22° CAPITULO

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– Por que você não me ligou, Anne? – Bob pergunta parecendo realmente bravo.

Encolho-me na cadeira em sua frente.

– Porque você estava passando o natal com a sua família.

– Anne! Se eu soubesse que você passaria sozinha eu te arrastaria para a minha casa.

– Eu fiquei bem, sério. Tomei vinho, comi chocolates e assisti Grey's Anatomy.

Bob revira os olhos.

– E o ano novo?

– Passarei em uma boate.

– Tem certeza?

Balanço a cabeça, sorrindo. Não são todos os dias que recebo um convite VIP para a Deeve. Tenho quase certeza que minha mãe piraria caso soubesse que meu ano novo não será nada tradicional.

– Você já contou para sua mulher? – Pergunto baixinho.

Ele passa a mão pelos cabelos e encosta-se à cadeira.

– Não. Sou um covarde, fala sério. E o pior não é isso.

– O quê?

O fato de que meu chefe e eu nos damos muito bem é ótimo para mim. Bob sempre foi um grande amigo. Ele sempre dividiu informações sobre sua vida pessoal comigo e eu sempre fiz o mesmo. Não sei se essa relação entre chefe–funcionária é saudável para qualquer empresa, mas até agora sempre elogiaram nosso trabalho como uma dupla.

– Eu estou saindo com um cara – ele diz.

Ai, merda.

– Bob, a situação só piora.

– E ele é bissexual e está com medo que a namorada descubra.

Estreito os olhos.

– Você já percebeu a gravidade disso tudo?

Ele afirma com a cabeça e suspira fundo.

– Vou contar depois do ano novo. Não quero estragar as festas dela.

– Certeza?

– Não. – Bob sorri, colocando algumas folhas em minha frente. – Pronta para o trabalho?

Correspondo o sorriso.

– Sempre.

*

Quando chega o horário do almoço, mudo os planos. Primeiramente eu tinha planejado ficar na M&B e almoçar na cantina, mas a neve deu uma paz, e a previsão é que volte a nevar somente à noite, então pego meu casaco e a minha bolsa e saio para o ar frio de Nova York. A avenida principal está coberta de branco, os únicos pontos coloridos são as pessoas e os carros. Dou alguns passos em direção a rua quando um carro preto para ao meu lado. Abaixa o vidro de passageiro e percebo que é Tom que está dirigindo. A X6, claro.

– Tom, oi.

– Quer uma carona, Senhorita Mitryad?

– Não, obrigada. O restaurante é no outro quarteirão.

– Está frio, Senhorita.

Olho para ele, brava. No mesmo instante percebe qual a razão do meu aborrecimento:

– Está frio, Anne. – Corrige fazendo questão de ressaltar o "Anne".

Dou risada e arrumo a bolsa no ombro.

– Estou bem, obrigada.

Saio andando e percebo que Tom está me seguindo com o carro em uma velocidade baixa em relação aos outros veículos. Ai, droga. Vai atrapalhar o trânsito, e eu não quero ser a razão disso.

Em Seu DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora