-Millie-
-já pode descer, docinho. -desligou o carro.
-finalmente. -abri a porta.
Graças a Deus não era na casa de alguém, é uma boate, toda azul por fora, andei até a calçada e olhei para trás procurando a mulher.
-me procurando? -riu sacana. -não se assusta não.
-idiota. -coloquei a mão no peito, ofegante.
-eu, idiota? -veio para o meu lado. -idiota é você dizer para a sua amiga que gosta de homem. -colocou a mão no meio das minhas costas.
-por que você é assim, eu nem te conheço. -travei no lugar.
-não faça barraco, estamos perto de muita gente. -me empurrou para andar.
-não sou barraqueira. -falei alto.
-estão todos olhando. -reclamou.
Andamos até a entrada e ela entregou os ingressos, entramos e ela levantou a cabeça procurando alguém.
-cadê essa menina... -ficou procurando. -quer saber? -desistiu. -vamos sentar ali no bar, daqui a pouco alguém do grupo vem pegar alguma bebida. -me arrastou.
-não sabe onde eles estão? -ela sentou e eu também.
- não linda. -ficou me encarando. -vamos beber alguma coisa. -virou para a frente. -dois drinks, por favor!
-não bebo álcool. -ela se virou para mim rindo.
-para tudo tem uma primeira vez. -deu de ombros.
-quantos anos você tem? -me ajeitei no banco.
-tenho dezessete. -pegou a bebida. -obrigada. -me entregou um copo, bem bonito, cheio de limão e frutinhas.
-e de onde você é, nunca te vi na escola. -tomei um gole e a bebida desceu rasgando a minha garganta, fiz uma careta.
-é ruim né? -perguntou rindo.
-isso é horrível! -reclamei.
-mas depois que você vai tomando ela fica boa. -explicou.
-não respondeu minha pergunta. -insisti.
-não vai querer saber de onde sou. -negou e senti ela ficar tensa.
-mas por que? -perguntei com receio.
-vamos procurar o pessoal. -levantou com pressa indo pelo meio da multidão. -vem, Millie. -estendeu a mão.
Eu segurei em sua mão e andamos por todo o salão atras de pelo menos Isabella. Achamos todos num cantinho, bebendo e fumando algo que desconfio de que seja maconha.
-e aí amiga... -veio se jogando em cima de mim, e colocando um copinho de vidro na minha frente. -bebe tudinho! -colocou na minha boca derramando.
-que nojo, o que é isso? -tossi por conta da ardência.
-é tequila. -deu uma risadinha. -agora só mais essa para completar o batizado... -um homem encheu o copo de novo.
-não... -resmunguei sentindo ela aproximar aquilo de novo.
-isso! -todos gritaram animados.
-não beba muito. -falou com aquela voz áspera e autoritária dela.
Ignorei e me sentei perto da minha amiga. Aquela mulher é muito misteriosa para mim, não quero ficar perto dela.
[...]
Não sei nem quanto tempo passou, mas já não consigo me concentrar no que estou fazendo, do tanto que acabei bebendo.
Aquela menina não para de me olhar, eu olho para ela pensando que não está olhando e ela me mostra que está mesmo.
Só percebi uma movimentação estranha e uma mão nas minhas costas, me causando um pouco de susto.
-vamos, eu te deixo em casa. -falou no meu ouvido.
-não quero ir com você. -me afastei um pouco.
-não vou te estrupar, Millie. -bufou. -vamos logo. -se levantou me puxando pelo braço.
Por impulso me levantei e ela arrumou a postura falando que já vamos embora, todos concordaram que já estava tarde e ela saiu me puxando sutilmente.
-eu não vou com você. -falei alto assim que saímos de lá.
-deixa de besteira...
-não! -puxei meu braço da mão dela. -não posso ir com você.
-é mesmo? -cruzou os braços. -e por que? -perguntou entediada.
-não te conheço. -dei de ombros.
-não sou uma pessoa ruim, sua amiga me conhece. -deu de ombros.
-mas eu não.
-você não vai gostar de me conhecer. -destravou o carro. -agora se você quiser ir andando, alguém pode fazer algo com você...
-não encoste um dedo em mim! -falei séria e ela riu indo para o banco do motorista.
-tudo bem! -levantou as mãos em forma de rendição. -se é o que quer.
-obrigada. -entrei no carro.
Como prometido, da parte dela, ela não encostou em mim em nenhum momento, exceto pela parte que ela teve que abriri o porta-luvas e acabou esbarrando na minha coxa.
-me desculpa. -falou sem me olhar.
Ela parou na frente da minha casa.
-tchau. -abri a porta.
-tchau, princesa. -mordeu o lábio e eu revirei os olhos descendo do carro.
-tchau, Sadie. -bati a porta do carro pensando que ela já iria sair, mas não, ela me esperou entrar em casa e fechar a porta.
Peguei um copo d'água e subi para o meu quarto, me despi e deitei na cama, acabei dormindo sem nem perceber.
