Capítulo 5

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• Lucas •
Ela sorriu tímida e voltou a comer. Vez ou outra eu e a olhava de rabo de olho, e isso a fazia sorrir. Quando terminamos de comer arrumei a mesa e comecei a lavar a louça, mesmo eu protestando a Sofia me ajudou.
Lucas: Quer dormir aqui hoje? - Perguntei assim que terminamos a louça.
Sofia: Quero. - Confesso que me surpreendi com sua resposta.
Lucas: Vou arrumar o meu quarto pra você, vem. - Estendi a mão em sua direção e ela pegou. Gostei da textura das suas mãos pequenas nas minhas. Seguimos para o meu quarto, assim que abrir a porta soltei nossas mãos e fui arrumando a cama, enquanto ela olhava tudo atentamente.
Sofia: Você ainda tem essa foto? - Olhei para o lado da cama e vi que ela segurava um porta retrato onde tinha uma foto nossa, ainda criança.
Lucas: Tenho. - Sorri.
Sofia: Tínhamos quantos anos aqui?
Lucas: Você cinco e eu seis, se não me engano. - Ela sorria largo. Terminei de estender o edredom na cama e me sentei.
Sofia: Você era tão fofinho. - Passou o dedo pela foto e se sentou ao meu lado. - Olha essa carinha gostosa.
Lucas: Eu era bonitinho mesmo. - Ri. - Já você não mudou muita coisa.
Sofia: A diferença é que aqui eu era mais magrinha e era muito feliz.
Lucas: Você não é feliz agora? - Negou.
Sofia: Nesse tempo a gente não se desgrudava por nada.
Lucas: Você era a minha melhor amiga.
Sofia: E você o meu. - Me olhou. - Eu lembro que você sempre cuidava de mim na escola.
Lucas: Às vezes a mãe até brigava comigo por eu te proteger tanto. Já a tua mãe, sempre me elogiava e dizia que eu fazia um ótimo trabalho.
Sofia: Sinto falta da tua amizade e dos teus cuidados comigo. - Me olhou.
Lucas: Você só perdeu isso tudo porque se afastou de mim.
Sofia: Não fiz isso porque eu quis. - Voltou a olhar pra foto. - Eu estava assustada e com medo, e não queria que acontecesse o mesmo com você.
Lucas: O que aconteceu?
Sofia: Não quero falar disso. - Suspirou. - É melhor você não saber. - Voltou a me olhar. - Eu só quero o seu bem! - Levou uma das mãos até o meu rosto e fez carinho​.
Lucas: Se abre comigo.
Sofia: Não posso. - Falou tirando a mão do meu rosto e colocando o porta retrato no mesmo lugar.
Lucas: Todos os dias quando acordo e antes de dormir eu olho pra essa foto, e sempre te desejo "boa noite" e "bom dia". Queria te ter por perto de novo.
Sofia: Infelizmente não dá. - Se encostou na cabeceira da cama e olhou para o nada. - Obrigada por ter cuidado de mim hoje.
Lucas: Só fiz o meu dever, mesmo que você não queira eu ainda vou ser seu amigo.
Sofia: Você ainda continua sendo teimoso. - Riu.
Lucas: Nunca vou deixar de ser. - Me levantei da cama. - Boa noite.
Sofia: Você vai dormir onde?
Lucas: Com o Léo.
Sofia: Dorme aqui, eu fico na sala.
Lucas: Claro que não.
Sofia: Então faz uma cama no chão pra mim.
Lucas: Eu faço, mas quem vai dormir no chão vai ser eu. E não adianta protestar!
Sofia: OK, senhor teimosia. - Gargalhei. - Vou te ajudar. - Ela saiu da cama também e improvisamos uma cama com cobertores e edredons. - Tem certeza que não quer dormir aqui?
Lucas: Tenho. - Deitei na minha cama no chão e olhei pra ela, que já estava deitada também. - Você não quer mesmo falar porque estava chorando?
Sofia: Não.
Lucas: Não vou mais insistir, prometo. - Por mais curioso que eu esteja pra saber o que aconteceu eu não vou força-la a dizer. Mas que eu vou descobrir o que aquele nojento do Gabriel fez, eu vou. Ah, se vou.
Sofia: Teus irmãos estão com quantos anos? - Perguntou um tempo depois.
Lucas: O Zoca tem dezessete e o Léo seis.
Sofia: Eu lembro quando o Leandro era pequenininho e eu você ensinava ele a brincar de pega-pega e esconde-esconde.
Lucas: Eu também lembro. - Deitei de lado. - O Leandro te adorava.
Sofia: E você morria de ciúmes por isso.
Lucas: Verdade. Eu tinha medo que ele roubasse minha melhor amiga.
Sofia: Eu sempre pensei que você não lembrava da nossa infância.
Lucas: Lembro e muito. Tanto é que guardo nossa foto até hoje. - Ela sorriu e consequentemente eu sorri também. - Posso perguntar uma coisa?
Sofia: Pode, mas dependendo do que for eu não respondo.
Lucas: Por onde anda a tua mãe? Faz anos que eu não a vejo.
Sofia: Mãe. - Riu pelo nariz. - Nem sei se ela pode ser considerada mãe. Ela tá viajando.
Lucas: Pra onde? - Ela deu de ombros.
Sofia: Não sei.
Lucas: Ela não manda notícias nem nada? A última vez que eu vi ela, eu tinha uns dez anos. Foi tudo muito estranho, primeiro você se afastou de todo mundo e depois a tua mãe sumiu. Ninguém entende isso.
Sofia: Não tem nada de estranho nisso, Lucas.
Lucas: Tem sim. Isso tudo aconteceu depois que a tua mãe se casou com o Gabriel, ele está por trás disso tudo, não tá?
Sofia: A mãe fez as escolhas dela, se ela sumiu foi porque quis. Ela sabia muito bem o que iria acontecer, e sabia também quem o Gabriel era. O que mais me dá raiva nisso tudo é que quem paga o preço das burradas dela sou eu. A Bárbara conseguiu se safar, já eu não. Como sempre quem se machuca sou eu, e quem paga por algo que não fez sou eu também. Eu nasci pra ser apedrejada, e pra ser crucificada. Eu vou pagar pelos erros da Suzana o resto da minha vida. - Suas palavras fizeram meu coração doer. Eu não consigo pensar, só consigo imaginar o quanto a Sofia sofre pelos erros da mãe.
Lucas: O Gabriel é uma pessoa ruim, não é? Ele te bate? - Essas foram as únicas perguntas que consegui elaborar.
Sofia: Só vou te dar um conselho, não revira essa história e não bate de frente com o Gabriel, você pode se machucar e me machucar também. Eu já estou acostumada com isso, já você não.
Lucas: Ele te bate, não é? - Me sentei.
Sofia: Não. - Desviou os olhos dos meus. - Por favor não fala pra ninguém que eu estive aqui, e peça pra Karina não falar nada também. Fique o mais longe possível de mim e da minha casa. Eu falo isso para o seu próprio bem, não quero que aconteça com você o mesmo que acontece comigo. - Virou para o outro lado suspirando. - Dorme bem, Lucas.
Como ela quer que eu durma depois de ouvir isso tudo? Agora mais do que nunca eu quero descobrir o que o Gabriel faz com ela. Eu posso me machucar, mas eu vou acabar com o desgraçado do Gabriel, a Sofia tem medo dele, eu não.
Eu vou tirá-la daquele inferno que ela vive, nem que isso seja a última coisa que eu faça na vida.

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