Capítulo: 25

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Víbora

Dias depois...

O carro parou na frente daquele morro, e quando eu desci e encarei aquele lugar, meu coração disparou lembrando de cada coisa horrível que passei aqui dentro.

Estava em uma das entradas do Paraísopolis, com o Marquinhos do lado, com mais alguns caras fazendo nossa proteção.

Sei que é perigoso eu vir pra cá, mas eu precisava ver minha mãe, e minha irmã.

Cascavel tá ligado que não pode tentar nada contra mim, pois sou a fiel de um dos seus aliados. Se ele tentar algo, é o fim pra ele, e não quero isso agora. Quero primeiro ver ele se fodendo com o comando todo, e por fim ser torturado até a morte...por mim, é claro!

Marquinhos: Tem certeza que tu quer entrar aí? Não é melhor tu arranjar o número da tua mãe e encontrar elas fora daqui? — Me olhou.

Víbora: Eu quero entrar aí, ver o Cascavel puto por que não pode me matar nem dentro da sua própria favela. — Sorri de lado, e ele riu, pegando na minha mão.

Fomos entrando naquela favela e percebi que os caras que ficam de tocaia nas lajes tudo estavam me olhando com atenção, prontos para me atacarem a qualquer momento.

Eu nem liguei, andava toda confiante de mãos dadas com Marquinhos, sem transparecer medo, apenas confiança e tranquilidade.

No meio do caminho, me bati com quem eu menos esperava.. Tigrão, junto com sua mulher e seus filhos.

Ele assim que bateu seus olhos em mim, vi o ódio em seu olhar. Já Joana, deu um sorrisinho de lado, e acenou com a mão.

Eu coloquei meu melhor sorriso no rosto e fui me aproximando deles.

Víbora: Tigrão... — Balancei a cabeça, segurando a risada ao ver a cara que ele fez.

Tigrão: Tu...pensei que estava morta, queimada...

Víbora: Pensou errado. Tô vivíssima aqui, e com uma má intenção com alguns seres...
— Deixei a frase no ar e sai dali, deixando ele pra trás.

Marquinhos me olhou negando, e eu sorri,
encostando minha cabeça no ombro dele.

Marquinhos: O cara deve ter borrado as calças quando te viu, puta que pariu! — Deu risada, e eu ri junto. - A cara de pavor dele foi a melhor.

Víbora: Tigrão sempre foi um frouxo, mas um filho da puta! Ele vai ser o primeiro que vou me vingar...

Marquinhos me olhou com uma cara, e eu ri outra vez.

Fomos caminhando em silêncio até a casa da minha mãe, e assim que paramos na frente, eu toquei a campainha e fiquei ali esperando.

Quando a porta se abriu, e aquela mulher baixinha, e morena saiu, eu quase não me aguentei e soltei algumas lágrimas.

Minha mãe assim que me olhou, ficou parada com a boca aberta, em estado de choque mesmo.

Me separei do Marquinhos e fui até ela, a abraçando com força. Desabei ali mesmo, chorando igual a uma louca.

Enquanto eu estava naquele galpão, jamais pensei que veria ela novamente, e agora estou aqui, abraçando ela...

Adriana: Filha...eu....eu pensei que estava morta! — Se afastou um pouco de mim, me olhando nos olhos.

Víbora: Não mãe, GL não conseguiu me matar, mas o Cascavel me jogou em um galpão sujo e seus homens me torturaram nesses últimos anos. — Falei baixo, me arrepiando só de lembrar.

Adriana: Aquele monstro fez isso? Eu vou matar ele!

Víbora: Relaxa mãe, quem vai fazer isso sou eu! — Ela sorriu de lado, e me chamou para entrar.

Marquinhos veio atrás, pegando na minha cintura.

Víbora: Mãe, esse aqui é o Marquinhos, meu marido!

Ela abraçou ele, e o mesmo ficou todo sem graça. Pedi a minha mãe que ligasse para Marcely, pois queria muito ver ela, e a mesma não demorou nem cinco minutos pra brotar ali.

Marcely: Eu...eu não acredito! — Murmurou, assim que me viu ali. - Analice...

Ela correu me abraçando, e eu sorri, apertando ela. Eu e Marcely sempre fomos muito próximas, desde pequena, ela sempre foi a única que ficou do meu lado quando nosso pai tentava algo contra mim.

Me sentei no sofá ali da casa da mãe, e comecei a contar para elas tudo o que passei, cada surra, cada abuso que sofri lá dentro na mão daqueles vermes, que graças à Deus já estão queimando no inferno.

Víbora: Enfim... Tigrão também abusou de mim lá dentro...

Vi a expressão da Marcely mudar na hora, e ela me encarar estranho. Não entendi nada, e fiquei esperando ela falar algo.

Marcely: Isso é mentira, né?

Víbora: Por que você acha que eu iria mentir sobre isso? — A encarei confusa.

Marcely: Tigrão não teria coragem pra fazer isso, nunca!

Víbora: Mas ele fez, e não foi só uma, e nem duas não, foram diversas vezes. Ele me machucou Marcely, e não foi só por fora...

Marcely: Cala a boca, Analice. Para!
— Berrou, e eu não entendi nada daquela reação toda dela, mas logo peguei tudo.

Víbora: Você... você tem um caso com ele, né? — Ela ficou quieta, confirmando o que pensei.
- Como você pode ser tão otária e cair no papinho dele, garota? Aquele cara é um monstro, eu aposto que não fui a única que ele abusou. E outra, ele é marido da tua madrinha, que sempre cuidou de ti, porra! Cadê a merda da tua noção, Cacete?

Ela não disse nada, apenas deu as costas e saiu dali batendo a porta.

Eu não tinha mais reação nenhuma, Marcely se envolvendo com esse cara podia atrapalhar todos os meus planos de vingança contra ele, e jogar tudo por agua abaixo.

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