• Lucas •
Lucas: Como assim? - Ela negou com a cabeça.
Sofia: Qual o teu sonho? - Trocou de assunto.
Lucas: Ter um filho.
Sofia: Sério?
Lucas: Uhum. Meu sonho é ter vários filhos, talvez sete. - Ela riu.
Sofia: Que exagero. Vou ter pena da tua mulher.
Lucas: Coitada nada. - Passei meus dedos por sua testa. - Você gosta de fazer Publicidade?
Sofia: Não. Só faço porque o Gabriel me obrigou a escolher esse curso, ele só quer saber do dinheiro que um dia poderei ganhar.
Lucas: Que curso você queria fazer?
Sofia: Pedagogia. Eu sei que é uma profissão pouco valorizada no nosso país mas eu realmente queria ser Professora.
Lucas: Você seria uma ótima professora. - Beijei sua testa. - As crianças iam ficar cheias de amor com uma professora tão doce quanto você.
Sofia: Você é um amor sabia? - Olhou nos meus olhos.
Lucas: Eu tento ser. - Ri. - A tua relação com a Bárbara, como está indo?
Sofia: Ela está melhor nas últimas semanas, mas ainda tenho um pé atrás. Principalmente depois de ontem.
Lucas: O que aconteceu ontem?
Sofia: Eu fui tomar banho, mas esqueci de pegar a toalha então voltei para o meu quarto pra pegar uma, e quando eu entrei lá encontrei a Bárbara vasculhando as minhas coisas. Em cinco minutos ela deixou meu quarto de pernas para o ar.
Lucas: O que será que ela tava procurando?
Sofia: Diz ela que era uma roupa minha, mas eu sei que é mentira porque minhas roupas não servem nela.
Lucas: Talvez ela tenha feito isso a mandado do Gabriel.
Sofia: Já pensei nisso também, mas não faz sentido. Eu não tenho nada que o Gabriel possa querer.
Lucas: O que pra você não é nada, talvez pra ele seja motivos de desespero. Toma mais cuidado, ele é traiçoeiro pode está se preparando pra dar o bote.
Sofia: Essa tranquilidade dele não é toa, eu conheço o Gabriel e sei que tem alguma coisa por trás dessa "bondade".
Lucas: Fica esperta e qualquer coisa você corre lá pra casa ou me chama.
Sofia: Obrigada.
Lucas: E os seus machucados?
Sofia: O das costas?
Lucas: É.
Sofia: Estão todos cicatrizados. A Mafalda me deu uma pomada boa e três dias tudo cicatrizou.
Lucas: Falando nela, você notou que ela não apareceu essa semana pela faculdade?
Sofia: Eu não tinha notado. Será que ela tá doente?
Lucas: Não sei.
Sofia: Eu tenho o número dela, mais tarde vou ligar.
Lucas: Faz isso. - Tirei minha mão do seu cabelo e apoiei no chão. - Tô pensando em sair de casa. - Olhei para o céu
Sofia: Porque? - Saiu do meu colo e se sentou de frente pra mim.
Lucas: Quero ter a minha própria vida, ser independente. Tô cansado de ficar em baixo das asas dos meus pais.
Sofia: Queria estar no seu lugar.
Lucas: É só vim comigo, podemos morar junto.
Sofia: Seria maluquice isso.
Lucas: Não seria não. Você quer sair de casa mas não consegue enfrentar o Gabriel sozinha, eu posso te ajudar, enquanto eu estiver do seu lado ele não pode fazer nada. E em troca você me dá sua companhia e me ajuda nas despesa da casa. - Nem tudo o que eu disse é verdade, eu não me incomodo nenhum pouco em morar com meus pais, mas meu principal objetivo é tirá-la das garras daquele monstro. Eu faço qualquer coisa pra ver a Sofia livre, até mesmo trocar a minha vida pela dela.
Sofia: Vou pensar. - Sorri largo.
Lucas: Pensa com carinho. - Beijei sua bochecha demoradamente. - Vamos tomar sorvete?
Sofia: Vamos. - Me levantei primeiro e estendi as mãos pra ela, que pegou de prontidão. Assim que ela ficou de pé, passei um dos meus braços por sua cintura e começamos a caminhar. No caminho encontramos um senhor com um carrinho de picolé, comprei dois e voltamos a andar. - Gosto de andar pela grama, da uma sensação gostosa.
Lucas: Eu gosto do cheiro de grama recém cortada.
Sofia: Também gosto. - Sorriu. - Temos gostos muito parecidos. - Ficamos por ali até o sol começar a se pôr. Seguimos para a casa ouvindo música, vez ou outra a Sô cantarolava e me arrancava sorrisos. Até sua voz desafinada me encanta. - Obrigada pelo passeio. - Beijou meu rosto, assim que chegamos na minha casa e descemos do carro.
Lucas: Eu que agradeço. - Peguei em suas mãos.
Sofia: Preciso ir. - Reprimiu um lábio no outro. Me curvei e beijei o canto da sua boca.
Lucas: Fica com Deus. - Ela sorriu soltando as minhas mãos, enquanto ela atravessava a rua eu fiquei observando-a. Como ela consegue ser tão bonita e tão incrível ao mesmo tempo?
Quase dois meses se passaram e cada dia que passa o Gabriel fica mais estranho, nos últimos dias nem na frente de casa ele vai mais. A Bárbara anda me sondando, me fazendo perguntas sobre o Lucas, sobre com quem eu converso na faculdade, tá tudo muito estranho. O Danilo nem aqui em casa vem mais, não estou reclamando, isso tá sendo uma benção.
Por um milagre Divino faz dois meses que não sofro abuso nenhum e nem sou agredida. Todos os dias antes de dormir agradeço a Deus por esse milagre.
Nessa semanas que passaram eu, o Lucas e o Vinicius estamos ainda mais unidos, nossa amizade se fortalece a cada dia. Além deles agora tenho a Mafalda, todos os dias antes de ir para as aulas passo na enfermaria pra falar com ela. E hoje não seria diferente.
Mafalda: Como estão as coisas na sua casa?
Sofia: Continua do mesmo jeito que te falei. - Me sentei na maca.
Mafalda: Você deveria ter denunciado seu padrasto naquela última agressão.
Sofia: Eu sei. Mas agora é melhor deixar pra lá, isso não está mais acontecendo então é melhor deixar no passado. - Suspirou audível.
Mafalda: Se acontecer qualquer coisa você promete me contar? - Me olhou nos olhos.
Sofia: Prometo. Ontem tive a impressão que tinha alguém me seguindo. Isso é a única coisa diferente que aconteceu.
Mafalda: Faz bem em me contar. Você viu alguém?
Sofia: Não, mas senti. Hoje também aconteceu a mesma coisa.
Mafalda: Você precisa tomar cuidado. - Segurou minha mão.
Sofia: Eu tô tomando. - Pulei da maca. - Preciso ir pra aula agora.
Mafalda: Boa aula. - Beijou minha testa e fez o sinal da cruz na mesma. - Que Deus proteja você!
Sofia: Amém. - Sorri. - Amanhã venho aqui de novo.
Mafalda: Vou ficar te esperando. - Me abraçou. - Dá um beijo nos meninos por mim.
Sofia: Hoje não vai dar, nenhum dos dois veio. - Coloquei a mochila nas costas.
Mafalda: Aconteceu alguma coisa com eles?
Sofia: O Vini tá doente e o Lucas eu não sei o que tem.
Mafalda: Se tiver alguma notícia deles me fala.
Sofia: Pode deixar. Tchau. - Abri a porta.
Mafalda: Tchau pimpolhinho. - Parei na porta e olhei pra ela. Essa palavra fez meu coração esquentar.
Sofia: Pimpolhinho. - Repeti a palavra. - A Suzana me chamava assim quando eu era pequena.
Mafalda: Quem é Suzana? - Perguntou enquanto virava de costas pra mim e ia arrumar o armário de remédios.
Sofia: Minha mãe. Eu preciso ir. - Sai dali enquanto aquela palavra rodeava minha mente. Faz anos que não ouço essa palavra. Quando passei pelo corredor senti meu corpo ser jogado contra uma parede de concreto e logo em seguida o Danilo aparecer na minha frente.
Danilo: O que você tava fazendo na sala da Mafalda? - Sua voz saiu rude, como de costume. - Responde!
Sofia: Fui pedir um remédio pra dor de cabeça. - Menti.
Danilo: Não mente pra mim. - Falou entre dentes. - Você vai pra lá todos os dias, se eu souber que você abriu o bico, eu mato você e os seus amiguinhos, tá me entendendo?
Sofia: Tô. - Respondi em um sussurro. Estava tudo muito bom pra ser verdade. Eu sabia que o Danilo não me deixaria em paz pra sempre.
Danilo: Acho bom. Fica esperta garota! - Ele saiu andando como se nada tivesse acontecido, enquanto eu tentava regular minha respiração. Tudo de novo não. Respirei fundo inúmeras vezes, quando me senti mais tranquila segui pra sala de aula e pra minha infelicidade é aula com o monstro do Danilo. Pra piorar tudo ainda mais, hoje estou sozinha. Justo hoje meus Defensores resolveram faltar. Decidi não me sentar na frente, não vou conseguir ficar muito perto do Danilo sem a proteção dos meninos, então me sentei em uma das últimas mesas vazias.
Danilo: Todos acomodados? - Quem vê ele em sala de aula, todo atencioso e sorridente com os alunos, nem imagina o monstro que ele é fora daqui. - Quero que façam uma campanha publicitária, vou dividir a sala em grupos e falar o tema de cada um. - Escutei atenta enquanto ele falava os nomes e o assunto da campanha. O primeiro grupo ficou com Racismo, o segundo Homofobia, o terceiro com diferença na classe social, e assim seguiu. - O último grupo vai ser formado pela Sofia, Lucas e Vinícius. - Me olhou. - O tema de vocês vai ser Abuso Sexual, quero que o trabalho seja bem realista. - Deu uma risadinha no final. - Para alguns aqui da sala não vai ser tão difícil falar sobre alguns assuntos. - Como eu odeio esse homem. Por que justo esse tema pra mim? Se já não bastasse o que eu sofria na mão dele e do Gabriel, agora vou me expor e falar sobre algo que aconteceu comigo. Tudo bem que ninguém sabe, mas mesmo assim me sinto humilhada. E mais uma vez o Danilo conseguiu o que queria.
(...)
Saí do campus da faculdade e segui para o ponto de ônibus, em poucos minutos o ônibus chegou. Fui para o meu lugar de sempre, encontrei minha cabeça na janela, fechei meus olhos e acabei cochilando. Por esse motivo acabei parando dois pontos depois do meu. Hoje não é o meu dia!
Por aqui as ruas são mais escuras e desertas também, e isso faz com que o medo corra pelas minhas veias. Isso tudo piora quando sinto que estou sendo observada.
Vez ou outra eu olhava pra trás, a sensação de ser perseguida está cada vez mais intensa. Em uma dessas olhadas para trás vi que um homem andava atrás de mim e me olhava de um jeito assustador. Que Deus me ajude!
Acelerei o passo e para o meu desespero ele fez o mesmo. Praticamente corri pelas ruas, só parei quando vi um policial fazendo rondas por ali. Apertei o passo e fui até o homem.
Sofia: Com licença. - Minha voz saiu falha assim como minha respiração.
Policial: Tá tudo bem, moça? - Assenti com a cabeça. Virei pra trás e vi que o homem que me perseguia não estava mais ali. Agradeci um milhão de vezes.
Sofia: O senhor pode me informar as horas? - Já que o homem não está mais aqui, não é preciso pedir ajuda certo?
Policial: São 23:15.
Sofia: Obrigada. - Recuperei o fôlego. - Tenha uma boa noite.
Policial: Você também.
Sofia: Obrigada. - Sai dali mais aliviada. Andei pelas ruas e aquela sensação já não existia mais. Quando faltava poucos metros pra chegar em casa aquele homem reapareceu atrás de mim. Tentei correr, mas antes que eu conseguisse fazer isso ele me alcançou e me jogou no chão.
- Pensou que ia ficar livre para sempre, boneca? - Riu se sentando nas minhas pernas, me debati e gritei por socorro. - Se gritar vai ser pior. - Engoli em seco enquanto sentia meus olhos marejados.

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O Defensor
RomansaTodo mundo tem um vizinho enxerido, que adora cuidar da vida dos outros. Isso incomoda e muito, principalmente quando se trata do seu ex amigo de infância, no qual você é obrigada a ver todos os dias. Tudo isso me incomodava e muito, até eu descobri...