Stupid Sorry 🎶

thirty eight

Sua mãe estava sentada na cadeira a sua frente, com a mesa farta de comida entre eles, enquanto seu pai estava a ponta da mesa a sua esquerda. O silêncio se instalava de tempos em tempos, sendo interrompido somente por assuntos corriqueiros que sua mãe puxava de vez em quando.

Younghoon sentia seu coração acelerado, sua mão estava suando, algo não estava certo, seu pai estava mais estranho que o usual e aquele jantar tinha sido insistência dele, logo ele que sempre fugia dessas interações familiares.

- Estou tão feliz que o filho da Dahyun conseguiu vaga para uma universidade no exterior. – Hyunjin comentou, cortando mais um pedaço de carne e levando a boca.

- E quanto a você, Younghoon? O que pretende fazer? O relógio tá tiquetaqueando, o tempo passando e você nunca mencionou a faculdade que pretende cursar. – Youngnam perguntou, se voltando para o filho.

Younghoon queria que seu coração se acalmasse e sua respiração se controlasse, mas ele não conseguia tirar da cabeça, da pele, a sensação de que algo estava completamente errado.

- Eu penso... em artes cênicas, pai, ou algo voltado a... – mas o resto de sua resposta morreu em sua garganta quando uma risada de escárnio saiu entre os lábios de seu pai.

- Sabia que te matricular nessa escola de maricas te faria se tornar um. – seu pai quase rosnou.

- É uma profissão digna, querido. Já acompanhei peças que nosso filho foi o personagem principal e acredito que ele tem um potencial enorme de ser promissor nessa carreira... – sua mãe interveio em sua defesa.

- Entendo o seu ponto, querida. – ele falou calmamente. Não importava o quão escroto seu pai fosse com ele, Youngnam nunca elevou a voz com sua mãe e sempre a respeitou, fazendo o mínimo que um marido poderia fazer para com sua esposa, a tratando irremediavelmente bem. – Preciso confessar que... quando você engravidou e eu soube que ia ser pai de um menino eu fui o homem mais feliz do mundo. Tinha a mulher mais linda e devota como esposa e ia ter meu filho como melhor amigo, ia ensinar a ele tudo o que eu sabia, leva-lo pra assistir futebol comigo, ensina-lo a flertar com umas garotas. Mas logo eu tive que ir para o exército e as coisas... mudaram, mas estava tudo bem. Eu já tinha lhe dado uma boa educação, então o que poderia dar errado, certo?

“Eu tinha planos para você, Younghoon. Muitos. Agora eu vou ser pai de uma garota e queria que você fosse exemplo pra ela, me ajudasse a lhe ensinar os bons costumes como lhe ensinei, enquanto eu estou fora, entende? Tinha esperanças que você me ajudasse a ser uma figura masculina exemplar na vida de sua irmã. Mais que isso... queria um dia ser avô dos seus filhos, mas... isso nunca vai ser possível, não é mesmo?”

Younghoon já arranhava a palma da mão direita com as unhas do dedo da mão esquerda em intensa ansiedade, mordendo o lábio inferior quase lhe tirando o sangue tamanha a força que prendia seus lábios entre os dentes, mas puxou o ar, tirou coragem sem saber de onde e falou:

- Eu não... não estou entendendo, pai.

- Isso não será possível se por um acaso você continuar deitando com homens. – seu pai falou em cólera.

Younghoon sentiu seu coração descompassar, deixou de respirar por um segundo, seus olhos se arregalando quando seu pai lhe passou um ramo de folhas consideravelmente grosso por sobre a mesa em sua direção. Esticou as mãos trêmulas pra pega-las. Tudo parecia se desenrolar lentamente a sua frente, estava tonto, quase não conseguia acreditar no que estava vendo.

Sua mente começou a trabalhar rapidamente tentando se recordar de quando seu pai poderia ter tido acesso aquelas informações. Prints e mais prints de conversas suas, em grupos de whatsapp, conversas particulares com seus amigos, seus segredos mais íntimos, alguns que nunca haviam sido proferidos em voz alta, todos expostos naquelas folhas, entre ele e seus pais, sobre a mesa. Tinha esperanças de que quando aquela verdade viesse à tona ele já estaria morando na sua própria casa e não teria que lidar com a fúria direta de seu pai.