Capítulo 11

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Foi difícil para Alfonso não questioná-la imediatamente sobre diversas dúvidas com relação ao que tinha presenciado. Um ponto de interrogação pairava em sua cabeça, tantas perguntas sem resposta, e o silêncio cortante dela só o fazia andar cada vez mais por um labirinto sem saída. Que Anahí estava presa a um pesadelo ele sabia, era inegável, mas quem era que tanto a causava todo aquele pavor? O que tanto a aterrorizava daquela forma?

As dúvidas só fizeram com que Alfonso tivesse a certeza de que, sem dúvidas alguma Anahí tinha um segredo guardado a sete chaves e, provavelmente, aquele mesmo segredo explicaria sua mudança tão brusca. Além da grande dúvida, Alfonso também tinha um forte aperto no peito por olhá-la tão frágil e com o olhar perdido, sentia-se incapaz, desejando arrancar aquilo que tanto a machucava, mas como o fazer quando o que mais Anahí fazia era correr e mantê-lo afastado em uma distância segura?

— Você está queimando em febre – foi a primeira coisa que ele conseguiu dizer quando percebeu que nada seria dito por ela.

Anahí sabia daquilo pois sentia os tremores tomarem conta de seu corpo, mas nada dizia porque o constrangimento era muito maior. Ela sequer olhava Alfonso nos olhos, e assim permaneceu, apenas assentindo e o sentindo descer da cama e sair do quarto.

Agora, sua respiração estava mais calma e ela conseguia raciocinar; o terrível pesadelo tinha prendido novamente todo o seu ser, fazendo-a ficar fora de controle, o controle que ela tanto lutou para conseguir, e quão tola ela tinha sido por ter esquecido e ignorado os remédios que auxiliavam seu sono, não deveria ter deixado um simples gesto estragar todo o seu auto controle, tinha regredido, e tudo o que ela menos queria era voltar para o fundo do poço de onde tinha saído com muita relutância.

Força de vontade, sim, quem sabe, houve uma época, onde todas as sessões de terapias e o olhar inconsolável de seu pai foram os gatilhos que a impulsionaram a dar um jeito em sua vida arruinada, e ela lutou tanto para alcançar aquela liberdade, o pavor tomava conta de si quando pensava a retornar para aquela derrota. Não, de modo algum ela podia permitir que seus joelhos relutantes recaíssem novamente, mas no momento sentia-se tão frágil e desprotegida. Olhando ao redor do quarto, percebeu o quanto aquele ambiente novo só piorava sua situação, não tinha medido bem as consequências antes de assinar aquele contrato e mudar toda a sua vida outra vez, deveria ocorrer tudo bem, ou não? Ela pensava que já estava devidamente curada, que seu passado cruel não mais interferiria em seu presente, e mais uma vez, tinha sido tola ao acreditar.

Diante dos fatos estapeando sua face, ainda tinha Alfonso quem sequer desconfiava da sua tormenta, mas que tinha acabado de presenciar sua fragilidade vergonhosa. Ele não merecia jamais, tinha se mostrado um homem tão gentil, o único a quem ela tinha esboçado um sorriso sincero desde o fatídico que arruinara sua vida, ele não merecia mesmo viver nada daquilo.

Derrotada e relutante, ela colocou os pés para fora da cama, levantando e caminhando em direção ao banheiro, precisava, definitivamente de um banho, de deixar a água molhar seu corpo e levar toda a sujeira que causava-lhe vergonha e asco. As imagens do terrivel pesadelo ainda estavam frescas em sua memória, enquanto se despia, permitiu fechar os olhos e só voltou a abrir quando o jato de água fervente molhava seus cabelos e sua pele.

Alfonso estava nervoso mas sabia que precisava conter as próprias emoções, não sabia bem o que dizer, quem sabe perguntar sobre o pesadelo? Questioná-la em busca de uma explicação? Mas ele não sentia-se no direito de invadir o espaço dela, então era melhor que nada fosse dito. Ele buscou na dispensa por algum remédio e um termômetro, Maria sempre organizava aquela caixa de primeiros socorros impecável e ele agradeceria depois, apanhou um copo com água e voltou a subir apressado as escadas em direção ao quarto, onde entrou e encontrou Anahí de roupão, próxima a cama, alinhando os fios de cabelo molhados entre os dedos.

O que ele temia acabou encontrando em seus olhos, estavam vermelhos e ela provavelmente estava relutante com o próprio choro. Presenciar aquilo foi como ter o próprio coração em destroços.

— Tome... – aproximou-se, estendendo o copo para ela e a cartela de remédios – Isso vai ajudar a baixar a febre.

Anahí direcionou o olhar para as mãos dele, queria agradecer mas sentia que se abrisse a boca para dizer algo, sem dúvidas alguma iria começar a chorar.

— Tome o remédio e depois venha deitar, eu trouxe um termômetro para avaliar sua temperatura – ele adiantou-se em dizer, observando-a medicar-se – Por sorte eu encontrei a caixa de primeiros socorros, e tenho certeza que amanhã você irá amanhecer melhor – caminhou até a cama, arrumando as cobertas e os travesseiros

Então ele não iria questioná-la? Anahí não conseguiu evitar questionar-se mentalmente quando o que mais temia era as perguntas que já esperava. Ele tinha direito, ou não? Diante de tantas dúvidas, era melhor deixar que o silêncio, por hora, reinasse.

— Venha, deite-se aqui. – Alfonso afastou as cobertas, vendo-a aproximar-se e entregar-lhe o copo vazio e a cartela de remédios, para em seguida deitar-se na cama – Eu vou até a cozinha e volto rápido para checar a sua temperatura – assegurou, ainda em uma distância segura

Ele tomou o silêncio dela como uma resposta positiva. Se ela nada dizia, ele menos ainda iria cobrar que se explicasse ou, quem sabe, o dissesse para sair e deixá-la sozinha.

Por hora, Anahí só precisava dormir de uma vez, encolhendo-se entre as cobertas, ela fechou os olhos, afastando a vontade súbita de chorar, e rogou que o sono viesse de uma vez.

Era melhor assim, que nada fosse dito, mesmo que tudo pudesse ser interpretado diante do silêncio cortante que pairava no ar.

Quando Alfonso retornou para o quarto, Anahí já dormia, e ele aproximou-se com cautela, sentando-se na cama, retirando o termômetro para suspirar em alívio, vendo que sua temperatura já se normalizava.

— O que fizeram com você, Anahí? – ele sussurrou, levando a mão até o rosto dela, tocando-a com delicadeza. Anahí permaneceu imóvel, agora sim dormia tranquilamente, sem resquícios de pesadelo algum – O que te fez mudar tanto assim...?

Era uma pergunta atormentadora para um Alfonso cheio de dúvidas e confuso. Onde estava aquela Anahí que ele havia conhecido no colegial, tão sorridente e radiante? Quem a tinha roubado de si mesma? Céus, ele estava tão ou mais agoniado do que antes, agora atormentado sobre o que poderia fazer para cuidar dela e ajudá-la com o que quer que fosse que tanto a machucava. Alfonso sentiu um instinto no peito aflorar, uma vontade de protegê-la de tudo. Foi naquele momento onde a tormenta o assolava, que ele se deu conta da proporção do que sentia por Anahí, não era apenas uma curiosidade por descobrir o porquê dela ter mudado tanto e ter se tornado quem era, o sentimento surgia ainda maior do que aquele que o Alfonso do colegial, o Alfonso ainda garoto sentia pela Anahí do colegial, convertia-se em algo muito maior, algo que ele próprio não podia controlar ou pesar qual era a proporção ideal. Ele só sentia e ponto. Não sabia administrar muito menos negar. Logo as letras foram formando a palavra que bem cabia naquele tsunami de emoções.

Amor.

Não era uma simples paixão de adolescente, ou uma mera curiosidade.
Era amor e ele já não podia mais negar.

Alfonso amava Anahí e estava disposto a tudo por aquele sentimento. A absolutamente tudo. Até mesmo arrancar dela aquilo que tanto a machucava, ferindo-a tão copiosamente, estava disposto a entregar-se de uma vez, nem que lhe custasse a própria alma. Ele a protegeria e iria demonstrar o que sentia, primeiro por ações. Ele iria amá-la até ser capaz de curar sua ferida, mas primeiro, precisaria descobrir o que era, e como ela havia chegado aquele ponto.

E como já dito, Alfonso Herrera estava disposto a tudo pela mulher que amava.


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