Capítulo 44

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     • Sofia •
Sofia: Tá se sentindo melhor? - Perguntei depois de dar a primeira garfada na comida.
Vinicius: Tô. - Sorriu de lado. - Obrigado por ter me dado atenção e por ouvir os meus problemas.
Sofia: Não precisa agradecer. Você também já fez muito isso por mim.
Vinicius: Amigo é pra essas coisas. - Assenti. - Você e o Lucas estão bem?
Sofia: Estamos. Tá tudo tão bem que eu fico até com medo.
Vinicius: É difícil não ter. Alguma notícia do Danilo ou do Gabriel?
Sofia: Graças a Deus, não!
Vinicius: A gerente do Lucas ainda anda cercando ele?
Sofia: Anda. - Suspirei. - O Lucas é boca aberta e não percebe as coisas, ele diz que ela parou com as investidas, mas vira e mexe ela liga pra ele. Esses dias ela teve a cara de pau de dar um presente pra ele, acredita?
Vinicius: Que piranha. Ele não aceitou, né?
Sofia: Aceitou. O Lucas é todo certinho, não sabe recusar presente.
Vinicius: Fica de olho, ela não vai parar com isso tão cedo.
Sofia: Eu tô ciente disso. Eu queria que o Lucas saísse da loja, se afastasse daquela mulher, mas eu não vou pedir isso. Não quero fazer o papel da namorada possessiva e insegura.
Vinicius: É complicado. O Lucas também poderia colaborar.
Sofia: Não sei o que eu faço. - Torci a boca.
Vinicius: Dá tempo ao tempo.
Sofia: Eu tenho medo que o Lucas caia nas provocações dela. De certo modo eu não posso tirar a razão dele, ela da pra ele coisas que eu não dou.
Vinicius: Vocês ainda não fizeram nada? - Neguei.
Sofia: Eu tento, mas não consigo. - Olhei para o meu amigo.
Vinicius: Isso é normal, olha o que você passava.
Sofia: Quem passava era eu, não o Lucas.
Vinicius: Na minha opinião isso não é desculpa pra ele te trair. Você não deve dar razão nenhuma a ele, ele sabia das coisas que você passava. Ele tem que te respeitar e ter paciência.
Sofia: Só não sei até quando ele vai aguentar isso.
Vinicius: Não pensa nisso, o Lucas te amo e nunca te trocaria por aquela lá.
Sofia: Que Deus te ouça. - Quando meu horário de almoço acabou voltei para a lanchonete e o Vini foi para a casa. Me senti mais tranquila quando ele disse que já se sentia melhor. O que eu mais queria era poder arrancar todo o sofrimento do meu amigo.
Troquei mensagem com o Lucas praticamente o dia todo. Quando o expediente acabou quem me levou para a casa foi o Seu Nícolas, me despedi dele com um abraço apertado e corri para a minha casinha. Assim que abri a porta vi o Lucas deitado no sofá, com um edredom cobrindo até o pescoço e assistindo tevê.
Lucas: Oi.
Sofia: Oi. - Voltei a fechar a porta, deixei minha bolsa num cantinho e me sentei do seu lado. - Como você tá?
Lucas: Tô melhor, mas a tarde piorei bastante.
Sofia: Por que não me contou?
Lucas: Não quis te preocupar. - Fungou. - A mãe esteve aqui, me deu um remédio e ficou me fazendo companhia. Por isso não falei nada. - Assenti. - Não fica chateada.
Sofia: Não tô. - Sorri de lado. - O que você almoçou?
Lucas: A sopa de ontem a noite.
Sofia: E a febre? - Levei minha mão até sua testa que aparentemente está em uma temperatura normal.
Lucas: Quase 39, mas como eu disse a mãe estava aqui.
Sofia: Vou tomar banho quente agora. - Fiquei de pé.
Lucas: Você parece meio preocupada.
Sofia: Só tô com algumas coisas na cabeça, depois eu te conto.
Lucas: Mas tá tudo bem?
Sofia: Tá.
Lucas: Eu fiz alguma coisa?
Sofia: Que eu saiba não. Ou fez? - Arqueei uma sobrancelha.
Lucas: Não. - Respondeu rápido.
Sofia: Acho bom. - Segui para o quarto, procurei uma roupa quentinha, minhas peças intimas e fui para o banheiro. Tomei um banho longo e consegui relaxar um pouco. Quando sai do banheiro, encontrei o Lucas do mesmo jeito. - Tá com fome?
Lucas: Não.
Sofia: Eu também não tô, então não vou fazer janta hoje.
Lucas: Você quem sabe.
Sofia: Vou lá na padaria comprar alguma coisa pra gente comer mais tarde e pra tomar café da manhã.
Lucas: Eu te levo lá.
Sofia: Não senhor, nada de pegar friagem e o vento da moto. Eu peço a bicicleta da dona Joana e vou lá rapidinho.
Lucas: Toma cuidado. - Assenti com a cabeça. Fui até o quarto, assim que voltei para a cozinha e coloquei a mão na maçaneta da porta o Lucas me chamou. Apenas movi minha cabeça em sua direção. - Você tá estranha.
Sofia: Depois a gente conversa.
Lucas: Você nem falou comigo direito quando chegou. O que eu fiz?
Sofia: Nada, já disse. Eu não demoro. - Abri a porta e sai.

• Lucas •
Passei o dia todo mal, fiquei contando os minutos para a Sofia chegar em casa pra gente ficar juntinho e ela me chega desse jeito. Eu sei que eu não fiz nada, mas já coloquei meu cérebro funcionar pra ver se eu falei alguma coisa que pudesse magoá-la.
Me levantei do sofá, vesti meu casaco e fui fazer café, quem sabe assim a Sofia fique melhor.
Quando ela chegou o café já estava pronto e na garrafa.
Peguei duas xícaras e servi nós dois.
Sofia: Não precisava ter se levantado pra fazer. - Falou enquanto se sentava.
Lucas: Só quis te ajudar, você tá cansada, trabalhou o dia inteiro. - Ela assentiu​. Puxei uma cadeira e sentei do seu lado. - Como foi o primeiro dia do Leandro?
Sofia: Ele foi bem, já se enturmou.
Lucas: Que bom. - Tomei um gole do meu café, mas continuei olhando pra ela. - Não vai me dizer o que tá te deixando preocupada?
Sofia: É o Vini. - Suspirou e me olhou. - Ontem ele saiu com o Cadu e uns caras agrediram eles. Os olhos dele estão inchados, ele mal consegue abri-los.
Lucas: Eu não entendo o que leva um ser humano fazer isso com o outro. Se ele é feliz assim porque implicar e agredir? Deixa eles em paz! Ninguém é obrigado a gostar ou aceitar, mas acho que o respeito tem que estar em primeiro lugar.
Sofia: Também acho. - Deu um sorrisinho de lado. Comi um pedaço de pão e a Sô outro, depois fizemos nossas higienes​ e fomos nos deitar. Mas dessa vez a Sofia não veio deitar no meu peito, nem ao menos chegou perto de mim.
Lucas: O que você tem?
Sofia: Nada, só tô cansada. - Suspirei audível. - Boa noite. - Ela simplesmente virou de costas pra mim e dormiu, ou fingiu muito bem. Filha da mãe! Como eu vou descobrir o que essa mulher têm se nem falar comigo, ela fala? Peguei meu celular e fiquei trocando mensagem com a mãe e com o Leandro. Aproveitei e mandei mensagem para o Vinicius também, ele precisa dos amigos, agora mais do que nunca. Coloquei meu celular debaixo do travesseiro, apaguei a luz do quarto e voltei a me deitar. Me arrastei na cama e abracei minha Ruivinha por trás, apoiei minha mão em sua barriga e colei meu rosto em seu pescoço, plantei um beijo em sua nunca e fechei meus olhos.
Quando eu estava quase dormindo ouvi a Sofia me chamar.
Lucas: Oi?
Sofia: Falasse com a Gláucia hoje?
Lucas: Não, só de manhã. Você viu. - Respondi de olhos fechados. - Você não estava dormindo?
Sofia: Não. Você tem saído com a Gláucia? - Abri os olhos e levantei a cabeça.
Lucas: Que pergunta é essa? É claro que não! - Ela se virou pra mim e eu me afastei um pouco. Mesmo com a janela fechada a luz do poste ilumina um pouco o nosso quarto, por esse motivo consegui ver seus olhos marejados. - Você tá chorando?
Sofia: Não. - Fungou. - E dormir com ela?
Lucas: Não! De onde você tirou isso? - Apoiei meu cotovelo no colchão e elevei meu corpo.
Sofia: Sei lá. - Passou a mão no nariz. - A gente não dorme junto, talvez você procure nela o que eu não te dou.
Lucas: Sofia. - Respirei fundo. - É por isso que você tá assim? - Ela assentiu. - Não precisa ficar desse jeito. - Levei minha até seu rosto e acariciei sua bochecha. - Eu amo você e não vou ir atrás de outra mulher só porque não transamos. Eu não vou te perder por uma bobeira.
Sofia: Mas você tem suas necessidades.
Lucas: Eu tenho é verdade, mas eu espero por você o tempo que for preciso. Não se preocupa com besteiras.
Sofia: E se eu nunca conseguir? - Uma lágrima escorreu dos seus olhos.
Lucas: Você vai conseguir e eu não me importo em esperar.
Sofia: Obrigada. Me desculpe por ser tão boba, eu só tenho medo de te perder.
Lucas: Você não vai me perder, pode tirar isso da cabeça. Agora vem cá me abraçar. - Ela se arrastou no colchão e colou seu corpo ao meu. Rodeou seu braço na minha cintura e afundou o rosto no meu peito. - Eu te amo, não esquece disso. - Acariciei sua nuca.
Sofia: Eu também te amo. - Sorri. Ela levantou um pouco o rosto e beijou meus lábios.
Lucas: Passei o dia todo esperando por isso. - Ouvi sua risada antes dela me beijar mais uma vez.
Ficamos até tarde conversando e trocando vários beijos. Depois dormimos agarradinhos como de costume, sem nem imaginar o que os próximos dias nos reservava.
Hoje o dia amanheceu diferente, não sei dizer em quê, só sei que está. Antes de sair de casa olhei janela por janela, porta por porta, pra vê se tudo estava fechado direitinho.    

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