2º CAPÍTULO

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– Adivinha o que temos para hoje? – Um Bob todo sorridente aparece na minha mesa.

Bob é um homem de 1,74, olhos cinzas e calmos, cabelos castanhos e um corpo que não aparenta sua idade. Tem por volta de 43 anos, e é casado há 23. E por ser meu chefe, era para ser um cara que se acha dono do mundo, mas não é bem assim. Pelo contrário. Ele é legal, e mesmo com os deslizes que dou às vezes, me ajuda bastante. E isso é o algo que valorizo. Não me importa se você é podre de rico ou exala poder, sendo humilde e bom na medida do possível com todos a sua volta, para mim está ótimo.

– Pela sua felicidade, um bilhete sorteado da loteria – sorrio.

Revira os olhos e puxa uma cadeira, sentando–se ao meu lado.

– Lembra–se do projeto misterioso?

– Como eu poderia esquecer? – digo. – O senhor está super entusiasmado com ele.

Bob bufa irritado. Pega uma folha sulfite em cima da minha mesa, uma caneta e começa a escrever algumas coisas com certa impaciência. Abre uma gaveta e tira a fita crepe de lá. Cola alguns pedacinhos no verso da folha e depois fixa no monitor do meu computador.

NÃO ME CHAMAR DE SENHOR.

OBRIGADO.

Ergo as mãos como se estivesse me rendendo para o FBI.

– Ok, o senh... – ele me lança um olhar ameaçador, e não posso deixar de rir. – Me desculpe! Você!

– Bem melhor, Anne. – Sorri. – É o seguinte: O dono desse prédio e de vários outros em Nova York contratou o serviço da M&B Arquitetura para planejar outra esplêndida construção.

– Uau! Que ótimo.

– Tenho uma reunião hoje com ele. E quero que você vá comigo.

Pisco os olhos umas três vezes antes de conseguir digerir o que disse.

– É sério? – Não consigo esconder a emoção em minha voz.

– Claro que é, menina. Seu último ano como estagiária tem que ser especial. E juro que estou fazendo o máximo que posso para que seja.

Respiro fundo para não chorar. Mesmo que para alguns uma carreira não signifique quase nada, para mim é tudo. É o que tenho de mais importante em minha vida, e não abro mão disso por nada.

Ele se levanta e eu faço o mesmo.

– Significa muito para mim, Bob. Muito obrigada.

– Por nada, Anne. É Depois do almoço. E coloque um vestido, não acho que camiseta dos Beatles agradará – diz, de brincadeira, e se afasta.

Vestido? Oh, droga. Caio sentada na cadeira. Mesmo que ele tenha dito em tom de brincadeira, sei que uma reunião como essa deve apresentar uma imagem séria e responsável. Não que eu não seja, mas talvez uma roupa mais social ressalte essa ideia.

Olho para o monitor, vejo a palavra SENHOR e me lembro que chamei aquele cara de Sr. Perseguidor de Estudantes de Arquitetura,  e queimo de vergonha. Desde quando eu o encontrei, há três dias, aqueles olhos azuis não saem da minha cabeça. Puta que pariu, aquela voz, aqueles braços e... acho melhor parar de pensar nisso antes que uma calcinha vá pro lixo.

Depois de terminar de analisar algumas maquetes, percebo que o horário do almoço chegou. Pego minha mochila e saio correndo para dar tempo de ir de metrô.

Mando uma mensagem para Sarah:

"Tá em casa???"

Não demora a responder:

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