POV GIZELLYNunca fui ligada ao zodíaco, mas estou começando a acreditar nesse lance de inferno astral pré aniversário. Parece que tudo resolveu dar errado, as obras pelas quais o Talles estava responsável, estão atrasadas e com graves problemas estruturais, alguns clientes tentaram romper os contratos e justo hoje que pensei em ficar feliz com a ultra, meu bebê resolveu não colaborar. Voltei pra construtora, pois tinha muito trabalho pela frente e pelo menos isso me fazia esquecer que meu aniversário se aproximava.
Incontáveis reuniões durante o dia, não tive nem mesmo tempo de almoçar. Minha cabeça já não funcionava direito de tanto problema que eu precisava resolver, no início da tarde teríamos a reunião mais importante.
O senhor Chianca é um dos melhores arquitetos do país, nosso encontro seria para uma possível parceria, assim conseguimos recuperar o tempo perdido das obras que o Talles deixou inacabadas, eu não conhecia o homem pessoalmente e rezava internamente para ele não ser mais um desses velhos arrogantes que ultimamente vem me tirando a paciência.
-Com licença, Gizelly. – Vitória entrou em minha sala. – Senhor Chianca está aqui.
-Encaminha ele pra sala de reunião, estou indo. – Enchi os pulmões de ar, peguei minhas pastas e segui pra sala de reuniões.
Meu tio estava atrasado e de início eu teria que lidar com o homem sozinha, respirei fundo e girei a maçaneta entrando na sala.
-Chumbo? – Franzi o cenho e o homem se virou rapidamente. – O que faz aqui?
-Fala ai, Gi. – Ele tinha um sorriso largo no rosto. – Quanto tempo, cara.
Lucas me puxou pra um abraço caloroso, mas eu nem conseguia me mover direito.
-Que bom te ver aqui. – Ele me soltou me encarando. – Meu pai me mandou, mas achei que ia conversar com o Márcio.
-Seu pai? – Perguntei confusa.
-Vicente Chianca. – Pedi para ele se sentar. – Sou representante dele agora, por isso estou aqui.
-Não sabia que ele era o seu pai. – Dei meio sorriso. – Meu tio ainda não chegou, podemos esperar?
-Claro. – Lucas estava diferente, nada parecido com aquele cara de uns tempos atrás. – E aí, como você está? Virou presidente da construtora?
-Não mesmo, ainda é o meu tio. – Ele assentiu com a cabeça. – Mas estou bem sim.
-Pô, feliz em te ver bem. – Seu jeito esbaforido ainda estava presente. – E aquele lance, parou?
-Parei, não faz mais parte de mim. – Baixei a cabeça suspirando. – Eu quase morri, na verdade eu acho que nasci de novo.
-Eu lembro do seu acidente. – O clima pesou na sala. – Isso me derrubou, me afundei, sabia? Eu fiquei perdido, comecei a usar além do normal, quando vi tava vendendo as paradas da casa dos meus pais, fui morar na rua tá ligado?
-Meu Deus, que barra pesada. – Levei a mão na boca. – Mas e ai?
-Renasci, igual você. – Lucas deu meio sorriso. – Meu pai ficou desolado, minha mãe sofreu um infarto e eu acabei aceitando ajuda. Hoje sou um novo homem, mudei a página.
-Fomos ao fundo do poço. – Concordamos com um aceno.
-Fomos, ainda estou em tratamento. – Ele continuava me contando. – Hoje eu estou focado no trabalho, estou fazendo arquitetura agora, estou ocupando a mente com outras coisas.
-Que legal, fico feliz por você, de verdade. – Dei a mão pra ele. – Eu também me ocupo com outras coisas, academia, filhos, Rafaella.
-Casou? – Abri um sorriso largo.