Uma chuva abençoada.

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Hoje é dia 12 de fevereiro de 2007. Faz exatamente três entediantes horas que estou aqui no caixa do mercado de uma rua extremamente movimentada. Sei que tem um show aqui perto, então deve ser por isso. Que idiotas. Perdendo o precioso tempo de suas vidas indo em shows.

Eu adoraria estar em casa sentada na minha cama e tocando minha guitarra, mas infelizmente, estou aqui nesse caixa deselegante e desbotado desse pequeno mercado. Aposto que vai chover e torço para que esse show aqui perto seja ao ar livre, para que todos se molham.

Faz pouco tempo que me mudei para cá. Eu morava no Brasil mas tive que vir pra Alemanha morar com meu irmão.

Meus pais irão se divórciar e até que se ajeitem com as coisas, resolvi pedir para eles se podia vir morar com Guilherme.

Cacete.

Tudo para ferrar com minha vida adolescente. Que alegria, mais traumas.

Aqui não é tão chato como achei que seria. Eu fico a maior parte do tempo no meu quarto estudando alemão, trabalhando aqui no mercado e indo pra escola.

Tem muita gente bonita aqui, de verdade. Tenho medo de sair pela rua e encontrar um bando de adolescentes estilosos e bonitões. Não sei como reagir, não sou boa com palavras e nem sei socializar direito. Milagre eu estar aqui trabalhando nesse mercadinho meia tigela.

Está vazio hoje, creio que o bairro inteiro está nesse showzinho. Deve ser alguém realmente famoso para que isso ocorra. Meu irmão disse que eu deveria ver mais das coisas por aqui. Mas coisas novas me dão... medo.

Um bando de garotas quebram meu silêncio interior e entram gritando pela porta do mercado.

- Porra Hanna! Por que seu pai teve que se atrasar justamente hoje? Veja só, o show está lotado e já acabou todos os ingressos - disse uma menina, com um cartaz por baixo do braço - Queria tanto levantar minha blusa para o guitarrista e mostrar esse cartaz que fiz de nosso futuro casamento.

A garota tirou o cartaz de baixo do braço e pude ver de relance que era uma colagem de ela noiva, e um cara com com boné e cabelo estranho de noivo.

- Desculpa gente, eu não sabia que meu pai teria hora extra no trabalho. Ele só se atrasou não o culpem - uma menina loira, com uma blusa escrita "I love you, Bill", choramingando se desculpou - Amiga, juro que você terá chances de mostrar seus peitos para o Tom outra hora.

Todas começaram a rir e me entregaram um pacote de salgadinho e alguns absorventes.

- São 10,99 euros. - disse para elas, que me olharam tristemente.

- Que azar o seu de estar aqui nesse mercadinho ao em vez de estar vendo aquela banda magnífica - uma das garotas me disse, fazendo beicinho.

-Tudo bem - respondi na maior tranquilidade - Eu não me interesso por esse tipo de coisa.

-Coitadinha - disseram as meninas juntas. Todas saíram e nesse momento, começou a garoar.

"Que se molhem todas", pensei.

Estava quase na hora de eu fechar o mercado, pois estava começando a chover muito e provavelmente ninguém mais viria, quando quatro garotos entram tão rápido que nem pude ter certeza da quantidade. Em seguida, passou correndo pelo mercadinho muitas, mas muitas garotas.

Parecia que estavam atrás de algo ou algo estava atrás delas. Algumas resbalavam e eu ria, porque elas se levantavam e corriam novamente.

Cheguei perto dos garotos que estavam escondidos atrás da prateleira de higiene feminina. Quando os vi, senti minhas bochechas ficarem quentes. Eram tão lindos que fiquei com vergonha de estar com minha blusa da Hello Kitty.

Pareciam que estavam fugindo daquelas meninas. Tomei coragem e perguntei:

- Por acaso vocês são aquela bandinha que estava tocando algumas horas atrás? - perguntei, meio sem jeito.

- Sim gatinha, quer um autógrafo? - perguntou um dos meninos que estava usando um boné igual o do cartaz da menina que estava aqui antes.

Ri de deboche e disse:

- Sinto muito, mas acho um desperdício de tempo ser fã de caras tão bonitos e tão mal educados como você. - disse olhando de cima a baixo para o menino com boné e dreads. Ele era lindo de morrer com aquele piercing, mas parecia ser um cara arrogante.

- Desculpe por entrarmos desse jeito - um menino de cabelo preto estranho andou até mim, empurrando o de dreads que imagino ser seu irmão gêmeo. Eles são idênticos. - Nós apenas queríamos nos esconder daquele bando de garotas que estavam atrás de nós.

- Tudo bem, também fui meio indelicada. Vocês não querem algumas toalhas para se secarem? - perguntei ao menino de cabelo preto.

- Adoraríamos!!!! Por favor.

Meu Imperfeito Amor - Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora