-Millie-Aí como eu odeio ser mulher.
Eu adoraria ter tido o privilégio de nascer homem, invejo muito a vida deles, deve ser incrível.
Hoje de manhã, acordei sozinha em casa, minha mãe saiu ontem e como esparado, não voltou, ela sai com o amante e não volta pra casa, se meu pai chegar eu ainda tenho que ficar dizendo que não sei onde ela tá.
Foi maravilhoso acordar sem ninguém, não passei pelo constrangimento de minha mãe invadir meu quarto e ver meu lençol, parecendo que alguém foi assassinado ali.
Tomei banho correndo e vesti um pijama solto, vou ficar em casa mesmo. Só tive que tomar cuidado na hora de colocar o lençol para lavar, a Cleonice, a empregada poderia estar aqui.
-Millie! -sorriu, eu tomei um susto. -pensei que ainda estava dormindo, querida.
-oi, Cleo, não estava não. -me virei para ela.
-e esse lençol? -perguntou curiosa.
-é que... -ela entendeu.
-ah sim, pode deixar em cima da maquina, eu coloco para lavar. -terminou de cortar umas cenouras.
-melhor não... -deu uma risadinha.
-tá tudo bem, Millie. -ligou o liquidificador. -não vou nem olhar, prometo.
-tá bom. -coloquei o lençol lá e sem ela nem perceber subi correndo, depois dessa eu não deço o resto do dia.
[...]
Ouvi meu celular tocar, na terceira ligação, ja são cinco da tarde, a Cleonice ja foi embora. Larguei meu livro e fui atender, quando peguei o celular estava escrito, Isabella.
-Ligação on-
Millie: oi?
Isabella: você vai vir aqui pra minha casa que horas?
Millie: que?
Iaabella: eu te mandei mensagem, tô te esperando há horas
Millie: eu não vou
Tô com cólica
Isabella: toma remédio e vem
Preciso de ajuda, minha mãe tá no meu pé e eu marquei com o Kaue
Millie: não tenho nada a ver com isso
Mande ele ir pra aí e falar com sua mãe.
Isabella: porra, não precisava ser ignorante.
Millie: eu não fui
Isabella: obrigado amiga.
-Ligação off-Ainda tece a coragem de desligar na minha cara. Que ódio, cortou todo o clima que eu estava sentindo.
Agora não consigo mais me concentrar pra escrever algo bom, então vou dormir, não tem mais nada para fazer mesmo.
[...]
-que merda! -reclamei baixo, acordei de madrugada, dormi demais, acabei perdendo o jantar, já sei que vou ouvir pra caralho de manhã.
E ainda por cima estou sem sono nenhum, rolei na cama várias vezes mas não adiantou nada.
Levantei para tomar um banho e decidi ir lá fora dar uma volta na rua, aqui é bem tranquilo, nessa hora ainda tem gente andando pela rua, é o melhor momento para correr.
E é isso que vou fazer, adoro correr, é o momento que deixo todos os meus pensamentos de lado e só me concentro em correr.
Coloquei um coletor para nao ter perigo de vazar, vesti uma legin e um top, amarrei um casaco na cintura e calcei meu tênis, amarrei o cabelo e sai com cuidado de casa.
Quando estava correndo, só conseguia pensar na Sadie, dificultando até a minha concentração, não sei o que está acontecendo, mas desde o dia da festa que eu tô assim.
Quando virei a esquina, não acreditei. Era ela, dentro do carro. Passando, comecei a correr mais rápido na intensão de que ela não me visse e pareceu ter dado certo.
Até eu ver o carro dando ré.
Parou do meu lado e abaixou o vidro.
-oi, docinho, tá fazendo o que agora na rua? -ela parecia estar levemente alterada, parei e tirei meus fones, a encarando bem. -não vai me responder? -brincou.
-o que você está fazendo? -devolvi a pergunta, ela sorriu e respondeu.
-estou voltando da casa da minha mãe, acabei de pegar minhas coisas. -falou simples. -então aí. -me chamou com o olhar.
-e vamos para onde? -cruzei os braços.
-pra minha casa, amor. -a cara cínica. -não quer conhecer onde moro? -falou sedutora, e imaginei que estava falando aquilo com segundas intenções.
-você maliciou? -esteeitei os olhos sobre ela, que riu. -tá rindo do que idiota? -bufei.
-é sim, Millie. -cessou o riso. -eu maliciei, quero que vá para a minha casa por quero ter você. -eu estaco no lugar, fiquei sem saber o que dizer, travada.
-não vai me ter. -cuspi. -não sou um objeto. -meu tom era raivoso.
-e eu sei. -ela estava divertida com essa conversa. -no entanto, quero você, se quiser posso te mostrar como. -levantou as sobrancelhas.
-não, valeu. -continuei correndo.
Diferente do que pensei que aconteceria ela veio atrás de mim, me acompanhando com o carro, eu conseguia ouvir a música baixa tocando no rádio.
-vamos, docinho. -buzinou, me deixando irritada. -eu faço o que quiser. -implorou.
-é impressão minha ou está implorando? -parei de correr.
-por você eu faço tudo. -eu juro que queria esmurrar a cara dessa garota.
-se eu for, você me deixa em paz? -suspirei cansada.
-sim. -eu bufei indo em direção à porta, a abri e entrei, me recostei no banco enquanto fechava a porta. -você fica linda com qualquer roupa, me impressiona. -confessou.
-eu sei. -olhei minhas unhas.
-você as rói? -me chocou.
-está observando minhas unhas? -franzi o cenho.
-as unhas são um ponto importante nas pessoas. -falou concentrada na estrada. -sempre observo as unhas de quem falo, ou me relaciono. -deu de ombros.
-nunca fiz isso. -comentei interessada.
-eu vi em uma matéria que quando as pessoas roem as unhas é porque tem algo de errado em sua vida. -me olhou breve. -o que tem na sua? -pegou o celular dela desligando ele.
-não deveria mexer no celular. -mudei de assunto.
-poxa, tem razão. -largou o aparelho.
