Capítulo 4

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•Sofia•
Meu coração já está apertado só de saber que daqui alguns minutos estarei em casa.
Odeio a minha vida, a minha casa e principalmente o que eu passo lá. Odeio o meu padrasto, a minha mãe, e esse ódio se estende a minha irmã também.
Quando o ônibus chegou me despedi do Vini com um abraço apertado e subi no ônibus, escolhi um dos bancos mais afastados e fui o caminho todo pedindo que Deus me ajudasse. Tanto na minha volta pra casa, quanto amanhã quando o Danilo for conversar com o Gabriel. Eu já sei o que me espera, e isso faz com que o meu desespero triplique de tamanho.
Assim que entrei em casa encontrei a Bárbara jogada no sofá da sala, como de costume. Tranquei a porta e fui direto para o meu quarto, larguei a mochila em um canto qualquer do quarto, peguei uma muda de roupa e minhas peças intimas e fui direto para o banheiro do corredor. Tomei um banho rápido, me vesti ali mesmo e depois fui pra cozinha.
Bárbara: Vai fazer o quê?
Sofia: Miojo. - Respondi sem olhar pra ela. Coloquei água ferver e me sentei em uma das cadeiras.
Bárbara: Eu também quero. - Bufei.
Sofia: Vai fazer então.
Bárbara: Eu não.
Sofia: Então não come.
Bárbara: Eu tô com fome Sofia.
Sofia: Porque você não fez alguma coisa pra você comer?
Bárbara: Porque eu não sei cozinhar.
Sofia: Você não sabe fazer nada. - Me levantei. - Eu chego em casa cansada e sou obrigada a fazer comida pra uma desocupada, que fica o dia inteiro deitada.
Gabriel: Abaixa o tom pra falar com a Bárbara. - Apareceu na cozinha, sua voz grave me causa medo. - Você vai fazer comida pra ela e pra mim e vai ficar com o bico fechado. Me entendeu? - Assenti com a cabeça. - Acho bom. - Virei as costas e fui até um dos armários e lá encontrei só dois miojos. Droga!
Fiz os dois e na hora que ficou pronto a Bárbara e o Gabriel fizeram seu prato e deixaram apenas o que tinha no fundo da panela pra mim. Eu já deveria ter me acostumado com isso.
Comi aquele restinho quase chorando. É sempre assim.
Sofia: Você lava a louça? - Perguntei para a Bárbara.
Gabriel: Claro que não. Quem sujou a cozinha foi você, então você quem vai limpar.
Sofia: Eu tô cansada. - Minha voz embargou.
Gabriel: Eu não me lembro de ter te perguntado alguma coisa. - Seu olhar duro fez uma lágrima escorrer dos meus olhos. - Não chora! - Bateu na mesa. Engoli o choro e passei uma das mãos no rosto.
Sofia: O Danilo mandou avisar que vai vim amanhã. - Falei baixo.
Gabriel: O que você aprontou?
Sofia: Na-nada. - Gaguejei.
Gabriel: Se eu souber que você saiu da linha, você sabe o que vai acontecer não sabe?
Sofia: Sei. - Me encolhi na cadeira.
Gabriel: Acho bom. - Ele e a Bárbara saíram da cozinha assim que terminaram suas refeições, e eu, a escrava, em vez de ir descansar fui arrumar a cozinha e lavar as louças.
Enquanto estava dentro de casa me segurei ao máximo pra não chorar, se uma lágrima se quer caísse eu não conseguiria mais segurar as outras. Meus olhos ardiam e na garganta o nó ficava cada vez maior. O meu estômago roncava e com isso a vontade chorar aumentava.
Eu odeio a minha vida!
Quando tudo ficou pronto, fui para os corredores dos quartos e conferi se os dois já estavam dormindo, e pra minha felicidade sim.
Saí de dentro de casa e me sentei na calçada que fica na lateral da casa, e lá me permiti chorar de soluçar. Eu não aguento mais essa vida! Tudo o que eu mais queria era sair dessa casa e não olhar pra essas pessoas nunca mais.
O pior de tudo é que se eu abrir a boca as coisas podem piorar e muito para o meu lado. E agora eu sei que terão mais pessoas na mira do Gabriel, se eu pisar em falso o Lucas e o Vinícius irão se dar mal.
Isso já aconteceu uma vez e eu pretendo que isso nunca mais aconteça.
Eu não quero que mais ninguém pague, pelo o que eu passo.
Mas pelo menos hoje o Gabriel está calmo. Só não sei se essa bondade vai durar muito tempo.
Eu sei que amanhã tudo vai ser pior. Quando o Danilo aparece por aqui quem paga sou eu. Ele adora me ver chorar e tem o gostinho de ver sofrer. O que aconteceu hoje na faculdade não foi nada comparado com o que eu sofro na mão dele e do Gabriel.
Mas eu tenho fé que algum dia eu vou conseguir me livrar disso tudo e vou ter uma família de verdade. Eu ainda vou ser amada e respeitada por alguém. Talvez demore mas eu sei, que a minha hora de ser feliz ainda vai chegar.

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