Capítulo 51

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   • Sofia •
Um pouco antes do Léo ir embora, o Vinicius chegou e praticamente me obrigou a aceitar o convite dele de ir para um barzinho. Quando o Lê veio buscar o Léo, o Vini contou da nossa saidinha e pediu que ele falasse para o Lucas. Vinicius e sua velha mania de tentar juntar eu e o Lucas.
Tomei um banho rápido, procurei uma roupa larguinha, deixei meus cabelos soltos e quando fiquei pronta fomos para a casa dele.
Me joguei em sua cama e fiquei olhando minha galeria do celular, praticamente a metade das minhas fotos são do Lucas e do Léo.
Vinicius: Olhando a foto do boy? - Tirou o celular da minha mão.
Sofia: A minha vida tá tão vazia sem ele. - Apertei um lábio no outro. Olhei para a foto mais uma vez e senti meu coração aperta de saudade.
Vinicius: Você deveria ter deixado ele se explicar.
Sofia: Não tem o que explicar Vini, eu vi tudo.
Vinícius: Eu sei. Mas você conhece a cobra da gerente, talvez ela tenha te visto e agarrado ele.
Sofia: Mas ele deu continuidade no beijo. - Suspirei. - Por que ele tem que ter esse jeito todo dele? - Passei meus dedos sobre a foto e senti saudade do seus carinhos.
Vinicius: Você deveria perdoá-lo.
Sofia: Você acha? - Olhei para o meu amigo.
Vinicius: Tenho certeza. Vocês se amam, não faz sentido nenhum cada um ficar num canto.
Sofia: Talvez você esteja certo. - Peguei o celular da mão dele e fiquei admirado a foto do Lucas. Só deixei o celular de lado quando o cachorrinho do Vini pulou na cama e deitou perto da minha barriga.
Vinicius: Daqui a pouco já vai dar pra ver por cima da roupa. - Fiz carinho no Bob e levei meus olhos até a minha barriga que estava destampada, revelando uma pequena protuberância. - Cresceu um pouquinho.
Sofia: Bem pouco. Acho que já tô aceitando melhor a ideia de ser mãe. - Sorri de lado.
Vinícius: Posso tocar?
Sofia: Pode. - Dei de ombros. Ele levou as mãos até a minha barriga e fez carinho.
Vinicius: Já pensou em quando vai contar para o Lucas?
Sofia: Vou esperar a minha consulta, que é na semana que vem e depois converso com ele.
Vinícius: Ele vai ser um pai muito babão.
Sofia: E se não for dele? - Seus olhos voltaram pra mim.
Vinicius: Você não foi no hospital depois do ocorrido com o Gabriel? Eles não te deram remédio?
Sofia: Fui. Me deram, mas a pílula do dia seguinte não é 100% confiável.
Vinicius: Mas as chances de ser do Gabriel são mínimas. Não pensa nisso agora! - Assenti. - Deixa eu tirar uma foto tua?
Sofia: Eu não gosto de foto.
Vinicius: Não vai aparecer teu rosto, só essa barriguinha linda, do tio. - Ri.
Sofia: Tio? - Arqueei a sobrancelha.
Vinicius: Claro. Até o Bob vai aparecer na foto. - O Vini ficou de joelhos na cama, veio atrás de mim e bateu uma foto linda. - Já posso virar fotógrafo. - Me entregou o celular.
Sofia: Leva jeito. Depois me manda, e não mostra pra ninguém.
Vinicius: Pode deixar. Já pensou nos nomes? - Perguntou voltando a acariciar minha barriga.
Sofia: Não. - Brinquei com o Bob.
Vinicius: E nos padrinhos?
Sofia: Não também.
Vinicius: Você não pensa em nada, não? A cabeça tá aí só de enfeite. - Gargalhei.
Sofia: Eu tenho tempo pra pensar nessas coisas.
Vinicius: Você quase não toca na tua barriga ou é impressão minha?
Sofia: Não toco. Não é que eu não goste do que está dentro dela, eu só tenho medo de não ser suficiente pra ela.
Vinicius: Você vai ser mais que suficiente. Você vai amar e muito essa criança. - Beijou meu rosto e ficou pé. Ouvi batidas na porta e arrumei minha blusa. Segundos depois o Lucas entrou no quarto. Senti vontade de pular em seus braços quando ele me cumprimentou, mas consegui me segurar. - Vou terminar de me arrumar pra gente ir.
Sofia: Bem que a gente podia ir em uma pizzaria em vez de um bar. - Mexi nas orelhinhas do Bob. - Tô com vontade de comer pizza.
Vinicius: Por mim tudo bem.
Lucas: Por mim também.
Vinicius: Eu vou dar um jeito no meu cabelo lá no banheiro e já volto. Aproveitem o momento para conversar ou pra se pegar, aí fica a critério de vocês.
Sofia: Não enrola, Vinícius! - Tirei o cachorrinho do meu colo e fiquei de pé. - Vou beber água.
Vinicius: Você já sabe onde fica a cozinha.
Sofia: Vou te esperar na sala. - Esperei o Lucas sair da porta pra eu passar. Assim que Inalei seu perfume meu estômago embrulhou, mas consegui disfarçar.
Dei um sorrisinho pra ele e sai do quarto. Tomei minha água e fiquei na sala com o Seu João e a Dona Antônia.
Lucas: Não demora. - Ouvi sua voz e logo em seguida ele apareceu na sala. - Posso sentar aqui? - Apontou para o meu lado.
Sofia: Pode.
Lucas: Obrigado. - Respirei fundo várias vezes na intenção de não vomitar. Pra quê tanto perfume?
Antônia: Desculpe perguntar, mas vocês não estão mais juntos?
Lucas: Não, infelizmente. - Olhei pra ele rapidamente e depois para as minhas mãos.
Antônia: Vocês se amam tanto, não deveriam ter se separado.
Sofia: Nem sempre o amor é suficiente, o meu é um exemplo.
Lucas: Não fala assim. - Me olhou. - O seu amor foi mais que suficiente, pra mim ele é tudo.
Sofia: Não quero falar sobre isso. - Torci a boca e virei o rosto.
João: Hoje vi uma matéria no jornal e lembrei de você. - Virei meu rosto em sua direção e vi que ele falava comigo.
Sofia: Qual matéria?
João: Uma moça que sofria abuso sexual do padrasto. - Me senti desconfortável com o seu assunto, minha vida já anda uma maravilha para o Seu João me fazer recordar essas coisas. - Na matéria ainda dizia que ela era a vítima, a sofrida, aposto o que for que quem é a vítima é o padrasto. Pode ver a menina se jogava pra cima dele.
Sofia: O Senhor tá defendendo um estuprador? É isso mesmo? - Me indignei.
João: Ele é homem e a menina não tinha nenhuma carinha de santa, não. Me fala a verdade, você dava em cima do teu padrasto, não dava? - Fiquei de pé.
Sofia: O Senhor acha que com 6 anos de idade eu sabia o que era isso? Eu nunca dei em cima do Gabriel e tenho certeza que a moça da matéria que o Senhor viu não dava. O mundo não vai pra frente por causa de gente com pensamento lixo igual o do senhor. Desde quando a vítima é o estuprador e não quem sofre o abuso?
João: Se você não gostasse, você teria ido embora.
Sofia: Como eu ia embora sendo que ele me ameaçava? Ou eu ficava lá de bico fechado, ou ele teria matado a mim e todas as pessoas que conviviam comigo. Inclusive o seu filho. - Uma lágrima escorreu dos meus olhos. - Me desculpa Dona Antônia, mas eu sinto nojo do seu marido. Como um homem vivido pode ter uma cabeça dessas?
João: Nojo eu tenho é de vocês que se fazem de santas e dão o bote. Se usa roupa curta e anda na rua de madrugada tá pedindo pra sofrer abuso.
Sofia: Se a mulher está dentro de casa, com roupas comportadas também merece sofrer abuso​?
João: Acredito que esse não era o seu caso. - Debochou.
Lucas: Já chega! Eu sabia que o senhor não valia nada, mas agora eu tenho certeza. Uma mulher tem direito de ir e vir, se vestir do jeito que quiser sem ser assediada ou ser estuprada. Hoje em dia as coisas são diferentes, o senhor deveria saber disso. - Ficou de pé e me abraçou de lado. -Eu tenho pena da Dona Antônia que vive com o Senhor, eu no lugar dela já teria ido embora há muito tempo. Vamos lá fora! - Saímos da casa. Assim que chegamos perto do portão abracei a cintura do Lucas e comecei a chorar. - Não dá ouvidos para o que ele falou. - Passou as mãos nas minhas costas.
Sofia: Por que algumas pessoas ainda conseguem acusar as vítimas? Será que é tão difícil assim enxergar que não somos as culpadas?
Lucas: Infelizmente o mundo tá cheio de gente ignorante que ainda não abriu a cabeça, nem olhos pra esse assunto. Não fica assim. - Beijou minha testa. - Você sabe que não tem culpa.
Sofia: O mais triste nisso tudo é que algumas mulheres também pensam dessa forma. Será que o mundo nunca vai mudar?
Lucas: O problema não está no mundo, e sim nas pessoas. - Me abraçou forte. - Tenta se acalmar. Respira fundo. - Respirar fundo não me ajudou muito pois aumentou ainda mais o meu enjôo. Me soltei dele e corri pra fora do portão, me encostei no muro e joguei pra fora o que eu havia comido há algumas horas. Senti o Lucas segurar os meus cabelos com uma mão e me abraçar com a outra. Quando joguei tudo pra fora, me apoiei no Lucas e fechei os olhos.
Sofia: Teu perfume tá me matando. - Me abanei.
Lucas: Acho que exagerei um pouco. Você já foi no médico?
Sofia: Vou ainda essa semana. - Ouvimos gritos vindo da casa do Vini e logo em seguida ele sair de casa batendo a porta.
Vinicius: Você tá bem? - Tocou meu rosto.

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