10_ O fim do casamento.

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Pelo resto daquela tarde eu fiquei pintando no porão ouvindo músicas, depois eu deitei no meu quarto na intenção de tirar um cochilo mas não consegui. Tentei assistir séries, filmes, curtas, vídeos aleatórios mas falhei miseravelmente.

O Apolo ainda estava na minha cabeça. Eu conheço o Apolo a anos, e eu sei que ele é bastante animado e são poucas coisas que tiram a alegria dele. Era bem raro vê-lo triste ou sofrendo por algo, porém, eu sabia de uma única coisa que sugava toda a alegria dele e o brilho que ele tinha.

Os pais. Infelizmente, os pais deles estavam tendo brigas constantes e o que mais sofria com aquilo era o Apolo. Ele não me contava todos os detalhes, mas eu sabia que as brigas deles eram desgastantes e o Apolo sempre chorava quando acontecia.

Não sabia o porquê, mas o Apolo sempre foi bastante sensível com esse tipo de coisa ㅡ lembro-me vagamente quando a gente era pequeno e eu estava brincando com a minha boneca, ele tentou brincar mas acabou quebrando e eu gritei com ele. Isso resultou em choro do Apolo durante 5 minutos ㅡ , e assim ele tentou me pedir desculpa várias vezes na intenção de receber o meu perdão.

Prendi meu cabelo enquanto descia as escadas percebendo que a sala estava um pouco escura. Liguei a luz me dirigindo até a cozinha na intenção de comer algo, todavia, batidas na porta soaram me fazendo dá a meia volta.

ㅡ Quem é? ㅡ Perguntei me aproximando da porta.

ㅡ O seu par para o baile. ㅡ Revirei meus olhos automaticamente ao ouvir aquela voz bastante conhecida. Abri a porta e encontrei rapidamente com aquele sorriso bobo.

ㅡ Que milagre é esse que não recitou nenhuma peça estúpida? ㅡ Encarei-o seriamente enquanto ele entrava sem ao menos pedir.

Folgado.

ㅡ Não estava muito no clima para Um par para o baile ou até mesmo Oh, Julieta ㅡ Ele respondeu se jogando no sofá. ㅡ Além disso, não queria acordar seu pai.

ㅡ Olha, teve senso dessa vez. ㅡ Murmurei fechando a porta antes de voltar até a cozinha. ㅡ Como foi a aula?

ㅡ Maravilhosa! ㅡ Apolo respondeu, logo apare eu na cozinha e se encostou no balcão e me olhou. ㅡ Hoje estudamos bastante e, surpreendentemente, percebi que o Jorge cozinha muito bem.

ㅡ Hmmm... ㅡ Balancei minha cabeça concordando. Naquele momento eu me perguntava se ele não falaria logo o motivo do sumiço ontem praticamente o dia inteiro.

Eu queria esperar que ele entrasse no assunto, porém, a minha curiosidade e preocupação falava mais alto.

ㅡ E como foi a su... ㅡ Interrompi ele antes que continuasse.

ㅡ Qual foi o motivo do sumiço? ㅡ Questionei-o parando para olha-lo. ㅡ Você sempre dá um jeito de mandar mensagens ou fotos para mim, mas você nem ao menos mandou bom dia. Foi bem estranho. O que foi?

Ele deu um suspiro longo abaixando os ombros antes de passar por mim e sentar na cadeira.

ㅡ Lembra que, a dois meses atrás, os meus pais estavam brigando bastante? ㅡ A sua pergunta me fez encara-lo curiosamente.

ㅡ É claro. Até desconfiei do seu pai achando que ele batia na sua mãe. ㅡ Ergui minha mão para o armário e peguei o pacote de cookies que estava ali. ㅡ Mas, o que isso tem haver?

ㅡ Eles voltaram a brigar. ㅡ O tom do Apolo foi de tristeza. Me sentei na cadeira ao lado dele e comecei a observa-lo atentamente. ㅡ Eu não sei o porquê ainda, mas ontem estava sério e depois que eu cheguei do mercado ficou um clima estranho. Eles tentaram disfarçar, mas antes que eu entrasse escutei claramente os gritos deles. Foi... ㅡ Ele abaixou a cabeça passando as mãos pelos cabelos antes de voltar a me olhar e, com diferença, as lágrimas inudavam seus olhos. ㅡ Foi bem desgastante.

ㅡ Quando você entrou, parou a briga?

ㅡ Sim. ㅡ Apolo assentiu num tom cabisbaixo. ㅡ Sinceramente, eles só disfarçaram porque sabem o que eu sinto em relação a isso. Deixei na cara o quanto eu sinto quando eles brigam.

ㅡ Apolo, eles são seus pais. ㅡ Toquei em sua mão. ㅡ Você ama eles e é claro que vai sentir quando alguma coisa não está indo bem.

ㅡ Só que, dessa vez, o não tá tudo bem tá mais para tudo ferrado ㅡ Apolo murmurou.

ㅡ Como assim?

ㅡ As brigas parecem mais sérias, Maya. Muito mais sérias que as de dois meses atrás.

ㅡ O que é que tem? Eles sobreviveram as dificuldades a dois meses, Apolo, então eles podem passar por isso de novo sem ter que tomar medidas drásticas.

ㅡ Quer dizer, fim do casamento? ㅡ Ele ergueu uma sombracelha.

ㅡ Apolo... ㅡ Ele me interrompeu.

ㅡ Maya, não precisa de palavras bonitas para tentar me convencer que vai ficar tudo bem, ok? Eu posso até ter esperança, mas ainda sim tá na cara que eles já não tem mais lógica juntos e eu tenho que aceitar. ㅡ Percebi que a cada palavra que o Apolo falava era uma dor a mais nos seus olhos. ㅡ Tenho que aceitar o fim do casamento.

No mesmo momento, continuei olhando para o Apolo esperando que ele me olhasse e falasse que iria aguentar tudo. Entretanto, o que ele fez foi apenas chorar.

ㅡ Apolo...

Não aguentei e, simplesmente, sai da cadeira me aproximando dele e colocando meus braços por cima dos seus ombros abraçando-o.

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Meu Melhor AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora