16° CAPÍTULO

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– Ah, não! Você só pode estar brincando com a minha cara, Anne Mitryad!

– Sarah...

Ela fecha os olhos e ergue a mão esquerda, dizendo implicitamente para eu calar a boca.

– Não diga nada.

Sarah meio que ficou chateada após eu dizer que iria para Los Angeles com Jamie e, por consequência, passaria meu aniversário junto dele. Ela anda em minha frente de um lado para o outro, e eu, sentada no sofá, fico a olhando enquanto procuro as palavras certas. O engraçado é que agora nada parece razoável para se dizer. Ela é minha melhor amiga, eu não posso simplesmente ir e deixá-la quando, por vários anos, passamos nossos aniversários juntas.

– Quando você vai?

– Dia 2. – Ou seja, depois de amanhã.

– O que você vai fazer com o seu trabalho?

– Bob disse que tiraria duas semanas das minhas férias em fevereiro. Então vou ter que passar só uma semana no Brasil.

– Por que não me contou antes? – Pergunta. – Não encolha esses ombros, Anne!

Sem querer, eu encolho os ombros novamente. Sarah grunhe e posiciona as mãos na cabeça como se estivesse prestes a arrancar todos os cabelos.

– Quer saber? – Ela pega a bolsa no sofá e arranca de lá um papel, jogando no meu colo junto com uma folha. – Bons dias em Los Angeles.

Ela vai em direção ao quarto. Pego os papéis. Um é a nota fiscal do mercado. Leio item por item e minha garganta embola: chapéus de festa, balões, engradados de latas de refrigerante e cerveja e tudo mais o que é preciso para uma festa. "Convidados da festa surpresa da Mitryad" é o que está escrito no cabeçalho da folha sulfite. Puta merda... Encosto-me ao no sofá e meu celular apita. É Jamie dizendo que está vindo para cá, já que hoje é sábado e o seu expediente é até o meio-dia. Digo OK e mando uma carinha sorridente.

Agora é a minha vez de andar para um lado e para o outro. Se eu for falar com ela, ela vai me xingar. Droga, não posso cancelar tudo, e nem quero também. Mas também não quero magoar Sarah.

Por medo de ela me expulsar do seu quarto, resolvo ir para a cozinha fazer algo para comer. Picadinho de carne terá que servir. Coloco a carne para descongelar no micro-ondas. O que eu faço? Preciso de uma resposta, uma intervenção divina, qualquer coisa. Jamie chega quando eu estou colocando a panela no fogo. Vem até mim e me beija.

– Você não quer sair para almoçar? – Pergunta.

– Não gosta da minha comida?

– Eu gosto de tudo o que é feito por essas mãozinhas. Mas hoje é sábado, você merece uma folga da cozinha.

Sorrio para ele e desligo o fogo.

Jamie encosta-se à pia e me puxa para os seus braços.

– O que aconteceu?

– Hum?

– Você está pensando muito em alguma coisa. O que é?

– Sarah.

No mesmo instante em que eu falo, ela sai do quarto e passa na cozinha para pegar uma garrafa de água.

– Carraway. – Cumprimenta sem olhar no rosto dele.

– Sarah. – Responde no mesmo tom.

– Você já vai para o hospital? – Pergunto.

Ela não responde e finge que nem ouviu. Coloca os fones de ouvido e sai da cozinha em direção à porta. Suspiro e afundo o rosto no peito de Jamie.

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