Capítulo 41

16 1 0
                                        

     • Sofia •
Suzana: Acho que já passou da hora de vocês saberem de tudo. - Olhou para mim e para a Bárbara. - Quando eu vi vocês pela primeira vez depois de anos eu tive vontade de correr e abraçar vocês, mas eu não podia fazer isso. - Voltou a chorar.
Bárbara: Por conta do pai.
Suzana: É. Foi tão difícil pra mim conviver com a Sofia e ficar te vendo de longe e não poder falar a verdade.
Bárbara: Você ficava me olhando? - Seus olhos encheram.
Suzana: Desde que eu voltei eu vou toda noite lá perto da casa de vocês e fico observando tudo. Eu observo a Karina também. Como eu sinto falta desse lugar!
Sofia: Faz quanto tempo que você voltou? - Minha voz falhou.
Suzana: 6 meses. Fazia poucas semanas que eu estava aqui, quando o Lucas e o Vinicius te levaram lá na enfermaria. Só Deus sabe o quanto foi difícil eu manter o sangue frio e limpar seus machucados sem poder chorar. - Algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto. Senti a mão do Lucas segurar a minha. - Assim que eu vi as suas feridas é como se eu tivesse voltado no tempo. Eu me via no seu lugar.
Bárbara: Você se passou por enfermeira para ajudar a Sofia?
Suzana: Eu sou enfermeira de verdade. - Fungou. - Mas sou policial também. Eu escolhi essa profissão juntamente pra conseguir ajudar a sua irmã e tirar vocês duas das mãos do Gabriel. - Olhou para a Bárbara. - Não pense que eu amo mais a Sofia do que você, eu amo vocês duas igual, mas a sua irmã precisava mais da minha ajuda do que você. Eu precisava conviver mais com ela.
Bárbara: Eu entendo. - Sorriu de lado. - O pai nunca fez nada de ruim pra mim, não era preciso você tentar me defender. - Essa é só mais uma prova que a Bárbara realmente está mudando.
Suzana: Fico feliz que entenda. Eu tentei te fazer denunciá-lo mas você não quis, então a única coisa que me restou fazer foi vigiar seus passos. - Me olhou.
Sofia: Por que você não contou a verdade antes?
Suzana: Por medo. Fiquei com medo que o Danilo ou o Gabriel fizesse alguma coisa a vocês ou a mim também. Os dois tinham comparsas por toda parte, eu não podia dar uma passo em falso.
Sofia: Como que o Danilo nunca te reconheceu?
Suzana: Não sei. Eu evitava encontrar com ele, mas algumas vezes era impossível evitar. Algumas vezes eu acho que ele chegou a desconfiar mas nunca falou nada. Eu também mudei bastante, seria quase impossível me reconhecer.
Lucas: A mãe te reconheceu no supermercado.
Suzana: A Karina foi a única. Eu sei que é difícil entender o meu lado. Sei que durante anos vocês se sentiram abandonadas por mim e até me odiavam, não posso julgar, eu sentiria o mesmo. Eu me odeio por ter ido embora.
Sofia: Se você não tivesse ido, hoje nós duas ainda estaríamos nas mãos daqueles monstros. - Funguei. - Você teve o meu perdão quando eu encontrei aquela carta.
Bárbara: Acho que eu nunca te odiei de verdade. - Sai do meu lugar e fui até ela. Eu e a Bárbara a abraçamos ao mesmo tempo e assim choramos.
Suzana: Me perdoem.
Sofia: Eu te perdoou. - Afundei meu rosto em seu pescoço.
Eu venho ensaiando há dias o que eu vou falar quando encontrar a Suzana, e agora ela está aqui e eu não consigo dizer nada.
Depois de longos minutos nos separamos e as lágrimas cessaram. E aí vieram as perguntas. Foi bom esse momento, consegui entender coisas que eu nunca entenderia se não fosse ela.
Suzana: Depois que eu fujo o Gabriel mandou muitos comparsas atrás de mim. Me vi a beira da morte, eu corria ou eles me alcançavam. Um deles até conseguiu me alcançar, mas com a graça de Deus consegui escapar. Andei pelas estradas durante dias, até que eu parei praticamente do outro lado do país. Peguei muitas caronas e consegui ir pra bem longe, mas meu coração estava aqui, com vocês duas. Quase um ano depois eu consegui um emprego decente e foi aí que eu conheci o André, o meu marido. Por coincidência ele já era policial. Confesso que no começo eu me aproximei dele só pra tentar resgatar vocês, mas aí depois acabei me apaixonando. Quase dois anos depois eu tentei voltar pra cá com a ajuda do André, não sei como o Gabriel descobriu e mais uma vez tocou o terror. Ele me deu um tiro e se não fosse o André, acho que eu não teria sobrevivido. Voltamos para a cidade onde moravamos.
Bárbara: Vocês já estavam juntos nesse tempo?
Suzana: Não. Só ficamos juntos quase 4 anos depois. Eu me recuperei e cursei enfermagem. Decidi entrar para a polícia e mais uma vez o André me ajudou e me apoiou. Por mais que eu tentasse ajudar vocês, de lá era difícil. Infelizmente eu não tinha prova nenhuma do que eu sofria. Era só a minha palavra. O tempo passou, eu me casei e surgiu uma vaga na delegacia aqui da cidade. Mexi os pauzinhos e consegui ser transferida pra cá. Aí tudo ficou mais fácil. Daí vocês já sabem o restante da história.
Sofia: O André não veio com você?
Suzana: Veio. Nós trabalhamos juntos, posso dizer que foi ele e vocês que me deram forças para conseguir passar por isso tudo. Foi difícil pra vocês, mas pra mim também não foi nada fácil.
Sofia: Uma vez você me disse que tem outro filho.
Suzana: E tenho. - Sorriu. - O nome dele é Arthur, ele não vê a hora de conhecer vocês. - Sorri largo.
Sofia: Quero conhecer ele também. Você sempre deu tantas pistas que era a Suzana e eu achava que vocês eram amigas.
Suzana: Mas algumas vezes você quase teve certeza que era eu.
Sofia: Principalmente depois do Pimpolhinho. - Ri.
Suzana: Foi bom você falar sobre isso. Você precisa saber quem​ é o teu pai.
Sofia: Eu já sei. É o seu Nícolas.
Lucas: Seu Nícolas da lanchonete? - Deu um pulo no sofá.
Sofia: É. - Contei todo o acontecido mais uma vez.
Mafalda: O Nick era um bom pai e um bom marido, pena que tenha ido embora.
Sofia: Ele teve seus motivos. Ele descobriu que você tinha outro.
Mafalda: Ele deveria ter me dado a chance de convencê-lo a ficar.
Sofia: Se coloca no lugar dele. Você suportaria saber que a pessoa que você ama te trai?
Suzana: Não. - Deu um sorriso triste.
Sofia: Ele ainda te ama e quer te procurar também.
Suzana: Mesmo depois de tudo o que eu fiz ele ainda nutre sentimentos por mim. - Deu um sorrisinho. - O Nícolas é um homem bom, mas infelizmente nosso tempo já passou.
Sofia: Você chegou a morar nos Estados Unidos?
Suzana: Não, porquê?
Sofia: O Seu Nícolas contratou dois detetives e eles disseram a ele que nós duas moravamos lá, inclusive você até mandou recado dizendo que nunca mais queria vê-lo.
Suzana: Eu nunca soube que o Nick nos procurava. Tem alguma coisa muito errada nisso aí.
Lucas: Vou fazer um café pra vocês.
Sofia: Eu já fiz. - Enlacei nossos dedos. - Não vai pra faculdade hoje?
Lucas: Não.
Suzana: Ele só vai se você for. - Nos últimos dias era bem assim. Ou vai os dois, ou não vai nenhum.
Sofia: Você vai continuar trabalhando lá?
Suzana: Não sei. Eu gosto de enfermaria, mas também gosto de ficar só na delegacia. - Assenti.
Lucas: Vou tomar banho. - Beijou meu rosto e levantou do sofá.
Suzana: Vocês são tão bonitos juntos. - Falou assim que o Lucas saiu das nossas vistas.
Bárbara: Já falei isso. Não vejo a hora de ter sobrinhos. - Gargalhei.
Suzana: Quero ter pelo menos 3 netos de cada uma.
Sofia: Não acha muito não?
Suzana: Não. - Riu. Engatamos em um papo sobre filhos e trabalho. A Bárbara contou a ela sobre o emprego na padaria, seus olhos brilharam tanto que foi impossível não sorrir. Agora sim a minha irmã tá criando juízo.
Sofia: Domingo vai ter um almoço em família aqui e eu quero muito que vocês duas venham. - Olhei para a Suzana. - Trás o André e o Arthur também.
Bárbara: Eu posso vim mais cedo pra te ajudar a fazer as coisas se quiser.
Sofia: Quero.
Suzana: Eu não falto esse almoço por nada. Já até consigo ver a alegria no rostinho do Arthur quando eu contar pra ele.
Quando as duas foram embora fechei as janelas que estavam abertas e me deitei no sofá. Repassei em minha mente cada momento que vivi hoje, dá pra dizer que é coisa de novela, mas não é não, isso aqui é vida real.
Durante bastante tempo eu pensei em como seria o reencontro com os meus pais e hoje vejo que a emoção foi muito maior do que eu imaginava.

O DefensorOnde histórias criam vida. Descubra agora