Capítulo 3

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•Lucas•
A Sofia passou a aula toda tensa. Até mesmo quando desviei a atenção dela, conseguia sentir sua tensão. É nítido o seu desconforto.
Quando a aula acabou, a Sofia ficou diferente, me parecia mais leve. Ela saiu da sala e aproveitei que o Vinícius está sozinho e sentei do seu lado.
Lucas: O que a Sofia têm?
Vinicius: Não sei. Você também notou que ela estava diferente?
Lucas: Notei. Tem alguma coisa nesse Danilo que deixa ela assim.
Vinicius: Já notei isso também. - Me olhou. - Você sabia que ele é irmão do Gabriel?
Lucas: O padrasto da Sofia?
Vinicius: Sim.
Lucas: Então é por isso que ele tá lá na casa dela quase todo dia.
Vinicius: Você mora perto dela?
Lucas: Ela mora na casa de frente pra minha. Você não sabia?
Vinicius: Não. A Sofia quase não fala sobre a família ou onde mora.
Lucas: Isso é muito estranho. - Olhei pra porta. - Onde ela foi?
Vinicius: Beber água. Você também acha que tem alguma coisa de errado com ela?
Lucas: Tenho quase certeza. - Apoiei o queixo em uma das mãos. - Ainda não sei o que é, mas eu vou descobrir.
Vinicius: Vamos, você quis dizer.
Lucas: Vou atrás dela.
Vinicius: Vou junto. - Enquanto saiamos da sala contei a ele sobre os barulhos que escuto durante a noite e contei também sobre como o padrasto trata a Sofia. - Você acha que ele faz alguma coisa contra ela?
Lucas: Não sei. O mais louco nisso tudo é que só eu escuto essas coisas.
Vinicius: Vou tentar tirar alguma coisa dela. - Seguimos para o corredor que ficava os bebedouros, mas um soluço fez com que eu e o Vinicius voltasse um dos corredores e visse o Danilo segurando os cabelos da Sofia.
Lucas: Solta ela! - Esbravejei e o imbecil riu. - Eu já mandei você soltar! - Puxei-o pela gola da camisa e joguei-o para longe da Sofia, que chorava desesperadamente​.
Vinicius: Fica calma! - Abraçou a amiga.
Lucas: O que você estava fazendo pra ela? - Puxei-o novamente e joguei seu corpo contra a parede.
Danilo: Virou defensor agora, Lucas? - Empurrei meu braço contra seu pescoço e apertei. Por ser horário de aula não tinha quase ninguém nos corredores.
Lucas: Me responde! - Falei entre dentes.
Danilo: Eu só estava conversando com a minha sobrinha querida.
Sofia: Solta ele Lucas. Por favor. - Virei meu rosto e vi desespero em seus olhos.
Danilo: Você é bolsista, posso acabar com seu sonho da faculdade em dois tempos. - Ah como eu odeio esse cara!
Vinicius: Não vale a pena você perder a bolsa por causa desse verme. - Soltei o Danilo e ele cambaleou.
Lucas: Te some daqui.
Danilo: Eu vou. - Sorriu cínico. - Só não esquece de dar o recado pro meu irmão. - Olhou para Sofia com deboche e saiu dali.
Lucas: Ele te machucou? - Toquei o rosto da Sofia, que ainda estava abraçada com o Vinícius.
Sofia: Não. - Ela tremia.
Vinicius: Fica calma. - Tocou os cabelos dela, e com o movimento dos fios vi um filete de sangue escorrer da nuca.
Lucas: Tem sangue na sua nuca. Vamos limpar isso. - Tirei minha camisa e passei onde o sangue escorria. - Vai lá pegar um pouco de água pra ela. - Olhei para o Vinícius.
Vinicius: Eu já volto. - Puxei a Sofia para os meus braços e entramos uma das salas vazias. Ela se sentou em uma das mesas e eu continuei limpando a sua nuca.
Lucas: Tá doendo muito?
Sofia: Só um pouco. Obrigada por me defender. - Olhei em seus olhos.
Lucas: Não precisa agradecer. - Fiz carinho em seu rosto. Tirei a minha camisa da nuca dela e vi que não corria mais sangue. - Não tá mais sangrando.
Vinicius: Pega Soso. - Entrou na sala com dois copos de água nas mãos. - Machucou muito?
Lucas: Mais ou menos, só alguns fios arrancados.
Vinicius: É por isso que você tem medo dele né? - Olhamos pra Sofia.
Sofia: Eu não tenho medo dele. - Engoliu seco. - O Danilo nunca tinha encostado em mim antes. - Tomou os dois copos dágua em um piscar de olhos.
Vinicius: Qual é o recado que ele mandou para o teu padrasto?
Sofia: Nenhum.
Lucas: Não mente Sofia.
Sofia: Não tô mentindo. - Desceu da mesa. - A gente precisa voltar pra sala. - Peguei em seu braço.
Lucas: Eu ainda vou descobrir o que você esconde.
Sofia: Eu não escondo nada. - Soltei ela, que saiu da sala praticamente correndo.
Vinicius: Ela mente muito mal.
Lucas: Fica de olho nela, você fica mais tempo perto dela do que eu.
Vinicius: Pode deixar.
Lucas: Volta pra sala.Eu vou lavar a minha camisa no banheiro e já vou pra lá também.

•Sofia•
Durante o restante da noite o Vinícius não saiu do meu lado e o tempo todo perguntava como eu estava.
Gosto muito dessa preocupação dele comigo, mas tenho medo que algo aconteça com ele. Agora terei que me afastar tanto do Vini, quanto do Lucas.
Quando as aulas acabaram arrumei os cadernos e as apostilas na mochila e sai da sala.
Vinicius: Me espera. - Correu e parou do meu lado. - Vou te levar no ponto de ônibus.
Sofia: Não precisa Vini, tô acostumada a ir sozinha.
Vinícius: Eu sei, mas hoje quero te fazer companhia. - Passou um dos braços pelos meus ombros, tentei sair do abraço mas ele não deixou. Seguimos assim pelos corredores e quando saímos do campus o Danilo passou de moto por nós e me encarou.
Danilo: Até amanhã, sobrinha. - Um arrepio correu minha espinha e involuntariamente me encostei ainda mais no Vinícius. Quando ele viu como eu fiquei, seguiu seu carinho rindo.
Vinicius: Se isso não é ter medo, então eu não sei o que é.
Sofia: Eu só fiquei assustada, eu não vi que ele estava vindo.
Vinicius: Até quando você vai continuar mentindo, Sofia?
Sofia: Eu não tô mentindo. - Levantei meu rosto. - Não se mete mais com o Danilo, por favor.
Vinicius: Por que?
Sofia: Eu só não quero que você arrume confusão. - Suspirei.
Vinicius: Eu vou mexer com ele quantas vezes for preciso, eu não vou admitir que ele te agrida como hoje.
Sofia: Ele não me agrediu. - O Vinícius bufou.
Vinicius: Você vai defender ele até quando? - Abri a boca mas ele me cortou. - Nem pense em dizer que você não está defendendo aquele homem nojento, porque é nítido que esta. Se você tem medo dele eu não tenho. E vou bater de frente com aquele verme quantas vezes for preciso.
Sofia: Não faz isso. - Comecei a chorar. - Eu não vou me perdoar se alguma coisa ruim acontecer com você! - Abracei ainda mais forte o Vini.
Vinicius: É por isso que você tem medo dele não é?
Sofia: É. Não mexe com o Danilo, por favor.
Vinicius: Não te prometo nada. - Enxugou minhas lágrimas e beijou minha testa. - Agora não vamos mais falar nele. - Voltamos a caminhar, e dessa vez não trocamos uma palavra sequer.

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