30° CAPÍTULO

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O papel cai no chão ao mesmo tempo em que eu. Tento forçar minhas pernas a serem fortes, mas tudo o que eu faço é ficar sentada ali no piso frio sem nenhuma reação. Nenhuma lágrima, nenhuma expressão de terror... Nada. Exceto, talvez, pelas minhas mãos tremendo sem parar.

Com movimentos mecânicos, consigo abrir minha mochila e pegar o celular no bolso interno. Disco o número e espero tocar três vezes.

– Oi, minha Ann. – Jamie está com a respiração acelerada, provavelmente acabando de voltar da academia.

– Jamie. – Balbucio, a minha voz saindo mais fraca do que deveria.

Ele demora alguns segundos.

– Anne?! – Seu tom agora é mais rude. – O que aconteceu? Onde você está?

– No Brooklyn. 

– No estúdio de dança? 

– Sim. Eu... Eu recebi uma carta. Jamie, eu estou sozinha aqui.

– Merda! Onde a dona daí está? 

– Ela teve um imprevisto. 

Ouço-o respirar fundo e falar algo com outra pessoa antes de voltar a conversar comigo.

– Marly está aí na frente. Ele vai entrar e você entregará a carta a ele. Certo? Então ele trará você para casa. 

– Certo. 

Quando termino de falar, Marly entra no estúdio com a arma em punho. Ele só guarda o revólver no cós da calça após olhar meticulosamente em volta. 

Talvez não seja tão ruim ter seguranças me seguindo.

– Ainda está me ouvindo? – Jamie diz.

– Sim. Estou aqui.

– Nós nos vemos daqui a pouco?

– Não há nada que eu queira mais.

Marly me ajuda a levantar e pede para eu entregar o envelope a ele. Segurando-me pelos ombros e com a minha mochila em uma mão, ele me leva até o carro e me coloca no banco traseiro.

E de repente me lembro daquele homem que escreveu a primeira carta para Jamie. O mendigo.

– Marly, preciso que você me leve para um lugar.

– Srta. Mitryad, fui instruído a levá-la para a cobertura.

– Por favor. Vai ser rápido.

– Não vai ser possível, senhorita.

Encosto a cabeça no vidro e ouço a música entediante do rádio. Há outro carro nos seguindo, mas a minha atenção está toda focada nos postes de luz que passam rapidamente. Uma pontada forte no fundo da minha cabeça me faz fechar os olhos de dor.

Como ele descobriu sobre o estúdio de dança? E por que não me machucou? Eu estava vulnerável, sem ninguém perto, exceto por Marly que estava dentro do carro, então... Por quê? Se ele quisesse me matar, já teria o feito.

– Marly? – Ouço a voz de Jamie pelo rádio do carro.

– Sim, Sr. Carraway?

– Já estão a caminho?

– Sim, senhor.

– Como Anne está?

– Bem. – Respondo, elevando a voz o máximo que eu posso.

– Ah. – Ele faz uma pausa. – Está no viva-voz. Depois eu falo com você, Marly. E com você, Ann.

Ele desliga.

Em Seu DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora