53_ Enterro.

399 25 0
                                    

Batuquei meus dedos repetidamente no banco ao meu lado enquanto observava a tela branca na minha frente. Não sabia que horas se tratava naquele momento, porém, só sabia que já não era mais sábado.

Aquele resto de noite foi simplesmente incrível. Passei a maior parte do tempo conversando com pessoas importantes, falando sobre meus quadros, vendendo meus trabalhos e me apresentando para todo mundo como a nova artista. Ontem até me ajudaram a criar uma rede social exclusivamente para meus trabalhos, e logo foi compartilhado pela Emily. Até mesmo pela Joe.

Não demorou muito para que eu já ganhasse seguidores e pedidos para tutoriais de pintura.

Devo admitir que eu não fiquei animada a maior parte do tempo. Eu continuei tentando falar com o Apolo, mas continuava cair na caixa postal e eu desistir por algumas horas. Depois que a exposição terminou, fiquei feliz por todos os meus quadros que foram vendidos.

Pois é, eu não exagerei quando eu disse todos.

Além disso, estavam ansiosos para a próxima exposição. Era uma felicidade tão grande que não cabia no meu peito.

Agora eu estava no sótão, em plena madrugada na qual eu não sabia o horário. Eu estava numa mistura intensa de sentimentos que eu não sabia distinguir qual era. E como eu não estava conseguindo distinguir, preferia pintar.

E o que mais estava forte e pulsante em mim era o Apolo. Ele estava sofrendo e eu não estava com ele, não estava o lado dele segurando sua mão e não dando apoio. Além disso, não sabia onde ele estava.

Me sentia uma idiota por não estar com ele naquele momento.

E num estalar de dedos, uma ideia surgiu na minha cabeça e eu não aguentei. Peguei o pincel molhando na tinta e não demorou muito para que eu estivesse pintando.

[...]
Despertei no susto rapidamente ao sentir um movimento atrás de mim. Abri meus olhos no mesmo seguindo e olhei para o meu lado vendo que uma pessoa estava sentado na ponta da cama. Analisei atentamente vendo uma jaqueta jeans bastante conhecida.

ㅡ Apolo? ㅡ Chamei-o, me levantando coçando meus olhos. Ele se virou lentamente para mim e já pude perceber que seus olhos estavam fundos pelas orelhas e seus olhos estavam vermelhos. ㅡ Apolo... ㅡ Sussurrei erguendo meus braços e em questão de segundos ele se aproximou e me abraçou.

Não tanto, mas ele colocou sua cabeça no meu colo e deitou na cama. Levei minha mão até seu cabelo e comecei a acaricia-lo.

ㅡ Eu sinto muito, amor. Não queria que estivesse passando por isso. ㅡ Sussurrei.

ㅡ Ele era tudo para mim, Maya. ㅡ Apolo gaguejou com a voz embargada. ㅡ Queria poder dizer que eu o amava antes dele ir.

ㅡ Mas ele já sabia disso, amor. Não se preocupe. ㅡ Continuei acariciando seus cabelos. ㅡ Você e sua mãe eram tudo para ele.

ㅡ Quando eu fui visita-lo pela última vez, ele disse que quando melhorasse iria pedir a minha mãe para renovar os votos. ㅡ Apolo chorou mais. ㅡ Ele queria fazer uma surpresa para minha mãe.

Não tinha palavras para dizer a ele naquele momento tão doloroso.

ㅡ Desculpa por não conseguir dizer nada. Eu não... Não tenho palavras. ㅡ Murmurei, cabisbaixa.

ㅡ Eu só preciso de você junto comigo. ㅡ Ele enclinou sua cabeça e me olhou. ㅡ Agora e no enterro.

ㅡ E quando é?

Sem responder o Apolo ergueu a mão olhando para o relógio em seu pulso.

ㅡ 13h. ㅡ Respondeu-me. ㅡ Até lá, me deixa deitar em seu ombro?

ㅡ É claro. ㅡ Assenti sem nem pensar muito. Ele se afastou um pouco me fazendo deitar ao seu lado deixando meu ombro livre para ele.

Apolo se aproximou de mim lentamente com a sua respiração pesada. Assim que ele deitou em meu ombro, ele me puxou colocando nossos corpos. Enclinei minha mão e acariciei seus cabelos.

ㅡ Obrigada, amor. Obrigada por continuar comigo.

ㅡ Eu sempre vou estar, Apolo. Nunca vou sair do seu lado. ㅡ Enclinei meu rosto deixando um selinho nos seus lábios. Eu queria beija-lo, mas eu entendia o fato que a dor não deixava fazer nada além de chorar. ㅡ Eu te amo.

ㅡ Eu também te amo. ㅡ Apolo sussurrou contra meu rosto, em seguida fechou os olhos lentamente.

*
Melancolia.

Toda a sensação ruim que um ser humano pode sentir, estava naquele ambiente melancólico onde nos encontrávamos. Cemitério. Na frente do caixão fechado do pai do Apolo.

Apolo segurava firmemente minha mão com os nossos dedos entrelaçados. Ele não dizia uma palavra, não transmitia emoção nenhuma, só mantia seu olhar fixo no caixão.

Murmuros de choros soavam por todo local, familiares do pai do Apolo estavam presentes e continuavam sem se falar com ninguém. Minha mãe abraçava firme a mãe do Apolo que só chorava.

Ao ouvir as últimas palavras do padre, jogamos as rosas ali num silêncio agoniante. Os minutos seguintes passaram enquanto todos mantia o silêncio, os minutos se passavam e toda melancolia continuava.

Assim que tudo terminou, Apolo se afastou de todo mundo e ficou sozinho por longos e breves minutos. Sabia que ele precisava desabafar sozinho, então respeitei seu momento e esperei ele ao lado de fora do cemitério.

Por surpresa, pedi que meu pai trouxesse a bicicleta dele e que todo mundo nos deixasse a sós pelo resto do dia. Meu pai entendeu e me ajudou com aquilo. Agora só faltava o Apolo.

ㅡ Ue, cadê todo mundo? ㅡ Ri baixo com a pergunta dele e sua expressão confusa. ㅡ Aquela é minha bicicleta?

Me aproximei dele em passos lentos e coloquei minhas mãos em seu peitoral.

ㅡ Sim, amor, eu pedi para meu pai trazê-la. ㅡ Respondi, concordando.

ㅡ E por que?

ㅡ Eu achei que todas aquelas pessoas tristes poderiam te sufocar, então eu organizei um dia inteirinho só para nós dois. ㅡ Dou de ombros abrindo um sorriso convencido. ㅡ Aceita?

ㅡ Aaahh... ㅡ Ele pegou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo. ㅡ Como eu amo você.

ㅡ E também hoje quem vai na garupa é você. ㅡ Apontei para ele e corri até a bicicleta, me sentei na frente rapidamente.

ㅡ Eu vou amar isso. ㅡ Apolo sorriu sentando atrás de mim e rodeando seus braços em minha cintura.

Assim que dei o empulso comecei a correr com a bicicleta sem o maior medo. Apolo gargalhou alto em questão de segundos.

ㅡ UUUUUUUHHHH!!!! ㅡ Apolo começou a gritar de repente. ㅡ MAYA, EU TE AMO!! PAI, EU TAMBÉM TE AMO!!!

Ao ouvir as suas palavras, uma lágrima solitária escorreu dos meus olhos.

•••

4/5...
Simplesmente, o penúltimo capítulo. Infelizmente... ou Felizmente.

Meu Melhor AmigoOnde histórias criam vida. Descubra agora