14_ Os sentimentos voltam?

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( Narrado por Apolo )...

Era de madrugada quando eu acordei.

A luz da lua iluminou um pouco pela pequena brecha que tinha da cortina aberta. No meio da madrugada eu havia acordado com a lembrança do que aconteceu em poucos horas.

Eu e a Maya somos melhores amigos de anos e caímos várias vezes em cima um do outro por brincadeira. Mas nunca havia sido daquele jeito tão próximo e intenso.

Estar a tão pouco do seu rosto e, principalmente, dos seus lábios me fez perceber uma coisa que eu passei a negar durante anos. O sentimento.

Quando eu conheci a Maya eu nunca soube o que tinha nela para me encantar daquela forma. Honestamente, a beleza dela era tão grande que eu nem pensava muito de como havia acontecido.

Infelizmente, ou felizmente, me apaixonei perdidamente pela Maya durante o ensino médio que não estávamos tão próximos. Eu fazia de tudo para estar perto dela, e uma das minhas maneiras de me aproximar era irritando-a e a cada vez que eu a olhava eu me encantava cada vez mais.

Durante o ensino médio percebi que a Maya não me olhava da mesma maneira que eu. Sabia que ela era fria em relação aos sentimentos e por isso resolvi dá uma chance para que o meu coração conhecesse alguém, no entanto, todas as tentativas foram falhas até porque eu via a Maya todo dia.

Não tinha como esquecê-la.

Com isso, resolvi deixar esse sentimento não correspondido de lado e passei a conviver com ele até um ponto que eu esqueci. Assim eu e a Maya construímos uma amizade que dura até hoje, e agora lembrar dos sentimentos antigos me fez refletir.

Sentindo a Maya se mexer ao meu lado me fez olha-la. Só então eu voltei a perceber o quanto aquela garota do meu lado é extremamente linda.

Com seu rosto delicado e com algumas pequenas sardas abaixo dos olhos, olhos claros, uns lábios carnudos e lindos, com o cabelo curto que batia nos ombros. Ela era, sem nem pensar muito, perfeita.

Levei minha mão até o cabelo dela na intenção de acarecia-la, porém, me lembrei novamente dos sentimentos antigos e afastei a minha mão rapidamente.

Levantei da cama, corri para o banheiro, tranquei a porta e me encarei no espelho. Eu estava suando.

ㅡ Apolo, o que você pensa que tá fazendo?? ㅡ Perguntei para mim mesmo. ㅡ Faz anos que você enterrou esse sentimento dentro de si. Ele não pode voltar!!

Tentei de todas as maneiras colocar esse pensamento em minha cabeça, com isso eu me joguei na água fria antes de voltar para o quarto e ver que a Maya estava de costas para mim.

Respirei fundo me deixando na cama e me virando para o lado da porta. Apertei meus olhos espantando os pensamentos relacionados a Maya e respirei fundo mais uma vez.

*

Caminhei até a porta da minha casa tentando controlar meus pensamentos, enquanto colocava minhas mãos no bolso. Quando eu percebi que estava na hora da Maya acordar para se arrumar para ir a faculdade, tomei banho e sai dali sem me despedir.

Não queria olha-la e lembrar de novo. Seria estranho olhar para ela achar ela linda lembrando dos meus sentimentos que foram enterrados dentro de mim.

ㅡ Apolo? ㅡ Olhei rapidamente para o lado e percebi que o meu pai estava na garagem com o carro dele aberto e completamente sujo. ㅡ Voltou cedo.

ㅡ Ah... ㅡ Me aproximei dele e me encostei no batente. ㅡ Faltava poucos minutos para a Maya acordar para a facul.

ㅡ E você não foi acompanhar ela? ㅡ Meu pai ergueu uma das sobrancelhas me encarando. ㅡ Você nunca faz isso. O que rolou?

ㅡ Nada demais. ㅡ Dou de ombros.

ㅡ Hmmm... ㅡ Ele assentiu se aproximando do capô do carro que estava aberto. ㅡ Me passa a chave de fenda.

Peguei a chave de fenda e entreguei ele.

ㅡ Tem certeza que não foi nada? Você, que vive fazendo de tudo para acompanhar a Maya irritando ela, não foi levá-la hoje? ㅡ Engoli em seco com o questionamento dele. ㅡ No primeiro dia você acordou mais cedo que a sua mãe só para estar com ela.

Abaixei meus ombros desanimado sabendo que não tinha como escapar. Meu pai me conhecia bastante e ele era a única pessoa que eu tinha, além da Maya, liberdade para falar de tudo.

ㅡ É que rolou uma coisa estranha ontem a noite.

ㅡ Coisa estranha?

ㅡ Ela caiu em cima de mim.

ㅡ Me diz uma novidade. ㅡ Meu pai debochou. ㅡ Me passa a chave inglesa.

ㅡ Só que dessa vez foi diferente, pai. ㅡ Justifiquei pegando a chave inglesa e entregando-o. ㅡ Foi diferente.

ㅡ Diferente como?

ㅡ Quase nos beijamos.

ㅡ Como assim, quase? ㅡ Ele parou de mexer no carro e me encarou.

ㅡ Assim. ㅡ Fechei minha mão num biquinho e aproximei do meu rosto do mesmo jeito que eu e a Maya estávamos. ㅡ Os nossos olhos estavam próximos, nossos narizes, nossos lábios QUASE se tocaram e... ㅡ Abaixei meu olhar. ㅡ Eu me lembrei.

ㅡ Se lembrou do que?

ㅡ Dos sentimentos que eu tinha por ela no ensino médio. ㅡ Respondi.

ㅡ Tinha ou tem?

ㅡ Tinha! ㅡ Afirmei, porém, parei para pensar. ㅡ Quer dizer, não sei! Sei lá, pai! Faz tanto tempo que eu parei de olhar para a Maya como eu olhava, e eu sei bem que enterrei completamente dentro de mim.

ㅡ Se estivesse enterrado, você não lembraria. ㅡ Olhei para meu pai rapidamente. ㅡ O que? Estou falando a verdade.

ㅡ Pai, isso não ajuda. ㅡ Resmunguei.

ㅡ Eu estou te mandando a real, Apolo! ㅡ Ele respondeu num tom alto. ㅡ Sabe por quanto tempo eu fiquei observando você sendo magoado? Não foi culpa da Maya, até porque ela não sabia e você não queria dizer de jeito nenhum para ela o que sentia.

ㅡ É claro! Ela me via como apenas um amigo!

ㅡ Talvez. ㅡ Meu pai murmurou. ㅡ Ninguém pode lhe garantir que ela não gostava de você além da amizade, como também ninguém lhe garante que ela gostava. A gente não pode falar pelos outros, até porque não temos certeza de nada.

ㅡ Acha que... ㅡ Suspirei pesadamente me amaldiçoando mentalmente por pensar na possibilidade. ㅡ Os sentimentos voltam?

ㅡ Você pode ter achado que enterrou seus sentimentos, e se esse for o caso com certeza eles podem voltar. ㅡ As palavras do meu pai perfuraram meu peito e o meu coração. ㅡ Isso é só o tempo que vai dizer, Apolo. O que tá rolando com sua cabeça pode ser algo passageiro pelas emoções da adolescência, então é melhor você ficar na sua assim evita ser magoado e magoar a Maya também. Espere, ok? Só o tempo pode dizer o que tá rolando, ou não, entre você e a Maya se esses sentimentos voltarem. O que, eu acho, que nunca foi enterrado de verdade.

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Meu Melhor AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora