• Sofia •
O Leandro ficou no meu pé o tempo todo. Algumas vezes tive vontade de fazer um buraco e me enfiar dentro.
Karina: Para de perturbar a menina! Ela tá roxa já - Bateu no braço do filho. Paulo: Deixa ela e o seu irmão se pegarem em paz.
Leonardo: Você é namorada do Lucas? - Perguntou se sentando no meu colo.
Sofia: Não, nós somos só amigos. - Olhei em seus olhinhos.
Leandro: Sei. O pai e a mãe também são amigos.
Paulo: Muito amigos. - Riu.
Karina: Cada um tem seu jeito definir a amizade. - Riu também.
Lucas: A comida tá pronta. - Gritou da cozinha. Isso fez todos correr pra cozinha e esquecer o assunto amizade.
Comemos em meio a risadas, conversas paralelas e alguns planos para o futuro.
Leonardo: Terminei. - Empurrou a prato.
Paulo: Comeu tudo?
Leonardo: Comi. - Sorri pra ele. - Você ainda vai dormir comigo?
Sofia: Vou. - Segurei sua mão por cima da mesa. - Já tá com sono?
Leonardo: Um pouco.
Sofia: Vai lá escovando os dentes, trocando de roupa que daqui a pouco já vou deitar contigo.
Leonardo: Tá. - Ele desejou boa noite aos pais e aos irmãos e saiu da cozinha.
Lucas: Vai mesmo dormir com ele?
Sofia: Vou.
Leandro: O Lucas vai ficar com ciúmes.
Lucas: Fica quieto.
Paulo: Vocês vão pra Patos que horas?
Lucas: De madrugada, assim dá tempo da gente chegar lá e descansar um pouco.
Karina: Voltam quando?
Lucas: Domingo a noite ou então só na segunda de manhãzinha.
Sofia: Pensei que a gente voltava amanhã de madrugada.
Lucas: Mudança de planos.
Paulo: O pessoal da Madeireira já ligou?
Lucas: Não. E eu nem tive tempo de ir ver como as coisas estão indo.
Sofia: O prazo deles já tá acabando.
Lucas: Ainda tem a entrega dos móveis. Sem a casa pronta não vai ter onde montar.
Sofia: Vou lá na loja na terça conversar com eles.
Lucas: Eu vou contigo. - Assenti com a cabeça.
Paulo: Compraram muitos móveis?
Lucas: Não muito, só essencial como pia, fogão, panelas.
Sofia: Ainda falta a geladeira, não encontramos nenhuma que coubesse nos nossos orçamentos.
Paulo. Casar não é fácil.
Lucas: Isso não é um casamento.
Karina: No meu tempo era.
Leandro: Compraram tudo?
Sofia: Não. Algumas coisas eu vou pegar lá da casa da Bárbara. Como a minha cômoda e roupeiro. Eu paguei então é meu.
Lucas: Tá certo.
Paulo: Vai levar alguma coisa sua? - Perguntou ao Lucas.
Lucas: Por enquanto não.
Leandro: Falta comprar o quê, sem ser a geladeira?
Lucas: Cama, sofá, mesa.
Sofia: Falta muita coisa ainda.
Leandro: Vocês vão dormir no chão? - Assenti.
Lucas: Vamos improvisar com alguns cobertores.
Paulo: Queria ajudar vocês.
Sofia: Vocês já nos ajudaram e muito.
Karina: Não ajudamos em quase nada.
Sofia: Vocês que pensam. - Segurei sua mão.
Leonardo: Sô. - Olhei para o lado e lá vinha ele com um cobertorzinho nas mãos.
Sofia: Oi?
Leonardo: Vamos dormir? - Encostou a cabeça no meu braço.
Sofia: Vamos. - Fiquei de pé e desejei uma boa noite a todos. Segui com o Léo para o quarto dele e nos acomodamos em sua cama. Deitamos de lado e ele afundou o rosto perto do meu pescoço. Levei minha mão até seus cabelos pretos e os acariciei.
Leonardo: Amanhã você vai sair com o Lucas?
Sofia: Vou.
Leonardo: Vou ficar com saudade. - Sorri largo.
Sofia: Também vou sentir. - Beijei seus cabelos. Cantei pra ele uma canção de ninar, que a Suzana costumava cantar pra mim. No meio da canção ele dormiu.
Por falar na Suzana, nunca mais tive notícias dela. Depois daquele dia no mercado aquela mulher desapareceu. Isso faz com que eu tenha certeza que era ela. Agora só me resta saber o porquê dela ainda se esconder, sendo que o Gabriel e o Danilo estão atrás das grades.
Me aninhei ao Léo e peguei no sono. Durante a noite senti suas mãozinhas no meu rosto, abri os olhos e vi que ele dormia. Mesmo dormindo ele ainda me procura.
Tentei me virar na cama mas ele ocupava praticamente o espaço todo, então me levantei e fui para o quarto do lado, mais precisamente o quarto do Lucas. Abri a porta e o encontrei dormindo serenamente, com a boca entreaberta e alguns fios de cabelo no rosto. A passos pequenos cheguei até a cama e me deitei ao seu lado. Colei meu rosto em seu peito e inalei seu perfume.
Lucas: Você não ia dormir com o Léo? - Sussurrou enquanto levava uma das mãos até os meus cabelos.
Sofia: Não queria te acordar. Ia, mas ele ocupou a cama toda.
Lucas: Eu já estava acordando. - Apoiou o queixo na minha cabeça.
Sofia: Volta a dormir. - Passei minha mão esquerda em suas costas.
Lucas: Dorme mais um pouco também, daqui algumas horas vamos ter que estar de pé. - Assenti com a cabeça e me aconcheguei em seu corpo. Bastou apenas alguns segundos pra eu voltar a dormir.
(...)
Lucas: Pegou tudo? - Sussurrou pra não acordar os outros.
Sofia: Peguei. - Respondi no mesmo tom.
Lucas: Não esquece dos seus remédios.
Sofia: Estão todos na mochila.
Lucas: Vamos então. - Trancamos a porta e fomos pra garagem, depois que o Lucas tirou a moto dali eu fechei a porta.
Assim que coloquei os pés na rua senti o vento gelado contra meu rosto, abracei meu corpo e tentei me aquecer. Está de madrugada ainda, o que faz com que tudo fique frio. Subi na moto, arrumei a mochila nas costas, o capacete e abracei o Lucas.
Sofia: Tô com frio.
Lucas: Vai lá dentro pegar outro casaco.
Sofia: Não precisa, esse aqui tá bom.
Lucas: Teimosa. - Ligou a moto. - Se encosta mais em mim, assim você vai conseguir se aquecer mais rápido. - Cheguei meu corpo mais pra frente e me colei nele. - Coloca as mãos dentro da minha jaqueta, senão elas irão congelar. - Assim fiz. Adentrei a jaqueta dele com as minhas mãos e as colei em sua barriga.
Sofia: Você vai congelar daqui até lá.
Lucas: Não sinto tanto frio quanto você. - Colocou a moto em movimento e saímos do quintal da casa. Elevei um pouco meu rosto e admirei as poucas estrelas que ainda estavam no céu. Eu gosto do escuro, gosto da noite. - O céu tá bonito, não acha?
Sofia: Acho. Eu gosto das estrelas.
Lucas: Também gosto. - Tirei meus olhos do céu e olhei para o espelho retrovisor, através dali fiquei reparando nos traços do rosto do homem que anda roubando meu sucesso mental. Gosto de observá-lo assim todo concentrado e sério. Dessa forma ele fica ainda mais bonito.
Parei de admirá-lo e encostei meu rosto em suas costas largas. Respirei fundo e Inalei seu perfume inebriante. Eu conheço esse cheiro a metros de distância. Muitas vezes eu sei que o Lucas está em casa através do seu perfume. É como se meus pulmões precisassem desse cheiro pra sobreviver. As vezes me sinto um cão farejador, passos horas e horas em frente ao nosso guarda-roupas ou em algum cômodo da casa a procura desse cheiro. É como se só a essência dele me fizesse bem. As vezes tenho a impressão de estar enlouquecendo, outras vezes tenho certeza.
Quando chegamos ao nosso destino descemos da moto e me agarrei no Lucas.
Sofia: Tô congelando.
Lucas: Tá parecendo um pinguim. - Me abraçou pelos ombros. - Vamos entrar! - Ele pegou a chave da moto e fomos até a porta da casa. Na terceira batida um senhorzinho de meia idade nos atendeu. Eu tô com tanto frio que nem consigo prestar atenção na conversa do Lucas com o homem. Quando o Senhor entregou uma chave ao Lucas, fui no céu e voltei. - Tenha uma boa noite. - Fomos em direção a uma escadaria e subimos uma boa quantidade de degraus. Assim que abrimos a porta do quarto e eu vi aquela cama quentinha não pensei duas vezes em me soltar do Lucas e me jogar nela. Coloquei a mochila no chão e me aconcheguei nos lençóis.
Sofia: Pega um cobertor.
Lucas: Tô pegando. - Ele trancou a porta do quarto, abriu a porta do armário e tirou um cobertor lá de dentro, me cobriu e tirou meus sapatos.
Sofia: Obrigada. Vem deitar também.
Lucas: Tô indo. - ele tirou a jaqueta e os sapatos e se deitou ao meu lado. - Vou te abraçar pra gente se esquentar mais rápido. - Abracei a cintura dele, enquanto ele me abraçava pelos ombros. - Você tá muito gelada. - Beijou minha testa.
Sofia: Você tá quentinho. - Afundei meu rosto em seu pescoço.
Lucas: Eu sou um homem quente, meu amor. - Ri.
Sofia: Tocha humana. - Revirei os olhos. Puxei um pouco mais o cobertor e aproximei do meu rosto. - Você sempre fica aqui quando vem pra cá?
Lucas: Sempre. - Acariciou minhas costas. - O pessoal aqui da pensão já me conhece de longe. Você vai gostar deles.
Sofia: O senhor que nos atendeu é o dono?
Lucas: Sim. O seu Antônio.
Sofia: Você pega trabalhar que horas?
Lucas: Às 9. Mas tenho que ir mais cedo pra lá.
Sofia: Verdade, você tem que cantar a gerente.
Lucas: Eu não canto ela. - Me olhou.
Sofia: Vocês vivem se pegando que eu sei.
Lucas: Nem sempre as investidas são minhas.
Sofia: Pior ainda, ela que te canta. Mulherzinha atirada.
Lucas: Você nem conhece ela.
Sofia: Nem quero. - Fiz pouco caso.
Lucas: Você tá com ciúmes? - Perguntou rindo.
Sofia: Claro que não. Tá louco? Desde quando eu tenho ciúmes de você?
Lucas: Desde o dia que a Martinha deu em cima de mim lá no hospital. - Gargalhei e sai dos braços dele.
Sofia: Iludido.
Lucas: Iludida é você que pensa que eu não percebo as coisas. Eu sei que você sente alguma coisa por mim. - Se virou na cama e ficou por cima de mim, como o peso do corpo todo apoiado nos braços.
Sofia: Sinto mesmo. - Fiquei séria. - Sinto vontade de te jogar de um penhasco ou dar com a tua cabeça na parede. - Olhei em seus olhos. - Sai de cima de mim que eu tô com frio.
Lucas: Eu te esquento. - Sorriu de lado.
Sofia: Não quero, prefiro mil vezes o cobertor. - Ele gargalhou.
Lucas: Sabia que tem mulheres que estão loucas pra ouvir essa proposta sair da minha boca? - Convencido!
Sofia: Que maravilha! Vai atrás delas então.
Lucas: Não.
Sofia: Vai esquentar a Martinha ou a Gerente e sai de cima de mim! - Tentei empurra-lo mas foi em vão.
Lucas: Já disse que não.
Sofia: Então vai pra...
Lucas: Oh a boca suja. - Me olhou de lado. - Você fica muito linda assim toda bravinha e com ciúmes.
Sofia: Eu não tô com ciúmes.
Lucas: Tá sim, mas não precisa. Sabe porquê? - Neguei emburrada. - Porque você é muito melhor que elas. - Não consegui segurar o sorriso. - É mais bonita, simpática e só você consegue fazer meu coração bater acelerado desse jeito. Sente. - Levei minha mão até seu peito e senti seu coração bater em um ritmo acelerado.otaN()

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O Defensor
Storie d'amoreTodo mundo tem um vizinho enxerido, que adora cuidar da vida dos outros. Isso incomoda e muito, principalmente quando se trata do seu ex amigo de infância, no qual você é obrigada a ver todos os dias. Tudo isso me incomodava e muito, até eu descobri...