Capítulo 2

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•Sofia•
Quando o Lucas seguiu seu caminho, respirei aliviada. Preciso fazer alguma coisa pra manter ele longe de mim. O que eu menos quero é que ele se machuque.
Assim que cheguei na lanchonete cumprimentei o seu Nícolas, dono do estabelecimento e já fui direto colocar o uniforme.
Por ser segunda-feira, o movimento hoje foi mais calmo, então deu pra estudar entre um intervalo e outro.
Quando o expediente acabou, troquei de roupa, me despedi do seu Nícolas e segui pra faculdade caminhando. Um pouco antes de entrar no Campus, vi o Vinícius vindo em minha direção.
Vinicius: Oi gata. - Me abraçou forte.
Sofia: Oi. - Beijei sua bochecha.
Vinicius: Tudo bem?
Sofia: Tudo. - Saí dos seus braços e voltamos a caminhar.
Vinicius: Vamos ali comprar alguma coisa pra eu comer?
Sofia: Vamos. - Seguimos para lanchonete da faculdade. Enquanto o Vini fazia seu pedido, eu ia procurando com os olhos uma mesa desocupada. - Vamos sentar ali. - Apontei pra uma mesa afastada. O Vinícius passou os braços pelos meus ombros e seguimos pra mesa escolhida por mim. Nos sentamos frente a frente.
Vinicius: Você tá com uma cara de cansada.
Sofia: E tô. - Coloquei minha mochila na cadeira ao lado. - Não aguento mais vir pra essa droga.
Vinicius: Por que não tranca por algum tempo?
Sofia: Porquê o Gabriel me mataria e eu não ia suportar olhar pra cara dele e da Bárbara por mais quatro horas.
Vinicius: Você usa a faculdade como uma válvula de escape né?
Sofia: É. - Suspirei. - Talvez se eu fizesse o curso que eu quisesse, teria mais ânimo.
Vinicius: Aquele imbecil se mete até no que você estuda. - Bufou. - Eu odeio aquele cara!
Sofia: Eu também. - Apoiei o rosto nas mãos.
Vinicius: Aceita? - Apontou para coxinha. Neguei.
Sofia: Eu faço isso o dia todo, acha mesmo que eu vou querer comer?
Vinicius: Não. - Riu. - O Lucas tá olhando pra cá.
Sofia: Quê? - Olhei pra onde o Vinícius olhava. O Lucas está com seu grupinho de amigos, como de costume. - Ele me ofereceu carona hoje de manhã. - Voltei a olhar para o meu amigo.
Vinicius: Você aceitou né?
Sofia: Claro que não.
Vinicius: Você é muito burra, o cara é um gato. Eu ia adorar ficar agarrado com ele em cima de uma moto. - Gargalhei.
Sofia: Você é louco Vini. Apaga esse fogo aí, vocês dois gostam de coisas diferentes.
Vinícius: Eu sei. - Lamentou. - Esse homem é o meu sonho de consumo.
Sofia: Que bicha assanhada.
Vinicius: Vai dizer que você não gostaria de dar uns pega nele.
Sofia: Não gostaria. O Lucas nem é isso tudo. - Fiz pouco caso.
Vinicius: Você é louca Sofia, vou pagar um médico da cabeça pra ti.
Sofia: Aí quem vai precisar de um médico vai ser ele. - Ri. - Vou no banheiro, fica de olho nas minhas coisas.
Vinicius: Vou terminar de comer e vou pra sala.
Sofia: Eu te encontro lá então. - Me levantei ainda olhando para o Vini. Assim que dei o primeiro passo, esbarrei em alguém e por pouco não cai.
Lucas: Peguei você! - Me segurou forte pela cintura e me puxou contra seu corpo. Se não fosse isso, provavelmente eu estaria no chão. Levantei meus olhos e encontrei os do Lucas.
Sofia: Será que você pode me soltar? - Perguntei alguns segundos depois.
Lucas: Claro. - Ele tirou as mãos da minha cintura e deu dois passos pra trás. Todo o pessoal que estava ali nos olhava. Pelo menos uma vez na vida aquelas pessoas me olharam de verdade. - Você se machucou?
Sofia: Não, graças a você. - Sorri pra ele. - Obrigada.
Lucas: Não precisa agradecer. A culpa foi minha, passei correndo por aqui e nem vi que você ia levantar.
Vinicius: Duvido que não viu. - Olhei pra trás e fuzilei ele com os olhos.
Lucas: Você estava indo onde?
Sofia: No banheiro.
Lucas: Tô indo para aquela direção também. Vamos juntos.
Sofia: Te encontro na sala Vini.
Vinicius: Tá. - Me deu uma piscadela. O Lucas e eu começamos a sair da lanchonete e as pessoas iam cochichando.
Sofia: Odeio esse tipo de coisa.
Lucas: Eu também não gosto.
Sofia: Se eu fosse você saia de perto de mim.
Lucas: Por que? - Arqueou uma das sobrancelhas.
Sofia: Não vai ser bom pra sua reputação ser visto comigo. - Ele riu.
Lucas: Que reputação? E o que tem de mais o pessoal me ver contigo?
Sofia: Você é o cara mais cobiçado de todo o campus, se não sabe. E eu sou a esquisitona, a feia, gordinha, entre outras coisas que o pessoal me chama. Não vai ser bom pra você ser visto conversando comigo, o pessoal vai comentar e a tua linda fama vai para o brejo.
Lucas: Não ligo para os outros vão dizer e muito menos pra minha reputação. - Me olhou. - Você não deveria dar ouvidos para o que essa gente mal amada fala.
Sofia: Falar é fácil.
Lucas: Posso perguntar uma coisa?
Sofia: Pode.
Lucas: O que você tem com o Vinícius? - Comecei a rir. - Vocês tão namorando?
Sofia: Você é louco. - Me encostei em uma das paredes e continuei rindo.
Lucas: Qual é a graça?
Sofia: Você! - Enxuguei algumas lágrimas. - O Vinicius é gay, Lucas.
Lucas: Sério? - Assenti. - Eu sempre pensei que vocês tinham alguma coisa. Que vergonha.
Sofia: Ele disfarça bem né?
Lucas: Muito. Acho que ninguém sabe disso.
Sofia: E eles vão continuar não sabendo.
Lucas: Minha boca é um túmulo.
Sofia: Acho bom. - Fiquei séria.
Lucas: Por que ele esconde?
Sofia: Os pais dele não aceitam. Quando ele contou, o pai até o expulsou de casa.
Lucas: Que babaca.
Sofia: É. - Suspirei. - Já chegamos.
Lucas: Pois é. - Olhou pra porta do banheiro. - A gente tem que conversar mais vezes.
Sofia: Acho melhor não. Tchau Lucas. - Entrei no banheiro antes que ele falasse qualquer coisa. Entrei em uma das cabines e fiquei por alguns minutos lá dentro.
Esperei as meninas sair do banheiro pra eu sair da cabine, lavei minhas mãos e o rosto e sai do banheiro. Caminhei a passos largos até a sala, assim que entrei lá me sentei ao lado do Vinicius e encostei minha cabeça em seu peito.
Vinicius: Que foi? - Acariciou meus cabelos.
Sofia: Nada.
Vinicius: A conversa com o gato do Lucas foi boa? - Ri.
Sofia: Ele pensa que você é meu namorado, sabia?
Vinícius: Sério? - Riu. - O meu negócio é outro.
Sofia: Eu falei pra ele. - Fechei os olhos e aproveitei aquele carinho. A única pessoa que me trata desse jeito é o Vinícius, ele é sempre carinhoso e atencioso. Na maioria das vezes chego a pensar que a única pessoa que gosta de mim de verdade e me ama do jeito que eu sou, é ele. Acho que é isso que faz com que ele seja o meu melhor amigo.
Vinicius: Tá gostando do carinho?
Sofia: Tô.
Vinicius: Manhosa. - Beijou meus cabelos. Olhei em direção a porta e vi o Danilo no corredor, me afastei do Vinicius de presa e ajeitei minha postura. - O que foi?
Sofia: Nada.
Danilo: Boa noite pessoal. - Falou assim que entrou na sala. - Animados pra aula de hoje? - Um pouco antes de se sentar ele me olhou sério. Esses olhares me causam calafrios.
Vinicius: Odeio a cara de sonso desse cara. O pior professor que tem aqui é ele.
Sofia: Pelo menos você não é obrigado a olhar pra cara dele fora daqui. - Olhei para o meu amigo. - Ele é irmão do meu padrasto.
Vinicius: Por que nunca me contou isso? - Dei de ombros.
Sofia: Não gosto muito de falar que ele faz parte da minha família. - Família, eu nem sei mais o que significa essa palavra.
As aulas passaram se arrastando e a todo momento o Danilo dava um jeito de pegar no meu pé ou me criticar. Quanto mais eu odeio ele, mais ele inferniza a minha vida.
Danilo: Presta atenção na aula, Sofia! E você Lucas, presta atenção em mim e não nela. - Apontou pra mim. Disfarçadamente olhei pra trás e vi que o Lucas continuava a me olhar. Pedi a Deus que o Lucas parasse com isso ou nós dois iríamos nos dar mal. Acho que Deus ouviu as minhas preces e o Lucas parou de olhar.
Quando a aula do Danilo acabou dei graças a Deus e consegui respirar aliviada novamente.
Vinicius: Ei. - Pegou na minha mão. - Você tá bem?
Sofia: Tô. - Sorri forçado.
Vinicius: Parece tensa.
Sofia: Não é nada.
Vinicius: Você sempre fica assim nas aulas do Danilo.
Sofia: Impressão sua. - Soltei sua mão. - Eu vou beber água e já volto. - Sai da sala praticamente correndo e fui no bebedouro mais próximo, bebi bastante água e consegui me acalmar.
Quando eu estava voltando pra sala encontrei o Danilo escorado em um dos corredores, tentei passar por ele mas não consegui, suas mãos me puxaram forte e me jogaram contra a parede.
Danilo: Qual é a tua com o Lucas? - Pegou nos meus cabelos.
Sofia: Nada. - Meus olhos inundaram.
Danilo: O Gabriel não vai gostar nadinha quando eu contar sobre a tua amizade com o Vinícius e as olhadas do Lucas.
Sofia: Por favor, não fala nada. - Supliquei chorando. - Eu te imploro.
Danilo: Avisa para o Gabriel que eu vou lá amanhã. - Puxou ainda mais os meus cabelos. A dor já estava insuportável, sentia o casco da cabeça arder. Sem consegui me conter solucei por causa do choro e soltei um gemido de dor.
Lucas: Solta ela! - Esbravejou e o Danilo riu. - Eu já mandei você soltar. - Puxou o Danilo pela gola da camisa e o afastou de mim.
Não sei se fico aliviada pelo Lucas ter me salvado ou se entro em um desespero maior ainda por saber o que está por vim.

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