Capítulo 11

54 6 0
                                        

  • Sofia •
Por um milagre Divino o Danilo faltou hoje e por esse motivo ficamos duas aulas sem fazer nada. Alguém lá de cima finalmente está olhando por mim. Eu e os meus meninos ficamos papeando, brincando, fofocando enquanto o tempo passava. Nem é preciso dizer que estou amando essa falta do Danilo e esse carinho dos meninos comigo.
Lucas: Podíamos brincar de Stop. - Gargalhei.
Sofia: A última vez que brinquei disso foi na terceira série do fundamental.
Vinicius: Eu também.
Lucas: Vocês são sem infância mesmo. - Fez pose. - Eu brinco disso até hoje.
Sofia: Crianção. - Apertei sua bochecha.
Lucas: Vão brincar ou não?
Sofia: Não, daqui a pouco a Salete tá aí, não vai dar nem tempo de montar a brincadeira.
Vinicius: Bem que ela podia faltar hoje também, né?
Lucas: Seria um sonho? - Apoiou a cabeça no meu ombro esquerdo.
Sofia: Seria.
Vinicius: Acordem que aqui é vida real. - Estalou os dedos na frente do meu rosto. Alguém do fundo da sala chamou o Lucas, ele se levantou e foi até lá, e voltou segundos depois com os olhos arregalados.
Lucas: Tem sangue na sua blusa! - Sentou do meu lado apressado.
Sofia: Como?
Lucas: Tem sangue escorrendo na sua blusa.
Sofia: Aí meu Deus! - Me levantei da cadeira de presa, peguei minha mochila e fui o mais rápido que consegui para o banheiro. Assim que entrei lá não encontrei nenhuma cabine fazia, o que fez com que eu me desesperasse. O que eu vou fazer agora? Como é que vou trocar os curativos se o banheiro está lotado de gente?
Lucas: Sofia. - Gritou do lado de fora do banheiro feminino. - Sofia! - Gritou mais uma vez.
Sofia: Para de gritar. - Apareci na porta do banheiro. Não sei quem estava com os olhos mais arregalados se era o Lucas ou o Vini.
Vinicius: Por que você tá sangrando?
Sofia: Porque eu me machuquei.
Lucas: Onde? Quando?
Sofia: Nas costas, já faz alguns dias. - Passei a mão na testa. Como eu pude esquecer de trocar os curativos antes de vim pra cá? Onde eu estava com a cabeça?
Lucas: Vamos pra enfermaria. - Pegou no meu pulso, também machucado.
Sofia: Cuidado. - Puxei minha mão dá sua e esfreguei o local onde ele segurou.
Vinicius: O que é isso? - Segurou meus dois pulsos em suas mãos. Como eu vou explicar, meu Deus?
Vinicius: O que é isso Sofia? - Voltou a perguntar. As pessoas que passavam pelos corredores, e as que saiam do banheiro nos olhavam atentamente, loucas pra saber do que se tratava o assunto.
Lucas: Parece marcas de cordas. - Engoli em seco. - Você foi amarrada? - Fui. Minha mente gritou.
Sofia: Não.
Vinicius: Anda logo, Sofia. O que está acontecendo?
Sofia: Nada. - Puxei minhas mãos.
Lucas: Como você machucou as costas? E como essa marca foi parar aí? - Ai meu Deus!
Sofia: Eu caí da cama. E essas marcas eu fiz hoje mais cedo, eu precisei puxar algumas caixas lá na lanchonete e como eram pesadas amarrei cordas nelas e puxei. - Os dois trocaram olhares.
Vinicius: Isso é história pra boi dormir. Anda logo, conta a verdade.
Sofia: Eu já contei. - Tentei passar por eles mas, os dois me impediram.
Lucas: Um tombo da cama não faria isso nas costas de ninguém. - Bufei.
Sofia: Me deixa passar.
Lucas: Me deixa ver suas costas. - Sua voz saiu firme. Eu não posso mostrar! Se ele ver eu estou ferrado, já até consigo imaginar o que irá acontecer.
Sofia: Por favor me deixa passar. - Implorei.
Vinicius: Vamos para a enfermaria. - Me pegou pela mão e saiu me puxando.
Sofia: Não tem necessidade.
Lucas: Você escolhe: mostrar seus machucados pra nós dois ou para enfermeira.
Sofia: Pra enfermeira. - Respondi ligeira.
Vinicius: Vamos pra lá então. - Fui o caminho todo pedindo que Deus me ajudasse. Assim que entramos na enfermaria o Lucas e o Vinícius metralharam a pobre enfermaria, a coitada não conseguia entender nada.
Mafalda: Calma! - Elevou a voz. - Um de cada vez por favor. Você primeiro. - Falou para o Vinícius.
Vinicius: A Sofia está com machucados nas costas, está vertendo sangue e ela não deixa ninguém vê. - A mulher me olhou.
Mafalda: Que tipo de machucados?
Lucas: Não sei, ela não mostra. - Bufou, pegando no meu braço. - Tem essas marcas também. - A Mafalda olhou para as marcas nos meus pulsos e depois para os meus amigos.
Mafalda: Marcas de cordas? Você foi amarrada?
Sofia: Não. Essas marcas eu fiz hoje mais cedo, precise puxar algumas caixas lá na lanchonete onde eu trabalho e como eram pesadas amarrei cordas nelas e puxei. - Repeti o mesmo que falei para os rapazes.
Vinicius: Isso é história pra boi dormir!
Mafalda: Vou dar uma olhada, vocês podem esperar ali fora.
Lucas: Não! Nós vamos ficar aqui. - Soltou minha mão e cruzou os braços.
Vinicius: Daqui eu não saio. - Fez o mesmo que o Lucas.
Mafalda: Se o machucado é nas costas como ela vai tirar a blusa com vocês aqui?
Sofia: Não vou fazer isso na frente de vocês!
Vinicius: Nós viramos de costas. - Suspirei.
Sofia: Tudo bem. - Os dois viraram e taparam os olhos com as mãos. Me virei de costas pra eles e tirei a blusa do meu corpo, levando-a pra frente de mim, para esconder meus seios, já que eu não usava sutiã. Assim que a enfermeira retirou os curativos cheios de sangue e viu as minhas costas ela me olhou apavorada, isso que ela nem viu como eu estava no dia seguinte.
Mafalda: Meu Deus. - Ela me guiou até uma maca e me colocou sentada, de costas pra ela. - Eu vou mandar seus amigos saírem daqui. - Sussurrou pra mim, que assenti e agradeci em um sussurro. - Rapazes vocês vão ter que sair. - Falou enquanto jogava um avental em cima das minhas feridas.
Lucas: Mas...
Mafalda: Nada de mais, quero os dois fora daqui.
Vinicius: A Sofia está muito machucada né?
Mafalda: Não, é só uma ferida mal cicatrizada. Vão pra sala que daqui dois minutos ela encontrar vocês lá.
Lucas: Sofia. - Continuei de costas.
Mafalda: Tchau meninos. - Os dois resmungaram, protestaram, mas a Mafalda seguiu firme no seu pedido e em dois tempos ela expulsou os dois da salinha e trancou a porta. - Que marcas são essas? - Ficou de frente pra mim.
Sofia: Cintadas. - Baixei meus olhos.
Mafalda: Algum dos dois tem algo haver com isso?
Sofia: Não. - Olhei em seus olhos.
Mafalda: Quem fez isso? - Não respondi. - Está só nós duas aqui, pode se abrir. O que conversarmos aqui, aqui vai ficar. Quem te agrediu?
Sofia: Ninguém. - Menti.
Mafalda: Quando isso aconteceu? - Cruzou os braços.
Sofia: Semana passada. - Olhei para o teto e depois pra ela.
Mafalda: Vou perguntar de novo: Quem fez isso com você? - Por um segundo tive vontade de contar tudo, mas lembrei que o Danilo trabalha aqui e se ele souber que eu estive aqui ou que abri a boca, provavelmente eu morreria. Ele e o monstro do irmão fariam a mesma coisa da semana passada, só que dessa vez me levariam a óbito.
Sofia: Meu namorado. - Menti. - Mas não foi por mal, ele só queria apimentar um pouco as coisas.
Mafalda: Desculpa, mas ele queria era te matar, não apimentar a relação. Isso aqui é agressão, você deveria ir até uma delegacia e dar parte desse infeliz.
Sofia: Eu quis isso também.
Mafalda: Esse mundo está perdido mesmo. - Bufou e foi pegar gaze, esparadrapo e pomadas. - E a marca nos pulsos?
Sofia: Ele me amarrou com um pouco de força.
Mafalda: Isso tudo foi feito com teu consentimento? - Não respondi. - Se meu marido fizesse isso comigo no outro dia ele estava atrás das grades. Na minha opinião isso aqui é agressão sim, e não uma fantasia sexual. Vocês jovens são loucos. - Ela foi para trás de mim e começou a limpar os cortes. - Está tudo infeccionado, você deveria ir ao médico.
Sofia: Não posso. - Sussurrei.
Mafalda: Você estava sóbria quando isso aconteceu? - Infelizmente sim.
Sofia: Estava.
Mafalda: Tem certeza que isso aconteceu com seu consentimento?
Sofia: Uhum. - Baixei a cabeça.
Mafalda: Já trabalhei em hospitais, presídios, delegacias, então eu sei quando alguém está mentindo e sei melhor ainda quando isso acontece a força. - Engoli em seco. - Fiz durante anos várias exames de corpo e delito em várias mulheres que assim como você mentiam, só pra acobertar um sem-vergonha de um vagabundo que abusam, espancam e se aproveitam de meninas e mulheres todos os dias.
Sofia: Não estou mentindo. E não entendo o porquê de você esta falando isso pra mim. - Meus olhos marejaram, e nesse momento agradeci por ela não conseguir ver meu rosto.
Mafalda: Você entende sim. Só pelo seu nervosismo já consigo ver que estou certa. Eu conheço essas marcas de dedos que estão espalhadas pelo seu corpo, conheço as suas cicatrizes, e o medo nos seus olhos.

O DefensorOnde histórias criam vida. Descubra agora