Capítulo 38

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     • Sofia •
Bárbara: Eu tô trabalhando.
Sofia: Sério? Isso é muito bom. - Sorri largo.
Lucas: Tá trabalhando onde?
Bárbara: Na padaria.
Lucas: Nunca te vi lá.
Bárbara: É que eu fico na cozinha. O padeiro tá me ensinando as fazer as coisas.
Sofia: E você tá gostando?
Bárbara: Por incrível que pareça eu tô amando.
Sofia: Fico feliz. Muito feliz na verdade.
Bárbara: Eu sei disso. - É estranho ter uma conversa assim com a Bárbara. Acho que durante toda a minha vida essa é a segunda vez que conversamos gentilmente. Tá certo que a primeira não se conta, era tudo uma farsa dela e do Gabriel.
Sofia: Você tá conseguindo se virar sozinha mas dispensas da casa?
Bárbara: Tô. É meio solitário ficar lá sozinha, mas também é bom. Eu gosto do silêncio, ele me ajuda a pensar e ver os meus erros.
Sofia: Você sente falta do Gabriel né?
Bárbara: Sinto. - Suspirou audível. - Mesmo com todos os defeitos e os erros, ele é meu pai. E eu o amo. Ele sempre cuidou de mim.
Sofia: Não te julgo por isso. Mesmo odiando aquele homem eu não posso negar que ele sempre foi um bom pai pra você.
Bárbara: Eu me arrependo de ter me aliado a ele e ter te machucado. Talvez se eu não tivesse escutado ele, nada daquilo teria acontecido. Você não teria parado no hospital, eu não estaria sozinha hoje. Eu não vou dizer que sinto muito por ele e o tio Danilo estarem atrás das grades, por que eu não sinto. Eles merecem pagar por tudo que fizeram a você e a Suzana.
Sofia: Você já sabe sobre ela?
Bárbara: Sei. - Seus olhos inundaram. - O Gabriel me contou tudo nessa última visita que fiz a ele. Não vou negar que senti nojo enquanto ele me contava a história toda. É difícil de acreditar que ele fazia isso por amor. Amor muito doentio digasse de passagem. Não sei se senti mais nojo dele, ou do que ele fazia pra ela, ou pra você. Ou por ele dizer que era apaixonado por vocês​ duas. - Uma lágrima escorreu dos seus olhos. - É difícil digerir isso tudo. Ele te criou e se apaixonou. Quem em sã consciência faz uma coisa dessas? Você era uma criança e ele fazia coisas horríveis pra você. Ele é um monstro, um doente! Eu me odeio por ser filha dele e principalmente por amá-lo tanto. - Minha vista embaçou e algumas lágrimas correram pelo meu rosto. - Era pra eu ter feito alguma coisa. Eu não podia ter aceitado isso e muito menos compactuar com essas atitudes nojentas. Eu não consigo me olhar no espelho e não me sentir baixa. Eu sou um monstro tão horrível quanto ele.
Sofia: Não fala isso. - Sai da minha cadeira e fui até o seu lado. Me ajoelhei e puxei-na para os meus braços. - Você errou mas ainda dá tempo de consertar isso tudo.
Bárbara: Não da Sô. - Afundou o rosto no meu pescoço. - Você nunca mais vai ser a mesma. Você vai ter medo pra sempre e nunca vai conseguir confiar em mim. Eu me sinto um lixo!
Sofia: Não fala isso. - Acariciei seus cabelos. Por cima dos ombros dela vi o Lucas tão emocionado quanto eu.
Bárbara: Me perdoa. - Me apertou. - Eu sei que eu já pedi isso uma vez e te apunhalei pelas costas, mas agora é diferente. - Me soltou e olhou nos meus olhos. - Me perdoa Sofia. Me dá uma chance de ser uma pessoa melhor e ser a irmã que você merece.
Sofia: Eu te dou essa chance. - Funguei e enxuguei suas lágrimas.
Bárbara: Obrigada. Eu juro que vou ser alguém melhor. - Passou as mãos no meu rosto. - Eu quero ser alguém tão boa quanto você.
Sofia: Você vai ser alguém mil vezes melhor que eu.
Bárbara: Isso é impossível. - Deu uma risadinha e voltou a me abraçar. - Obrigada.
Sofia: Não me decepcione, por favor.
Bárbara: Não vou. - Desfizemos nosso abraço e trocamos um sorriso sincero. - Hoje começa uma nova fase na minha vida.
Lucas: Tua atitude foi muito bonita.
Bárbara: Eu não fiz mais do que a minha obrigação. - Fiquei de pé e me sentei na cadeira ao lado da dela. - Já tinha​ passado da hora de eu me perdoar com a minha irmã e tentar construir um laço entre nós duas. - Pegou na minha mão.
Lucas: A Sofia sente a tua falta.
Bárbara: Sinto a dela também. - Sorriu pra mim. - Sempre que eu vejo irmãos juntos, passeando ou conversando, eu fico com um pouquinho de inveja, mas é um inveja branca. E agora eu vou poder fazer isso com a minha irmã. - Sorri ainda mais largo.
Quando o café ficou pronto o Lucas nos serviu e se juntou a nós duas a mesa.
Bárbara: Quando vocês dois pretendem me dar um sobrinho?
Sofia: Vai demorar. Tá cedo pra pensar nisso.
Lucas: Quem sabe daqui alguns meses. - Enlaçou nossos dedos. - Quero muito ter um filho com a Sofia. - Me derreti toda. Não resisti e fui obrigada a beijá-lo.
Bárbara: Vocês formam um casal muito bonito.
Lucas: A parte bonita é da tua irmã.
Sofia: Bobo.
Bárbara: A minha irmã é muito bonita mesmo. - Esse é o primeiro elogio que ganho dela. Acho que vou guardar isso pra sempre comigo. Ela bebericou um pouco de café e me olhou. - Esses dias foi uma amiga tua lá em casa.
Sofia: Amiga minha? - Arqueei a sobrancelha e olhei para o Lucas.
Bárbara: É. Ah, meu Deus, como é o nome dela? - Levou a mão até a cabeça. - Acho que é Marcela. Não, Manoela. Ah, não lembro.
Sofia: Mafalda?
Bárbara: Isso. - Bateu na mesa. - Mafalda!
Lucas: O que ela foi fazer lá? - Me olhou.
Bárbara: Foi saber notícias da Sofia. Ela falou algumas coisas que me deixou meio doida. O mais estranho é que parece que ela já me conhecia.
Sofia: Quando eu conheci ela tive a mesma impressão.
Bárbara: Estranho. Você sabe se ela conheceu a Suzana?
Sofia: Ela diz que não, mas as vezes eu duvido disso. Ela falou alguma coisa?
Bárbara: Falou que a Suzana se arrepende de ter ido embora e ter abandonado nós duas. Será que as duas são amigas?
Sofia: Já pensei isso algumas vezes.
Lucas: Talvez a Suzana tenha mandado ela procurar vocês.
Bárbara: Pode ser. Só achei meio estranho ela me procurar sendo que não me conhecia.
Sofia: A Mafalda é bem misteriosa, já tentei desvendar os mistérios dela várias vezes e não consegui.
Bárbara: Eu gostei dela.
Sofia: A Mafalda me ajudou muito. Ela é uma pessoa incrível. - Tomei o restinho do meu café. - Há uns dois, três meses atrás a Dona Karina teve a impressão de ter visto a Mafalda no mercado.
Bárbara: Será que ela voltou?
Sofia: Não sei. Tô pensando em procurar ela.
Bárbara: Eu quero te ajudar. Eu encontrei algumas fotos dela nas coisas do pai, acho que a gente pode fazer alguns cartazes com essa foto e espalhar pela cidade.
Sofia: Tenho algumas fotos também, mas quanto mais melhor.
Bárbara: Vou organizar as fotos e te procuro ainda essa semana.
Lucas: Eu ajudo a colar as coisas. Tem um programinha que dá para ter uma base de como a pessoa tá hoje.
Bárbara: Como assim?
Lucas: Você pega uma foto antiga da pessoa, passa nesse programinha e ela te dá outra foto, só que mais atual. No caso como a pessoa deve estar hoje.
Sofia: Você sabe mexer nesse programa?
Lucas: Não, mas tenho um amigo que sabe. Vou falar com ele amanhã.
Ficamos conversando por mais algum tempo e depois a Bárbara foi embora. Enquanto o Lucas tomava banho, eu admirava cada pedacinho da nossa casa. Ela não é muito grande, mas é do tamanho perfeito pra nós dois. O melhor de tudo é que apertamos aqui, apertamos ali e conseguimos fazer mais um quartinho. É bem pequeno, mas vai dar certinho pra colocar uma cama ali e trazer os meninos pra dormir aqui. Esse pedacinho ainda tá vazio, até porque não pretendemos usá-lo agora.
Até as nossas roupas já estão no roupeiro. Eu tenho os melhores sogros do mundo! A Dona Karina disse que ela mesma fez questão de arrumar o nosso quarto. Só Deus sabe o quanto eu amo essa família.
Saí do quartinho e fui em direção a cozinha mas no meio do caminho encontrei o Lucas e ele me tomou em seus braços.
Sofia: Tá feliz?
Lucas: Muito. - Abriu um sorrisão. - Finalmente o nosso cantinho.
Sofia: Só nosso. - Sorri pra ele, encurtei nossa distância e selei nossos lábios. - Agora eu vou tomar banho.
Lucas: Tá. - Me deu um selinho. - Vou te esperar pra deitar. - Sai dos seus braços e fui pegar minha roupa e toalha. Em menos de cinco minutos eu saí do banheiro e seguimos para o nosso quarto. - O Léo disse que foi ele quem escolheu o sofá.
Sofia: Aquele menino é um amor.
Lucas: Mais amor que eu? - Me abraçou por trás.
Sofia: Não, ele só perde pra você. - Me virei de frente pra ele, rodeei seu pescoço com meus braços e beijei seus lábios. - Eu gosto tanto de você! - Me declarei olhando em seus olhos castanhos.
Lucas: Repete? - Um sorriso bobo surgiu em seus lábios.
Sofia: Eu gosto de você!

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