Capítulo 56.

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• Víbora •

Dias depois...

Olhei pra Luana meia assim, enquanto ela encarava a favela de Heliópolis, aquela imensidão de barracos e vielas.

Estávamos paradas na frente de uma das entradas principais. Eu sabia que voltar ali não seria nada fácil pra ela, mas a insistência dela em vir me deixou com a pulga atrás da orelha.

Ela queria provar, de qualquer jeito, que o Cascavel tinha abusado dela.

Víbora: Tem certeza que quer entrar aí?
— Cruzei os braços, analisando seu rosto. Tava nítido que ela estava nervosa, mas firme.

Luana: Eu preciso — Respondeu, soltando um suspiro. - Vamos?

Eu sabia que a caminhada por essa favela não seria só uma busca por provas, mas também uma revisita aos seus traumas.

A favela tava bem movimentada hoje, gente nas ruas, nos bares, rindo, conversando, como se nada tivesse acontecido.

Mas eu sabia que Luana tava revivendo cada segundo daquele inferno.

Depois que o Tigrão morreu, as coisas até que estavam calmas por aqui. Quem assumiu foi o KL, o que facilitava a nossa missão.

As câmeras espalhadas pela favela nos dariam o que precisávamos. Se achássemos a gravação certa, seria a prova que colocaria Cascavel no chão.

Víbora: Por que você nunca pediu ajuda a seu pai sobre isso? — Perguntei enquanto subíamos um escadão.

Tinha algo nessa história que ainda não fazia sentido pra mim.

Luana: Nunca tive contato com ele.
— Respondeu de forma amarga. - Tinha medo e vergonha de mandar uma carta contando o que aconteceu. Achei que ele não iria acreditar.

Apenas balancei a cabeça, compreendendo sua dor. Eu também sentia um medo profundo de ninguém acreditar no que passei naquele galpão. Por isso ainda não contei nada pro comando.

Tinha medo de ser taxada de mentirosa, de ver minha palavra ser jogada no lixo contra a do Cascavel.

Chegamos a uma viela estreita.

Luana: Foi aqui... — Sussurrou Luana, seus olhos começando a brilhar com lágrimas. - Foi aqui que tudo aconteceu...

Olhei ao redor e vi algumas lojas com câmeras, mas uma, em particular, me chamou atenção.

Estava num poste no final da viela, bem posicionada. Tinha certeza que aquela câmera tinha captado tudo.

Víbora: Vamos até a boca — Falei, sem dar muita explicação. Ela me olhou confusa, mas seguiu.

Chegamos à boca principal e logo vi o KL conversando com alguns caras.

Víbora: Ou — Chamei ele. Assim que me viu, fez uma careta, mas veio na minha direção.
- Há quanto tempo instalaram as câmeras aqui pela favela?

KL: Há uns quatro anos. Por quê? — Suspirei aliviada. Era exatamente o que precisava ouvir.

Víbora: Depois te explico tudo, agora, por favor, me leva até a sala de câmeras.

KL nos guiou por uma escada que passava por cima de uma salinha de contabilidade, até chegarmos a um cômodo cheio de monitores.

Tinha um cara lá dentro, PJ, que olhou pra mim com desconfiança.

KL: Uma conhecida aqui tá precisando de uma ajuda sua — Disse KL, chamando a atenção de PJ.

Me aproximei devagar, calculando cada palavra.

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