Outono de 1999. Eu conheci um rapaz lindo que se chamava Fernando numa danceteria em Resende, cidade onde eu morava. Ele me tratava como uma princesa e me dava lindos buquês de flores e chocolates. Um verdadeiro cavalheiro. E eu fiquei perdidamente apaixonada. Eu tinha dezesseis anos e estava no penúltimo ano do ensino médio. Já o Fernando era doze anos mais velho do que eu e estava no último período da faculdade. Eu era muito ingênua e inexperiente. Ele era um homem feito. Na época todas as pessoas do nosso convívio ficaram escandalizadas com a nossa diferença de idades. Chamaram-no de pervertido, aliciador de menor, tarado e muitos outros nomes pejorativos. Nossas famílias resolveram se encontrar para conversar sobre o nosso relacionamento. A mãe do Fernando não parecia muito satisfeita com o nosso namoro, mas se limitou a dizer que o filho era íntegro e honesto. Depois daquele dia minha mãe viu que aquele relacionamento era sério e que não iria adiantar me proibir de namorar, pois nós arrumaríamos um jeito de nos encontrar às escondidas. Para a minha mãe só a minha felicidade importava. E estávamos tão apaixonados que não ligávamos para a opinião dos outros. Nada poderia nos separar. Ela me levou ao médico, comprou contraceptivos, conversou comigo por horas a respeito de prevenção e cuidados. Com o Fernando eu tive a minha primeira experiência sexual. Foi uma noite especial, com direito a pétalas de rosas pelo quarto e a luz de velas. Ele foi carinhoso, delicado e paciente. Fernando era o meu príncipe encantado: branco, alto, cabelos e olhos castanhos e um sorriso encantador, daqueles que faz a gente suspirar apaixonada. Ele tinha um corpo lindo com músculos bem definidos. Era uma verdadeira tentação e chamava atenção por onde passava, fazendo todas as meninas do colégio babarem quando ele me buscava depois da aula. Estávamos felizes juntos, até que uma gravidez nos pegou de surpresa. Estávamos nos prevenindo e não sabíamos como aquilo tinha acontecido. Novamente as famílias se juntaram para decidir o nosso destino, mas dessa vez foi tudo muito diferente. A mãe do Fernando me acusou de querer dar o golpe da barriga no seu filho e que eu queria enriquecer as custas dela. Segundo ela o nosso namoro não passava de sexo sem compromisso, como já tinha acontecido inúmeras vezes entre o seu filho e outras garotas. O fato da família do Fernando ser dona da maior rede de supermercados da região norte fluminense não significava nada para mim e minha família porque sempre tivemos uma vida confortável. Fiquei triste com tanta bobagem que as pessoas diziam para mim: "Eu sabia que isso ia acontecer!" "Eu avisei!" "Ele só queria te comer !" "Ele não vai te assumir !" "Mãe solteira !"
Minha mãe me apoiou e ficou do meu lado quando eu disse para ela que a minha vida tinha acabado. Com a sua sabedoria e compreensão ela disse que a minha vida estava apenas começando, e que um filho era um novo capítulo da minha história. Fernando me disse que não iria me deixar criar um filho dele sozinha. Então apaixonada e grávida aceitei ser sua esposa sem pensar duas vezes. Minha futura sogra, dona Joana, quase deserdou o filho quando soube que ele me pediu em casamento. Ela me diminuiu só porque eu era uma pessoa vinda de uma família comum, umbandista e negra. Dona Joana sonhava com uma nora diferente, vinda de família rica e com sobrenome importante na cidade para se casar com o seu primogênito. Por causa da intolerância dela, ele cortou relações com a mãe e a impediu de ir ao nosso casamento. Minha mãe resolveu todos os preparativos para a cerimônia. Fernando alugou e mobiliou um apartamento para nós dois em Resende. Na primavera do ano 2000 nós nos casamos. Foi uma cerimônia bonita na igreja, com direito a vestido branco, festa e tudo aquilo que uma garota podia sonhar, inclusive a nossa lua de mel em Penedo. Eu tinha dezessete anos e estava grávida de cinco meses. Fernando tinha vinte e nove anos. Ele trabalhava todo o dia como professor de educação física em uma escola no centro da cidade para que a gente pudesse ter uma vida confortável juntos. Combinamos que o nosso casamento seria uma parceria, que eu não iria ser dependente dele e que continuaria com os meus estudos na área da gastronomia. Em março de 2001 nasceu a nossa filha Eloá, uma menininha linda e risonha que mudou tudo entre nós. Sete meses depois eu estava grávida novamente, só que dessa vez foi planejado. Nós resolvemos ter nossos filhos bem próximos um do outro para criarmos eles juntos. Em agosto de 2002 nasceu o nosso filho Eric, o bebê mais doce e calmo que possa existir. A nossa família estava completa. Ter nossos filhos foi a melhor decisão que tivemos. Três anos depois que nos casamos compramos uma casa em Volta Redonda. O bairro era afastado do emprego do Fernando e da minha faculdade, mas resolvemos fazer esse sacrifício para que nossos filhos pudessem crescer em uma casa espaçosa e ter mais qualidade de vida. O nosso relacionamento tinha altos e baixos, como o de qualquer outro casal. Fernando que era mais experiente conduzia a nossa relação da maneira dele, do jeito que achava que era o certo. E eu era submissa ao meu marido, exatamente como eu acreditava que uma esposa devia ser. Mas com relação aos meus estudos e a minha formação profissional eu não permitia que ele dissesse o que eu podia ou não fazer. Eu tinha um planejamento em mente e queria alcança-lo a todo custo. E de certo modo essa minha postura o incomodava. Ele dizia que eu deveria dar o máximo de atenção aos nossos filhos pequenos e cuidar da casa. E os meus estudos eu deveria deixar em segundo plano. Esse era um dos motivos das nossas brigas intermináveis. Eu não concordava com a opinião dele. Fernando terminou a sua pós graduação um ano depois. Eu conclui a minha faculdade de gastronomia logo em seguida, mas não estava satisfeita. Precisava me especializar e tinha que me destacar na área senão eu seria só mais uma chef de cozinha. Conversei com meu esposo sobre a possibilidade de estudar no exterior para alavancar a minha carreira, mas ele se mostrou totalmente contra. Ele disse que não iria sacrificar a sua carreira como Personal Trainer e sua estabilidade financeira por causa dos meus objetivos profissionais. Seis meses depois de me formar e com a ajuda financeira da minha mãe e da minha vó, embarquei rumo a Paris para estudar no Le Cordon Bleu, a melhor e mais conceituada escola de culinária do mundo. Infelizmente meu esposo e meus filhos não me acompanharam nessa jornada. Fernando ia me visitar com as crianças a cada dois meses. Não foi fácil morar em outro país longe da família. O meu casamento estava passando por um mau momento. Fernando não me apoiava e não me incentivava como eu gostaria. Parecia que nada daquilo tinha importância para ele. Meu marido achava que era desnecessário tanto esforço para estudar gastronomia. Afinal, segundo ele "qualquer pessoa sabe fazer comida e nem precisa estudar para isso." Morei um ano no exterior e quando eu retornei ao Brasil o nosso casamento estava de mal a pior. Fernando começou a beber com frequência e esse novo comportamento dele me incomodava profundamente. Eu queria que as coisas fossem como antes, queria que o meu marido se apaixonasse por mim outra vez. Então eu planejei a nossa segunda lua de mel. Foram dez dias maravilhosos em Natal comemorando seis anos de casados, curtindo a praia e longe dos filhos. Só nós dois namorando e aproveitando a companhia um do outro. Muito tempo depois dessa lua de mel nós ainda continuávamos em perfeita harmonia e apaixonados. Demos um basta na rotina e passamos a ter um tempo só para nós dois, como um casal. Com oito anos de casados as coisas mudaram drasticamente entre nós. Fernando saia de casa e voltava tarde da noite alterado, agressivo e com os olhos vermelhos. No fundo, eu sabia que não era só bebida que ele estava consumindo. Ele também ficou extremamente ciumento e começou a cismar que todo homem que estava no mesmo ambiente que eu estava me cobiçando. Por conta disso ele bebia na intenção e me punia como se eu tivesse culpa por receber olhares de cobiça dos homens. Então quando ele estava alterado eu procurava me manter distante porque se falasse qualquer coisa era motivo de discussões intermináveis e agressões. Na frente dos nossos filhos ele disfarçava e fingia que estava tudo as mil maravilhas. Quando estávamos a sós ele se transformava. Com dez anos de casados e tentando novamente salvar meu relacionamento, saímos em lua de mel pela terceira vez. Ficamos oito dias em Fortaleza, em uma viagem romântica de reconciliação. Nós ainda nos amávamos muito, então eu acreditava que valia a pena dar uma nova chance ao relacionamento. Renovamos nossos votos, fazendo juras de amor e fidelidade um ao outro. Em todo esse tempo de casados sempre tentei manter acessa a chama da paixão e sempre fui uma esposa fiel e dedicada. Hoje com dezessete anos de casados as coisas são completamente diferentes. Temos nossos empregos, nossos horários de trabalho são corridos e quase não ficamos em casa. Eu e minha amiga Gabriela, ambas chefes de cozinha conceituadas e com estrelas Michelin, investimos muito em nossa sociedade para, hoje em dia, meu sonho profissional ter sido realizado. Agora sou dona do meu próprio negócio: o Bistrô Paris Elysée, que cada dia cresce mais e consolida no cenário gastronômico. Fernando trabalha em um grande clube de futebol como preparador físico há um ano e é muito conhecido no meio esportivo pelo trabalho impecável e excelentes resultados dos atletas que passam pelo seu treinamento. Somos bem sucedidos profissionalmente e levamos uma vida confortável financeiramente. Já o nosso casamento não é tão bem sucedido assim...
O ciúme dele só aumentou. Meu marido se tornou um homem frio e distante que praticamente não presta atenção em mim e nunca arruma tempo para ficarmos juntos. Seu trabalho é a única coisa que realmente interessa. Além disso ele trabalha seis dias na semana no clube enquanto eu trabalho seis dias por semana no Bistrô, então nossas folgas nunca batem. Tentar manter o relacionamento em um cenário como esse é praticamente uma missão impossível, ainda mais quando eu sinto que sou a única interessada em manter o casamento a responsabilidade de salvá-lo sempre recai sobre mim. O sexo costumava ser bom, embora eu não tenha como comparar, pois o único homem que eu tive a vida toda foi o Fernando. Eu aprendi como dar prazer a ele de todas as formas, sabia do que ele gostava e fazia tudo para agradá-lo. Sendo assim, fomos aprimorando nossa maneira de transar com o passar dos anos, mas sempre de acordo com as preferências dele. Sempre fiz tudo o que estava ao meu alcance para despertar o desejo dele por mim. Eu usava lingeries sexys dando destaque a minha bunda grande, que é a parte do meu corpo que ele mais gosta, fazia aulas de dança sensual para apimentar a nossa relação e dançava de maneira provocante para ele. Mas não podia ser nada muito ousado senão ele achava vulgar. Já tentei usar alguns brinquedos eróticos, mas ele não gostou e disse que era coisa de puta. Sem contar que com o passar do tempo eu percebi que ele tinha atitudes machistas e sexistas. Então depois de todo esse esforço, eu resolvi deixar todas essas coisas de lado. Por fim o nosso sexo se tornou mecânico e engessado. Se não fosse o meu vibrador que eu chamo carinhosamente de Max, eu estaria numa situação ainda pior. Faço sexo por obrigação nas raras vezes que ele me procura. E quando o sexo entre nós acontece, ele faz tudo no automático e muito rápido. Fernando é egoísta na cama. Já tentei conversar, mas ele parece não se interessar pelo meu prazer. Ele diz que a esposa tem que satisfazer o marido e que mulher casada "não pode se comportar como uma vagabunda". Pensei que esse comportamento dele era insegurança por conta da sua idade, ou era por eu estar acima do peso. Fernando reclama do meu corpo, ele fala que quando nos casamos eu estava bem melhor que hoje. É impossível ter aquele corpo novamente. Eu era bem mais magra, com manequim 36. Filhos, responsabilidades, vida de casada, trabalho e estudo. A minha vida mudou consideravelmente. E o fato de eu trabalhar na cozinha prejudica qualquer dieta que eu queira fazer. Se bem que eu estou feliz com meu manequim 44, minha bunda grande e minhas coxas grossas. Fiz uma cirurgia reparadora nos seios cinco anos atrás e coloquei próteses de silicone. Fiquei muito satisfeita com o resultado e minha autoestima ficou lá em cima. Eu me cuido como posso, não tenho tempo de ficar horas a fio malhando na academia. Na verdade eu odeio malhar. Gosto de dançar, então faço aulas de dança regularmente e corro cinco quilômetros todas as manhãs antes de ir ao trabalho. Fernando tem praticamente o mesmo corpo de quando eu o conheci, até porque ele trabalha se exercitando. A única coisa que mudou foram os cabelos que ficaram grisalhos e algumas linhas de expressão em seu rosto. Apesar de tudo eu ainda desejo salvar o meu casamento e tenho esperança que as coisas entre nós mude para melhor.
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CORAÇÃO DE PORCELANA
RomanceUma mulher meiga e gentil é traída, humilhada e maltratada por aquele que lhe jurou amor eterno no altar. Magoada e ressentida, Isadora se fecha em sua própria dor, e perde as esperanças de ser feliz no amor novamente. Depressiva e sem motivos para...