despedindo-se dos recém-casados que só voltariam duas semanas depois da viagem de lua-de-mel, mas o clima não foi dos melhores, ao menos não pra ela, pra eles, já que Alfonso sentia-se caminhando no escuro com o silêncio dela. Alfonso não deixou de notar o quanto a esposa estivera calada, sabia que deveria ter insistido mais para que fossem embora, mas Anahí não queria sair sem mais nem menos e deixar a todos preocupados, suas inquietações poderiam ser resolvidas depois e deveriam, ela própria queria esquecer aquele episódio atormentador, porque com ele outros traumas passados voltavam e ela, ainda que não fosse mais a mesma, sabia que enfrentar todos de uma só vez não seria fácil. Não só ela, Alfonso de algum modo também seria envolvido e era tudo o que não queria.

Entre eles não havia mais somente o silêncio, mas o clima não era mais o mesmo. Alfonso já estava acostumado a acordar sozinho todas as manhãs sabendo que Anahí não estaria dormindo ao seu lado, que ela provavelmente já estaria de pé pronta para ir trabalhar, ou quem sabe, em algum canto sozinha daquela casa, presa nos próprios pensamentos. Ele parou de contar as vezes em que saira do quarto ainda de pijama, com a cara amassada de sono para encontrá-la de hobby no jardim, meio dispersa, o olhar triste. Sua surpresa fora encontrá-la em uma manhã daquelas na sala de piano, o som melódico foi que chamou sua atenção, Anahí dedilhava as teclas sutilmente, parecia tentar encontrar um som que de algum modo pudesse agradá-la, e o piano, por mais confuso que pareça, tornou-se o meio de comunicação deles.

Ouça: Take Me Home - Jess Glynne

Desesperada, tão consumida por toda essa dor.
Se você me perguntar o por quê, não
saberei por onde começar...

— Eu acordei e você não estava mais na cama. – ele disse, aproximado-se. Estava com os pés no chão, ainda com a calça abrigo e camisa de algodão que usava para dormir. Levantara tão atordoado da cama para procurá-la, que sequer lembrou de ir escovar os dentes e jogar uma água no rosto.

𝙐𝙣𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙋𝙤𝙧 𝙐𝙢 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙧𝙖𝙩𝙤 Onde histórias criam vida. Descubra agora