16_ Não fuja dos problemas.

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Me joguei na cama assim que terminei meu banho, coloquei meus braços dobrados embaixo da minha cabeça e olhei para o teto. Suspirei pesadamente.

Fazia poucos minutos que havia chegado em casa. Meus pais saíram para trabalhar então a casa ficava todinha só para mim.

Não vou mentir, era tedioso não ter ninguém para conversar. Ser uma pessoa extrovertida e imperativa era difícil para uma pessoa que era filho único. Meus pais trabalhavam o dia inteiro, pela manhã eu ficava em casa, a tarde eu estudava e pela noite na maioria das vezes eu corria para a casa da Maya.

No entanto, naquele dia, eu e o meu bendito jeito de ser me fez ficar com medo. Era um receio que se encontrou com o meu coração lembrando dos meus sentimentos.

O que eu faria? Me sentia de mãos atadas! A Maya é minha melhor amiga, eu sabia que no ensino médio eu era perdidamente apaixonada por ela. Só que com o tempo fui esquecendo daquele sentimento pela amizade que construímos. O que eu faria se eu perceber que aquela sentimento nunca foi esquecido? Eu falaria para ela? Fingiria, novamente, que não sentia nada? Me magoaria de novo?

Era tantas perguntas que não tinha resposta. E a minha burrice queria evitar a Maya ao máximo por isso.

ㅡ Apolo? ㅡ Tomei um susto ao ver meu pai parado na frente da porta do meu quarto me encarando confuso. ㅡ O que tá fazendo aqui??

ㅡ Brisando ㅡ Afirmei. ㅡ Por que?

ㅡ Nessa hora, você estaria na casa da Maya.

ㅡ ESTARIA. ㅡ Enfatizei. ㅡ Hoje eu não estou muito afim.

ㅡ Apolo, você tá falando com seu pai. O que você mais faz é ficar na casa da garota irritando ela, então você faz questão de estar a todo segundo com a coitada. ㅡ Meu pai falou se aproximando e sentando na ponta da cama. ㅡ O que aconteceu?

ㅡ Estou tentando evitá-la. ㅡ Respondo-o voltando a olhar para o teto.

ㅡ E por que faria isso?

ㅡ Quero que as lembranças parem antes de voltar a vê-la. ㅡ Murmurei num tom baixo. No segundo seguinte pude ouvir o suspiro do meu pai.

ㅡ Apolo, não é assim que você vai resolver a sua situação. ㅡ Deixei de encarar o teto e voltei a olhar para meu pai. ㅡ Não é fugindo da Maya que você vai esquecer das lembranças.

ㅡ Como não? Assim eu não vejo ela, não penso no que aconteceu e nem me lembro de nada. ㅡ Justifiquei. ㅡ Para mim, está mais fácil.

ㅡ É aí que você se engana, Apolo. ㅡ Ele respondeu. ㅡ Primeiro; a Maya vai achar estranho por você NÃO ir na casa dela. Segundo; evitar as mensagens dela, ligações, só vai deixa-la preocupada e é bem capaz dela bater aqui. Terceiro; você nunca, digo NUNCA, deve fugir de um problema.

ㅡ Eu não tô fugindo, pai! ㅡ Exclamei. ㅡ Só estou... evitando.

ㅡ Isso claramente é; fugir. ㅡ Ele revirou os olhos. ㅡ Escuta, Apolo, acha mesmo que assim você vai conseguir parar de lembrar? Acha que é assim que vai resolver as coisas que estão rolando dentro da sua cabeça? Assim você vai piorar. É costume seu ir todo dia, sempre que tem tempo, ir na casa da Maya vê-la. É uma rotina que vocês tem, então a rotina não resume em pensar nos sentimentos. E agora você faz isso para tentar esquecer? Assim você vai pensar mais nela.

Meu pai soltava cada palavra com convicção que me fez pensar. Eu estava evitando a Maya, e não era justo nem comigo, muito menos com ela. Só então eu percebi a burrada.

ㅡ Não é certo fazer isso, Apolo. Não fuga dos problemas. ㅡ Meu pai levantou da cama. ㅡ Agora levanta!

ㅡ Levantar? Por que eu faria isso?

ㅡ Você tem que ir visitar uma certa pessoinha. ㅡ Ele pegou em minha mão e me puxou com tanta força que me fez levantar. ㅡ Anda!!! ㅡ Ele me empurrou para fora do quarto enquanto eu apenas fazia ri dele.

*

Esperei pacientemente que ela abrisse a porta, assim que ela abriu um sorriso debochado e uma sobrancelha erguida surgiu em seu rosto. Engoli em seco ao analisa-la e ver que ela estava mais linda.

ㅡ Olha só quem resolveu aparecer... ㅡ Maya me analisou de cima a baixo cruzando os braços e se encostando no batente da porta. ㅡ O que aconteceu com você? Eu lhe mandei mensagens a manhã inteira!

ㅡ Me desculpa. ㅡ Sorri inocente na tentativa de fazer ela me desculpar. ㅡ Minha bateria descarregou então não tive como avisa-la.

Era horrível estar mentindo para daquela forma, mas era necessário. Infelizmente.

ㅡ Hm. ㅡ Maya murmurou. ㅡ Quais são as palavras mágicas?

Estendi a minha mão onde eu segurava um saco, onde estava a vasilha. Dentro da vasilha havia uma torta preparada por mim essa manhã, e era a preferida dela.

ㅡ Torta de limão. ㅡ Um sorriso enorme e um brilho no olhar dela surgiu. ㅡ Fiz hoje de manhã.

ㅡ AAAAHHHH!!!! ㅡ Ela gritou pegando a vasilha e me abraçando. ㅡ Ai, obrigada, Apolo! Tá desculpado.

Coloquei meu braço em sua cintura de repente sentindo ela encostar sua cabeça no meu ombro. No mesmo momento, meu coração palpitou em poucos instantes.

ㅡ Eu lhe amooo... ㅡ Ela me deu um beijo na bochecha de forma rápida antes de se afastar e entrar em casa. ㅡ Entra, Apolo! Minha mãe tá lá em cima no banho!

Pus minha mão na bochecha onde ela havia beijando, andando para dentro da casa e fechei a porta. Fechei meus olhos tentando respirar o mais fundo possível.

Era incontrolável todas aquelas lembranças.

ㅡ Eu confirmei. ㅡ Maya saiu da cozinha chamando a minha atenção enquanto ela estava lambendo seu dedo sujo da cobertura da torta.

ㅡ Confirmou o que? ㅡ Me aproximei do sofá.

ㅡ Minha saída com o Thiago.

•••

Meu Melhor AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora