35º CAPÍTULO - Parte I

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O sangue pulsa nos meus ouvidos, correndo tão rápido quanto a velocidade do meu coração. O aperto na minha mão se torna dolorosamente insuportável, então eu tenho que ficar na ponta dos pés e alcançar o ouvido de Jamie com os lábios.

– Por favor, respire. E... Fique calmo. Você está quase esmagando minha mão. – Acrescento.

Suzanne... Ou Mary, está sentada em sua cama, olhando para ele com as íris azuis brilhantes de lágrimas. E Jamie, as veias do pescoço saltadas e o maxilar rígido e contraído.

– Vem, Jamie. – Dou um passo à frente, mas os pés dele permanecem rígidos no chão, o que me faz voltar para trás.

– O que eu faço? – Ele pergunta quando me viro para ele.

– Converse com ela. – Digo o óbvio.

Uma respiração forçada sai entre os seus dentes.

– Eu não consigo. – Ele assume a sua fraqueza, e minha garganta fecha com as lágrimas.

– Claro que você consegue. Você consegue tudo.

E é a mais pura verdade.

Jamie entrelaça ainda mais seus dedos nos meus, e dá o primeiro passo. Aquela cena nos filmes onde tudo parece estar em câmera lenta acontece mesmo na vida real. Não literalmente, porque isso seria fisicamente impossível, mas acho que o sangue em meu corpo, talvez por causa da aflição, começa a ser bombeado mais devagar, o que afeta meu raciocínio e só me faz ter noção de onde estou quando paramos em frente à cama de Mary Suzanne Carraway.

– Jamie? – A voz fraca e suave dela atinge nossos ouvidos. – Eu...

Olho para ele. Parece perdido, os olhos azuis concentrados nela.

– Por que você deixou que me levassem? – Direto ao ponto como mais ninguém poderia ser.

– Eu não tinha escolha.

– Como não? – Ele diminui o tom rude. – Eu era o seu...

Só pelo fato de Jamie não conseguir dizer a palavra, sei o quanto deve ser difícil para ele estar aqui.

– Filho. – Suzanne completa. – Você era e ainda é.

– Não sou. Claro que não. Uma mãe protege o filho, coisa que você não fez. – O tom mortalmente calmo só me faz ter uma ideia do quão tempestuoso deve estar dentro dele.

Acaricio a mão de Jamie, recebendo em troca outra carícia meio descoordenada. Não sou capaz de fazer mais alguma coisa. Tenho as mãos atadas aqui.

– O seu... Ele. – Ela não diz pai, e fico extremamente aliviada por isso. – Ele que disse que eu não deveria ficar com você, e que isso só afetaria a outra vida dele. – Suzanne olha para baixo e tira os cabelos escuros do rosto.

– E mesmo assim não podia fugir? Podia ter feito o que fosse preciso para ficar comigo, mas me entregou na mão daquele desgraçado do mesmo jeito.

– Anne te contou.

– Claro que ela contou. Tudo o que você fez foi me dar à luz e registrar. Mais nada. Aliás, vocês planejaram tudo. Deram dinheiro para a outra mulher que eu tive como mãe a vida inteira para ela cuidar de mim. E depois eu tive que prometer que não iria mais atrás. Tudo nos mais preciosos detalhes, não é, Mary?

– Depois que você foi embora, Jamie, eu fui jogada aqui. Desde os meus dezessete anos eu estou aqui, e por isso não soube de mais nada de você a não ser nos jornais e na televisão. Até que a sua namorada apareceu.

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