• Sofia •
Quando a nossa família foi para a casa, eu e o Lucas corremos para o sofá e ficamos assim durante o resto do dia e da noite.
Duas semanas se passaram desde o dia almoço. Eu e o Lucas estamos cada vez mais grudados, claro que temos as nossas briguinhas mas elas não duram nem meia hora.
Sofia: Lucas, tá no hora. - Puxei seu pé. Faz mais de 10 minutos que tô chamando ele. - Você vai se atrasar.
Lucas: Não tô me sentindo muito bem. - Resmungou. Me sentei do seu lado e levei minha mão até sua testa.
Sofia: Você tá quente. Vou pegar o termômetro. - Saí da cama e vasculhei as gavetas. Assim te encontrei o termômetro voltei para a cama e coloquei nele. - O que você tá sentindo?
Lucas: Dor de garganta, de cabeça e frio.
Sofia: Eu disse pra você não ficar sem camisa, nem andar descalço nesse piso gelado. Não tá mais tão quente para andar tão à vontade.
Lucas: Desculpa. - Espirrou. - Aí, minha garganta. - O termômetro apitou e eu o retirei de baixo do braço do Lucas.
Sofia: 37,9. Acho melhor você ficar em casa hoje.
Lucas: Vou ficar. - Falou voltando a se deitar de baixo das cobertas.
Sofia: Não fica muito coberto se não a febre sobe.
Lucas: Mas eu tô com frio. - Se encolheu.
Sofia: Vou pegar remédio. - Fui até a cozinha e peguei um antitérmico e um copo com água. Assim que voltei para o quarto encontrei o Lucas falando no celular. Esperei ele encerrar a ligação pra entregar o copo e o comprimido. - Estava falando com quem?
Lucas: Com a Gláucia. Já avisei que não vou hoje. - Bufei. - Não faz assim, você sabe que eu sou obrigado a falar com ela.
Sofia: Não falei nada.
Lucas: Mas pensou.
Sofia: Vou ligar para o seu Nícolas e avisar que eu não vou hoje.
Lucas: Pode ir, daqui a pouco eu tô melhor.
Sofia: Você nem abre os olhos direito.
Lucas: É por causa da dor de cabeça. - Espirrou de novo. - Pode ir descansada. Hoje é a folga da mãe se eu piorar eu ligo pra ela e peço pra ela ficar comigo.
Sofia: Eu posso faltar.
Lucas: Não precisa. E outra, o Leandro vai precisar da tua ajuda, ele tá uma pilha de nervos.
Sofia: Eu vou. - Suspirei e fui terminar de me arrumar. - Eu tô indo, qualquer coisa você me liga. - Beijei sua testa.
Lucas: Pode deixar. Manda um abraço para o Lê. - Assenti.
Sofia: O café tá quente na garrafa, deixei um pedaço de bolo dentro do forno pra você. Não fica sem comer nada.
Lucas: Daqui a pouco eu levanto e tomo café.
Sofia: Fica bem! - Selei nossos lábios.
Lucas: Você não devia ter feito isso. Não quero te ver doente também. - Sorri.
Sofia: Não vou ficar. - Sai de perto da cama mas voltei assim que ele pegou na minha mão.
Lucas: Eu te amo.
Sofia: Eu também te amo. - Mandei um beijo no ar pra ele e sai do quarto, fechando a porta. Fechei a porta de casa também e segui para o ponto de ônibus. Quase 20 minutos depois o ônibus chegou. Procurei o Lê com os olhos e assim que o encontrei fui me sentar ao seu lado.
Leandro: Pensei que você fosse ir com o Lucas.
Sofia: Ele tá resfriado, não vai trabalhar hoje.
Leandro: Mas ele tá bem?
Sofia: Tá. Animado para o primeiro dia de trabalho?
Leandro: Animadíssimo, só tô um pouco nervoso.
Sofia: Fica tranquilo, o pessoal é gente boa. - O Lê resolveu largar o curso de informática e resolveu trabalhar. A Karina não gostou muito da idéia, mas o filho acabou a convencendo. Conversei com o Seu Nícolas e arrumei uma vaga pra ele lá na lanchonete. Vai ser bom ter o Lê pertinho de mim. - Já transferiu as aulas para a tarde?
Leandro: Já.
Sofia: Se eu andar sabendo que o senhor tá matando aula e tirando nota baixa, vou te tirar do emprego.
Leandro: Tá bom patroa. - Riu. - Só porquê é a filha do dono tá toda metidinha. - Brincou.
Sofia: Eu posso. - Assim que chegamos na lanchonete o Lê já se amigou de cara com o Gustavo e a Larissa. Ele se atrapalhou um pouco no começo mas depois já pegou o jeito. Na hora do almoço o Lê foi embora com um sorriso enorme no rosto.
Larissa: Acho que ele gostou do primeiro dia.
Sofia: Também acho. - Sorri. - Você também gostou né?
Larissa: Do quê?
Sofia: Não se faz de boba não que eu estava de olho. - Ri.
Larissa: Eu só estava sendo legal com o menino. - Desviou os olhos.
Sofia: Sei. - Assim que a Lari saiu do balcão o Vini chegou. - Que milagre o senhor por aqui. - Me estiquei sobre o balcão e deixei um beijo estalado em sua bochecha.
Vinicius: Milagres acontecem. - Sorriu de lado.
Sofia: Vai querer o quê pra comer?
Vinicius: Nada. - Apoiou o rosto na mão.
Sofia: Tô te achando meio tristonho.
Vinicius: Impressão sua.
Sofia: Por que não tira o óculos de sol?
Vinicius: Não quero. - Estranhei. O Vini nunca gostou de andar com isso e agora não quer tirar por nada.
Sofia: Aconteceu alguma coisa? - Ele negou com a cabeça. - Você tá diferente. Não fez nenhuma piadinha quando chegou, não sorriu, não quer comer. Fala a verdade. - Segurei sua mão.
Vinicius: Aconteceu uma coisa ontem a noite. - Sua voz mudou e o meu coração se apertou. - Não tem outro lugar pra gente conversar?
Sofia: Vamos lá na sala do seu Nícolas. - Esperei ele dar a volta no balcão, pra eu ir na cozinha e avisar que vou usar a sala do Seu Nícolas. O Bruno ficou no meu lugar, e eu e o Vini seguimos para o nosso rumo. - Fala, eu tô nervosa. - Fechei a porta. Assim que o Vinicius tirou os óculos escuros, minha garganta fechou. Seus olhos estão roxos e praticamente nem abrem. Ele apertou os lábios e eu não pensei duas vezes em abraçá-lo. - Quem fez isso com você? - Sem perceber eu já chorava também.
Vinicius: Uns caras que eu não conheço. - Deitou a cabeça no meu ombro. - Ontem eu saí com o Cadu e quando saímos do barzinho tinha uns cinco caras nos esperando na rua. Foi horrível, Sô. - Soluçou.
Sofia: Como o Cadu tá?
Vinicius: Bem pior que eu. Eles quebraram o braço dele.
Sofia: Eu odeio esse tipo de gente! - Desfiz nosso abraço e segurei o rosto do meu amigo nas minhas mãos. Vê-lo assim machucado me parte o coração.
Vinicius: Nós não fizemos nada Sô, porque todo mundo insiste em nos agredir e humilhar? Somos tão humano quanto qualquer hétero.
Sofia: Eu sei disso. Mas infelizmente nem todo mundo pensa assim, tem muita gente cabeça fechada nesse mundo.
Vinicius: Eu não sou assim porque eu quero. - Voltei a abraçá-lo.
Sofia: O problema não é você, são eles, que não sabem o que é respeito. Ninguém é obrigado a aceitar nada, mas todo mundo tem que respeitar a escolha do outro.
Vinicius: É uma pena que pouquíssimas pessoas sejam iguais a você. - Fiquei com ele por mais um tempo conversando, só quando ele se sentiu melhor que eu voltei ao trabalho. - Obrigado pelo colo.
Sofia: Amiga é pra essas coisas. Come alguma coisa agora.
Vinicius: Me dá uma coxinha e um refrigerante.
Sofia: Hoje é por minha conta.
Vinicius: Obrigado. - Fiquei ali no caixa mas continuei a conversar com o Vini. - Como o Lucas tá?
Sofia: Tá em casa, gripado.
Vinicius: Não vão pra faculdade hoje, né?
Sofia: Não.
Vinicius: Como que tá o convívio com os teus pais?
Sofia: Tá ótimo, só não consigo chamá-los de pai e mãe ainda.
Vinicius: Daqui a pouco você consegue, quando menos esperar isso acontece.
Sofia: Tomara.
Vinicius: E a Bárbara?
Sofia: Parece outra pessoa. Tô feliz com a mudança dela. Dessa vez parece ser real.
Vinicius: Que bom. - Sorriu. - Já tinha passado da hora daquela garota criar juízo. - Ri.
Sofia: Você ainda não gosta dela né?
Vinicius: Ainda não consegui engolir o que ela te fez da última vez. Se ela estiver sendo falsa mais uma vez eu juro que arrancou os cabelos dela.
Sofia: Agora sim tá parecendo meu amigo falando. - Peguei sua mão.
Vinicius: Você que me colocou pra cima.
Nícolas: Filha.
Sofia: Oi? - Me virei para a porta da cozinha.
Nícolas: Teu horário de almoço já começou e você ainda não foi almoçar, porquê? - Se fez de bravo.
Sofia: Eu esqueci. Lembra do Vini?
Nícolas: Lembro. - Sorriu para o meu amigo. - Vão dar uma volta vocês dois. - Assenti.
Sofia: Até daqui a pouco. - Beijei seu rosto e sai da lanchonete abraçada ao Vini.
Vinicius: Se eu soubesse que você ainda não tinha almoço eu teria te esperado pra gente comer junto.
Sofia: Ando muito esquecida. Será que o Lucas tá melhor?
Vinicius: Liga pra ele. - Foi isso que eu fiz. O Lucas fez um pouquinho de drama, reclamou da solidão mas disse estar melhor. Acreditei, só pelo fato da reclamação toda. Eu e o Vinicius andamos dois quarteirões e fomos para um restaurante baratinho.
Sofia: O Senhor vai comer comigo.
Vinicius: Sim, general. - Beijou meu rosto. Fiz um prato cheio e peguei duas facas e dois garfos. - Eu não como salada.
Sofia: Eu como, deixa pra mim.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Defensor
RomansaTodo mundo tem um vizinho enxerido, que adora cuidar da vida dos outros. Isso incomoda e muito, principalmente quando se trata do seu ex amigo de infância, no qual você é obrigada a ver todos os dias. Tudo isso me incomodava e muito, até eu descobri...