Capítulo 1

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•Lucas•
Mais uma vez ouvi gritos durante a madrugada. Isso já virou costume, toda noite é isso. Quando não é grito, é choro ou gemidos de dor. O que mais me deixa intrigado não é nem os barulhos, e sim de onde vêm eles.
Tem alguma coisa de errado na casa que fica de frente para minha. Meus pais dizem que isso é maluquice minha, mas algo dentro de mim diz que estou certo. Talvez demore, mas um dia eu descubro o que tem de errado ali.
Paulo: Vigiando a casa da Sofia de novo, Lucas? - Me repreendeu. Fechei a cortina e me virei pra ele.
Lucas: Essa noite o choro foi mais intenso.
Karina: Você está enlouquecendo meu filho, a única pessoa que escuta essas coisas é você.
Lucas: Eu não estou louco. Um dia vocês ainda vão me dar razão e vão ver que eu estava certo.
Leandro: Às vezes eu acho que o Lucas anda se drogando.
Lucas: Cala a boca. - Dei uma última olhada pela janela e me sentei a mesa com a minha família.
Paulo: Fala direito com o seu irmão.
Lucas: Desculpa. - Revirei os olhos e peguei um pão da cesta. - Depois do trabalho eu não vou voltar pra casa, vou ir direto pra faculdade.
Karina: Vai fazer hora extra?
Lucas: Vou.
Leonardo: Mamãe! - Gritou.
Karina: Não grita Leonardo, você sabe que eu não gosto disso. - Falou brava saindo da mesa e indo a procura do filho mais novo.
Leandro: Às vezes acho que ele faz isso só pra provocar a mãe. - Riu.
Lucas: Também acho. - Dei uma mordida no meu pão.
Paulo: Leandro, você vai ter que levar e buscar o Léo da escolinha hoje.
Leandro: Tá. - Alguns segundos depois apareceu a mãe e o Léo. O pequeno sentou do meu lado e sorriu pra mim.
Lucas: Animado pra ver os amiguinhos?
Leonardo: Muito. Eu quero pão igual o Lucas.
Leandro: Toma. - Entregou o pão a ele.
Karina: Hoje eu trabalho até às 23:00 horas, então tentem não colocar fogo na casa até a hora que eu chegar.
Lucas: Quando eu sair da faculdade, eu pego a senhora no hospital.
Karina: Obrigada filho.
Leandro: Hoje a tarde eu não tenho curso então vou ficar por aqui com o Léo.
Paulo: Qualquer problema vocês vão pra casa da Dona Júlia.
Leandro: Pode deixar.
Terminei de tomar café e me levantei da mesa, coloquei minha xícara na pia e fui para o banheiro escovar os dentes e arrumar o cabelo. Saí do banheiro e fui para o meu quarto, peguei minha mochila, uma muda de roupa limpa pra ir pra faculdade mais tarde, a chave da moto e da casa.
Lucas: Eu já vou indo. - Falei assim que voltei pra cozinha. - Quer carona pai?
Paulo: Não obrigado, vou ir pra fábrica com seu tio. - Beijei a testa dos meus pais e depois dos meus irmãos.
Lucas: Até mais tarde.
Leandro: Até.
Leonardo: Tchu Lu.
Lucas: Tchau campeão.
Karina: Cuidado na estrada filho.
Lucas: Pode deixar. - Saí da cozinha, arrumei a mochila nas minhas costas e fui pra garagem, peguei o capacete em uma das prateleiras e subi na moto. Liguei a moto, coloquei o capacete e assim que sai na rua vi a Sofia, usando sua velha calça jeans, blusa rosa de mangas compridas e o all star nos pés como de costume. Acelerei e em segundos parava a moto no seu lado. - Bom dia. - Sorri.
Sofia: Bom dia. - Respondeu sem muita animação.
Lucas: Tá indo pra onde? - Ela revirou os olhos. É claro que eu sei pra onde ela vai. A Sofia trabalha na lanchonete perto da faculdade, é lá que ela fica praticamente o dia todo e a noite vai pra faculdade. Nisso somos iguais. - Quer carona?
Sofia: Não.
Lucas: Vamos comigo.
Sofia: Não Lucas. - Ouvi alguém pigarrear e olhei pra trás. Na porta da casa da Sofia está seu padrasto, com a sua habitual cara feio. Não gosto desse cara!
Gabriel: Você não estava indo trabalhar, Sofia? - Cruzou os braços.
Sofia: Na verdade eu estou indo. - Respondeu apressada. - Eu tenho que ir. - Olhou pra mim e saiu andando. Acelerei um pouco a moto e fui seguindo-a.
Lucas: Odeio o jeito que ele fala contigo.
Sofia: Eu já acostumei.
Lucas: Não devia. Você vai pra lanchonete de ônibus?
Sofia: É.
Lucas: Vamos comigo. - Voltei a insistir.
Sofia: É melhor não. - Suspirou. - Não quero arrumar problemas para você.
Lucas: Que tipo de problemas?
Sofia: Se você continuar de papo aqui vai perder a hora. - Trocou o assunto.
Lucas: Não me importo. - Só parei a moto quando chegamos no ponto de ônibus. Tirei o capacete e baguncei meus cabelos.
Lucas: Tá tudo bem contigo?
Sofia: Sim, porquê?
Lucas: Nada não. - Olhei para o céu e vi que os primeiros raios de sol surgiam. - Ouvi barulhos vindo da tua casa essa noite. - Olhei pra ela.
Sofia: Que tipo de barulho? - Ficou séria.
Lucas: Choro.
Sofia: Não era lá em casa. - Olhou pra estrada. - Que demora do ônibus. - Bufou.
Lucas: Eu já ofereci carona.
Sofia: E eu já disse que não quero.
Lucas: Como é que tá a Bárbara? - Ela me olhou de lado.
Sofia: Tais de rolo com ela também?
Lucas: Não. - Ri. - Eu lá sou louco de me meter com a Bárbara. Só perguntei porque faz tempo que eu não vejo ela.
Sofia: Não perde grande coisa. Aquela lá é outro encosto na minha vida. Invés de ganhar uma irmã, eu ganhei uma cruz, muito pesada por sinal.
Lucas: Vocês não se dão bem? - Negou.
Sofia: Nem todo mundo tem a mesma sorte que você! Quem me dera ter irmãos iguais aos Leandro e o Leonardo.
Lucas: Graças a Deus, eu tive sorte. - Coloquei o capacete. - Já que você não quer carona eu já vou indo. A gente se vê na faculdade.
Sofia: Nem pense em ir atrás de mim lá. Nem lá e muito menos aqui.
Lucas: Por que? Tem medo? - Brinquei.
Sofia: Só não quero que você se machuque. - Olhou nos meus olhos.
Lucas: Eu estava brincando. - Fiquei sério também. - Por que eu iria me machucar?
Sofia: Só faz o que eu te pedi. O ônibus tá vindo. - Liguei a moto e sai dali.
Cheguei na loja que trabalho aéreo e passei o dia inteiro assim, as palavras da Sofia não saiam da minha cabeça, e fizeram com que eu ficasse ainda mais curioso pra saber o que ela esconde.
Pelo jeito as coisas naquela casa é muito pior do que eu imaginava.
Quando o meu expediente acabou troquei de roupa em um dos banheiros da loja, passei um pouco de perfume e me despedi do pessoal.

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