Capítulo 52

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    • Sofia •
Sofia: Tô, só meu estômago que tá embrulhado.
Vinicius: Quer ir pra casa?
Sofia: Não.
Vinicius: Vou jogar uma água aqui pra gente ir. Lucas, vai abrindo o carro pra mim. - Ele nos entregou a chave e seguimos para a garagem. Me sentei no banco do carona, assim que o carro foi aberto e o Lucas segurou minha mão.
Lucas: Tá se sentindo melhor?
Sofia: Tô. Obrigada. - Escorei minha cabeça no assento.
Vinicius: Você vai comigo, Lucas?
Lucas: Não, eu tô de moto. Vou seguindo vocês. - Ele beijou a minha mão e depois fechou a porta. Assim que o Vini saiu da garagem, pegou na minha mão.
Vinicius: Tô morrendo de vergonha do que o pai te falou.
Sofia: Quem deve se sentir vergonha é ele, não você.
Vinicius: Mas mesmo assim. A mãe mandou um milhão de desculpas.
Sofia: Tá tudo bem, de verdade. Cada um tem a sua opinião, por mais absurda que seja.
Vinicius: Eu só queria que o pai fosse diferente. Ele não me aceita do jeito que eu sou, não aceita que as mulheres tenha voz na sociedade. Infelizmente​ meu pai é machista, homofóbico e sem caráter. Acho que eu não mereço um pai desses. - Me olhou triste.
Sofia: Ele que não merece um filho maravilhoso que nem você. - Beijei sua mão. Olhei pelo retrovisor e vi o Lucas atrás de nós.
Vinícius: Ele tá todo preocupado contigo. - Olhou para o retrovisor também. - Da uma chance pra ele, todo mundo erra, nem que seja ao menos uma vez na vida.
Sofia: Gostei da forma que ele falou com o teu pai e do jeito que cuidou de mim ali fora. - Sorri de lado. - O Lucas é o homem da minha vida!
Vinicius: Então, deixa o orgulho de lado e deixa o menino se explicar.
Sofia: Mas primeiro preciso ir ao médico. - Ele assentiu.
Assim que entramos na pizzaria e escolhemos uma mesa, tratei logo de chamar o garçom e fazer nosso pedido.
Vinicius: Parece uma morta de fome. - Gargalhei.
Sofia: Eu posso. - Olhei o cardápio mesmo já tendo feito o pedido.
Lucas: O Léo se comportou direitinho ontem?
Sofia: Se comportou. - Olhei pra ele. - O Léo é pequeno mas é uma ótima companhia. Tô me sentindo muito sozinha ultimamente naquela casa.
Lucas: Ele me disse que dormiu no meu lugar. - Sorri de lado.
Sofia: Por alguns minutos tive a sensação que era você ali.
Vinicius: Que amor! - Senti meu rosto esquentar, então desviei meus olhos dos do Lucas.
Lucas: Eu saí da loja. - Voltei a olhá-lo. Sofia: De verdade? - Ele assentiu.
Lucas: Pedi demissão naquele mesmo dia. Na verdade eu não pedi, eu fui colocado pra rua. Eu fui atrás de você e a Gláucia disse que se eu saísse da loja eu estava no olho da rua. E aqui estou eu! - Sorri. Ele me escolheu! Meu coração apaixonado deu cambalhotas no peito.
Sofia: Você tá parado agora?
Lucas: Tô fazendo uns bicos por aí, até conseguir um emprego fixo.
Sofia: Posso falar com o pai, vai abrir uma vaga na lanchonete agora. Se você quiser, pode ser tua.
Lucas: Quero. - Sorriu largo. A lanchonete já tem​ o tanto se funcionais suficientes, mas ser a filha do dono faz com que eu consiga uma vaga pra ele. Também é o mínimo que eu poderia fazer, ele perdeu o emprego pra me procurar e convenhamos que eu vou adorar vê-lo o dia todo.
Sofia: Amanhã eu falo com o pai direitinho e depois ele te liga.
Lucas: Obrigado. - Sorriu lindamente.
Vinicius: Vamos beber o quê?
Lucas: Que tal uma cerveja?
Sofia: Eu quero um suco.
Lucas: De melancia. - Sorri.
Sofia: Sim. - O Vini chamou o garçom e pediu duas cervejas e o meu suco. - Não bebam muito, vocês estão dirigindo.
Vinicius: É só uma. - Me abraçou de lado.
Quando as pizzas ficaram prontas eu fui a primeira a atacar. A nossa noite foi bem agradável e divertida. Por algum tempo consegui esquecer a traição do Lucas e conversamos normalmente, mas claro, que vira e mexe ele me jogava uma cantada ou falava algo que​ eu me derretia toda.
(...)
Hoje é a minha consulta, eu tô uma pilha de nervos, minhas mãos estão suando e meu coração disparado. Mas eu não estou sozinha nessa, meus pais estão aqui comigo, do meu lado, segurando a minha mão.
Quando a enfermeira chamou meu nome, ficamos de pé e seguimos para a sala do Dr Tiago. Eu já fiz um exame de sangue na semana passada, então agora iremos começar o pré-natal. Ele me explicou algumas coisas, mediu a minha pressão e depois seguimos para o ultrassom.
Quando um borrão apareceu na tela instantemente me emocionei, e eu achando que eu não ia ficar assim. Tola que eu fui. Minha mãe segurou a minha mão e o pai me deu um sorriso emocionado.
Tiago: Seu bebezinho está crescendo rápido. - Sorriu pra mim. - Você tem ideia de quantos meses está?
Sofia: Acho que três.
Tiago: Daqui alguns dias você já vai entrar para o quarto mês. - Minha garganta fechou. Pelo tempo de gestação significa que o filho é do Gabriel. Meu choro veio com força total.
Suzana: Não fica assim filha. - Beijou minha mão.
Tiago: Eu sei o que aconteceu com você, eu te vi no hospital. - Me olhou de um jeito doce. - Eu sinto muito que essa criança tenha sido gerada dessa forma.
Sofia: Eu tomei a pílula do dia seguinte, não era pra isso acontecer.
Tiago: A pílula não é 100% confiável e você foi violentada dois dias, então no dia em que você não tomou ouve a fecundação. - Soltei a mão da mãe e tampei meu rosto com as mãos. Isso não pode tá acontecendo! - Posso te dar um conselho? - Assenti com a cabeça e tirei as mãos do rosto. - Não tira a criança, ela não tem culpa do que te aconteceu. Também não olha para ela de um jeito diferente, nem a odeie por algo que ela não foi a culpada. Essa criança veio por algum motivo, nada acontece sem que Deus queira. Talvez essa criança veio parar dentro de você pra te trazer alegria e dá um novo sentido na tua vida. Pensa nisso! Eu posso imaginar o quão difícil tá sendo pra você, mas ele é só um anjinho e não deve pagar o preço de algo que ele nem fez. Quando a dor bater não pensa no monstro que te violentou, pensa no teu filho. Acima de qualquer coisa ele vai ser sempre teu filho.
Sofia: Você tá certo. Obrigada. - Sorri de lado. - Você disse tudo o que eu precisava ouvir. - As palavras do Dr Tiago me ajudaram e muito. Ele tá certo, esse serzinho não merece ser odiado por causa do Gabriel. Ele é meu filho, só meu e vai ser pra sempre assim! Eu sei que eu vou ama-lo com todo o meu coração, e ele será a minha vida de agora em diante. Olhei para os meus pais e eles estavam tão emocionados quanto eu. - Obrigada mais uma vez.
Tiago: Eu nem deveria ter falado isso tudo, é só que eu não consigo ficar quieto. Se eu posso ajudar alguém com as minhas palavras, porque não ajudar?
Nícolas: O mundo precisa de mais médicos e pessoas iguais a você. Obrigado pelas palavras.
Tiago: Eu que agradeço. - Me olhou. - Já dá pra ver o sexo do bebê. Você quer saber ou vai deixar pra descobrir na hora do parto?
Sofia: Não, eu quero saber agora. - Sorri.
Tiago: Alguma preferência?
Sofia: Não.
Nícolas: Ah, meu Deus! Tô nervoso. - Ri.
Suzana: Ele ficou desse mesmo jeito quando fomos descobrir o que você era. - Me olhou.
Tiago: A mocinha vai ter um vovô muito babão pelo jeito. Parabéns, é uma menina! - Sorri largo.
Nícolas: É a menina do vovô. - Me emocionei ainda mais. - Parabéns filha. - Me abraçou.
Sofia: Obrigada. - Recebi seu beijo na testa e logo em seguida o abraço da mãe.
Suzana: Mais uma mulher na família.
Sofia: Tem como tirar uma cópia do ultrassom? Pode ser só uma foto.
Tiago: Claro. - Olhei para a tela do computador e lembrei do Lucas, esse era o sonho dele.
Saímos do consultório sorrindo, mas meus olhos ainda estavam cheios d'água. Minha filha merecia ter um pai melhor, mas se Deus quis assim é porque Ele tem um plano muito maior pra mim e pra essa criança.
Assim que colocamos os pés na calçada avistei a Karina saindo do hospital, assim que ela nos viu atravessou a rua e veio me abraçar.
Karina: Que saudade de você. - Me apertou. - Você terminou com o Lucas, não com o resto da família.
Sofia: Desculpa, é que não tem sido dias muito fáceis. - Ela me soltou e foi abraçar meus pais.
Karina: Foi impressão minha ou você saiu do consultório do Dr Tiago?
Sofia: Não foi impressão, eu saí dali.
Karina: Ele é obstetra, o que você tava fazendo ali? - Levantei a pasta com o ultrassom. - Ah meu Deus! - Pulou. - Você tá grávida? Eu vou ser avó! - Me abraçou chorando. - Obrigada. Eu sonhei tanto com isso.
Sofia: Será que a gente pode conversar em outro lugar? - Sai dos seus braços.
Karina: Claro. Eu tô indo tomar um café, vem comigo.
Sofia: Vocês vão? - Olhei para os meus pais.
Suzana: Você precisa ter essa conversa sozinha. Eu e o teu pai vamos estar aqui te esperando. - Beijou minha testa.
Nícolas: Seja forte. - Me abraçou. Eu e a Karina atrasamos a rua e fomos a uma pequena lanchonete. Escolhemos uma mesa afastada e sentamos frente a frente. Ela pediu um café e eu uma água.
Karina: O Lucas vai surtar quando você contar. Você tá de quantos meses?
Sofia: Não é do Lucas, Karina. - Seu sorriso murchou. - Infelizmente o pai é o Gabriel.
Karina: Eu sinto muito. - Pegou a minha mão por cima da mesa. - Mesmo que não seja do Lucas você vai poder contar comigo e com a minha família, que também é sua. - Meus olhos marejaram. - Essa criança vai ser meu neto, mesmo que não seja de sangue. Eu tô tão feliz! Obrigada por realizar meu sonho! - Comecei a chorar, me levantei, dei a volta na mesa e a abracei.
Sofia: Obrigada. - Deitei minha cabeça em seu ombro. - Você vai ser uma vó maravilhosa.
Karina: O Paulinho e os meninos vão ficar loucos. - Desfiz nosso abraço e vi que ela também chorava. - Já da pra ver? - Assenti. Levantei um pouco a minha blusa e suas mãos voaram pra minha barriga. - Neném da vovó. - Só Deus sabe a felicidade que eu tô sentindo. Eu nunca imaginei que a Karina fosse ter essa atitude. Eu queria agradecer mas a emoção não deixa. - Já sabe o que é? Você tá de quantos meses?
Sofia: Entrando no 4°. É uma menina!
Karina: Ah meu Deus! Até que enfim uma menina naquela casa. - Me abraçou de novo. - Minha neta. Já consigo imaginar os chiliques que os meninos vão dar por conta de ciúmes da menina.
Sofia: Imagina a felicidade do Léo e do Lê. - Sorri.
Karina: Você vai contar para o Lucas, não vai?
Sofia: Vou, só não sei quando, nem como. - Voltei para o meu lugar, mexi na pastinha e peguei uma das cópias do ultrassom. - Pra você.
Karina: Minha netinha. - Passou a mão sobre a foto. - Obrigada.
Sofia: Mostra para o Seu Paulinho.
Karina: Vou mostrar. Essa foto vai andar comigo pra cima e pra baixo. Já pensou nos nomes?
Sofia: Não.
Karina: Quando você for comprar as coisas pra ela, você me​ diz por que eu quero participar de tudo.
Sofia: Minha filha vai ser uma menina de sorte, vai ter os melhores avós do mundo.
Karina: Não me faz chorar de novo. - Riu, mesmo estando com os olhos cheios de lágrimas.
Sofia: Obrigada pelo apoio, eu confesso que não esperava por isso.
Karina: Família é pra isso Sô, um apóia o outro. Eu te amo e vou amar muito a tua filha, assim como os meninos também vão. A família não tá no laço de sangue, mas sim no coração. O coração é quem manda em tudo. - Nos abraçamos sobre a mesa e chorei em seu ombro.

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