Capítulo 38

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— Por que nós estamos aqui, tia Any? Onde está o meu tio Poncho?

Não era a primeira pergunta que Samantha faria e muito provavelmente não seria a última, Anahí sabia disso. Por mais que tivesse respostas e pronta para distrair a menina tempo suficiente, ela não poderia simplesmente ignorar o fato de que apesar da pouca idade, ela era esperta demais para entender que aquele passeio com a tia deveria ter alguma explicação, principalmente pelo fato de que não era um fim de semana qualquer em que podiam passear livremente pelo central park, era um dia de semana normal, depois da manhã na escola Samantha estava acostumada a voltar para casa e encontrar com os pais por algum tempo até que um deles voltasse ao trabalho e ela ficasse com a babá, mas ali só estavam ela e Anahí, nem mesmo seu tio Alfonso, como ela mesma havia questionado, estava com elas. A criança esperta certamente não se conformaria com uma resposta qualquer.

— Veja, eu tenho a tarde toda livre hoje, estava com saudades de você. – Anahí sorriu para a garotinha, afastando alguns fios escuros da franja que quase cobriam seus olhos azuis idênticos aos do pai — O seu tio Alfonso não vem passear conosco hoje, mas pode ser que no fim de semana a gente volte com ele, o que acha?

— Mas no fim de semana eu venho com os meus pais – explicou naturalmente, um sorrisinho infantil surgindo no canto dos lábios. — Você e o tio Poncho podem vir também, a gente pode fazer um piquenique! – sugeriu, animada

Anahí sorriu para disfarçar o aperto que sentiu no peito e concordou silenciosamente, não queria desapontar a menina e precisaria de mais se quisesse distrai-la o suficiente para que ela não retornasse a questionar sobre os pais, a essa altura Nina e Ian já estariam decidindo qual seria o futuro deles dois, o que ela não conseguia nem imaginar o quanto seria difícil para a criança que estava bem ali a sua frente entender o que significava, era um assunto delicado, que teria que ser tratado com cautela e que não cabia a ela intervir.

— Sabe o que eu acho? – uma ideia repentina apontou em seu cérebro, e Anahí de imediato viu a animação surgir através dos olhinhos brilhantes — Deveríamos tomar um sorvete agora.

— Eu posso? – Samantha questionou, desconfiada. A mãe não costumava deixá-la ingerir tantos doces assim tão fácil, nem era Domingo, o dia que ela estava acostumada a poder escolher alguma guloseima. Anahí não evitou rir da careta divertida que a menina fazia diante daquela ideia.

— Hoje pode – assentiu, segurando a mão da pequena para que pudessem caminhar em direção ao carrinho mais à frente onde outras crianças aguardavam ansiosamente por seus sorvetes.

Serviu para afastar qualquer questionamento que a menina ainda certamente faria por um tempo, resolvendo acompanhá-la, Anahí escolheu junto com ela um sorvete de chocolate e Samantha pareceu ainda mais animada quando pôde optar por dois sabores diferentes de cobertura, logo elas decidiram caminhar em torno do lago, naquele horário o central park não estava tão cheio, com o sol através das árvores e o clima agradável elas poderiam permanecer mais algum tempo até que a menina estivesse cansada o suficiente e quisesse ir embora.

Duas horas mais tarde, Samantha manifestou seu desejo de ir embora e Anahí concordou, dirigindo de volta até a empresa onde encontraria com o marido para que pudessem ir embora juntos. O combinado era que Nina passaria para buscar a filha, mas após checar a última mensagem deixada pela amiga, Anahí soube que ela não tinha condições nenhuma para lidar com mais nada depois do dia que tivera, e não podia deixar de ficar triste por ela e pelo rumo que toda aquela história ainda tomaria, especialmente pela criança que ao seu lado estava tão alheia com o que acontecia na vida dos pais.

— Tio Poncho!

O entusiasmo da garotinha ao avistar o tio tirou Anahí dos próprios pensamentos, Samantha soltou de sua mão e não esperou nem mesmo que as portas do elevador abrissem de uma vez para sair correndo. Foi inevitável não sorrir ao visualizar a cena que já estava bastante acostumada, mas que sempre faria com que seu coração fosse aquecido, Alfonso lidando com crianças, especialmente com os sobrinhos que tanto o adoravam, era algo que ela nunca deixaria de apreciar.

𝙐𝙣𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙋𝙤𝙧 𝙐𝙢 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙧𝙖𝙩𝙤 Onde histórias criam vida. Descubra agora