Prólogo.

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                                   Analice.

2016 - Paraisópolis, São Paulo.

Eu andava por aquelas ruas com muita dificuldade. Sentia os buracos das balas ardendo pra caralho, mesmo com os pontos, que eu mesma tive que fazer. Minha cabeça rodava, e sabia que faltava pouco pra eu desmaiar de vez.

O povo tudo me olhava estranho, mas ajudar ninguém veio. Um dos caras do meu pai, me viu e veio correndo me ajudar. Cai no braços dele, chorando, e ele me pegou no colo, saindo dali correndo.

— Avisa pro patrão que tô com a filha dele, p***a! — ouvi ele falando, e logo o barulho do radinho.

— Com a Marcely? — uma voz soou por aquele troço.

— Com a Analice... — o carinha falou ofegante já. — Ela tá viva!

Depois disso comecei a prestar a atenção em mais nada. Minha cabeça doia, e tudo rodava em minha volta. Eu sentia que a qualquer momento eu iria morrer de vez.

Eu não sei como não morri, levei três tiros na barriga. Eu não morri, mas sabia que meu filho sim! Eu estava gravida do GL, um dos caras do CV lá do Rio, inimigo do meu pai. Eu sinceramente não sei como tudo aconteceu. Estava bêbada e drogada em uma festa que teve aqui em sampa, e no dia seguinte acordei com ele numa cama.

Depois de dois meses, descobri que estava grávida desse nojento. Eu não queria contar, mas a Marcely disse que era o certo. Fui pelas ideias dela, e me fodi. Assim que contei sobre a gravidez pra ele, ele meteu tiro em mim, e depois mandou um dos seus vapores me jogarem aqui perto de Paraisópolis, como um lixo!

Eu sentia um bagulho tão ruim no peito ao lembrar que meu filho não estava mais dentro de mim, eu só queria morrer.

Assim que o carinha entrou dentro da minha casa, escutei um grito alto, mas eu nem tive tempo de dizer nada, pois apaguei ali mesmo.

Abri meus olhos bem devagar, me deparando com um quarto de hospital. Não tinha ninguém ali, e quando fui me mexer, senti as pontadas em minha barriga, me fazendo deitar direito naquela cama.

Logo a porta daquele quarto se abriu, e meu pai entrou com mais dois caras. Eram os outros chefes da facção, KL, Tigrão e meu pai, Cascavel. Os três comandavam a parada toda do PCC - Primeiro Comando da Capital, a maior facção do Brasil.

Meu pai me encarou com a cara fechada, e veio caminhando até mim. Ele me pegou de surpresa, quando agarrou no meu pescoço com força, me sufocando.

Analice: Pai... — tentei dizer, mas ele me deu um tapa forte no rosto.

Cascavel: Você traiu a facção, sua vagabunda! Se envolveu com o inimigo, engravidou dele e ainda teve a porra da coragem de voltar pra cá. Deveria ter ficado naquele caralho, e ter morrido logo de uma vez, sua imunda.

Ouvir aquilo, me quebrou toda. Meu pai nunca foi um cara bom, nem comigo e com a minha irmã, mas ele nunca tinha me tratado daquele jeito. Por mais que eu esteja errada, ele não tinha que me tratar assim.

Cascavel: Não morreu lá, mas vai morrer aqui. — apertou mais meu pescoço, me deixando completamente sem ar.

O Tigrão puxou ele, que soltou meu pescoço, indo conversar com eles ali no canto. Eles cochichavam, e só dava pra ouvir meu pai xingando.

Eles me olharam mais uma vez, e saíram do quarto, fechando a porta.

Eu estava jurada de morte já. Sabia que mesmo antes de eu sair desse hospital eu morreria, pois trai a porra da facção, e sei que com eles não tem vez pra vacilão.

Depois de quase uma hora, uma tropa do meu pai entrou no quarto, e já vieram em minha direção, Arrancaram os fios que estavam em meus braços, e me puxaram.

Eu só sabia chorar, já imaginando o pior.
Um deles me deu uma coronhada na cabeça, e eu apaguei.

PCC - Primeiro Comando da Capital.Onde histórias criam vida. Descubra agora