Vozes.

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Mãos puxam meu cabelo. Unhas agarram meus braços. Perdi os meninos de vista. O que vejo são apenas garotas com sangue nos olhos. Uma raiva crescente. Inveja. Ciúmes. Tento me soltar de seus braços mas as unhas delas estão cravadas em minha pele.

- Olha só se não é a assistente - uma menina morena diz em meu ouvido - ou devo dizer, namoradinha do Tom?

- O que? Do que você está falan... - tento dizer até levar um tapa na cara.

- CALA BOCA SUA PUTA! - Grita a menina em meus ouvidos - você tirou Tom de nós! Nós sabemos que é você. Arruinou nossos sonhos!

- Como Tom foi se apaixonar por você? Fez lavagem cerebral nele? Ou ofereceu seu corpo? Magia negra? - outra fala cuspindo em meus pés.

- Não entendo como ele namora uma zé ninguém como você. Você tem amigos pelo menos?...

- Fez chantagem com ele?...

- Ou é apenas uma interesseira?...

- Eu não fiz nada disso. Eu só... - tento me justificar.

- FICA QUIETA MENINA IRRITANTE - a morena diz tampando minha boca. Ela se aproxima e olha bem no fundo dos meus olhos - eu desejo que você morra. Que queime nas profundezas do inferno. Que sinta a dor por termos perdido nossa chance com Tom.

Mordo a mão da garota que recua gritando.

- Que chance?! Vocês não teriam nenhuma chance com ele. Não passam de umas vadias obcecadas! - grito olhando para as meninas ao meu redor.

A menina que me segura me joga no chão. Caio de joelhos e a morena puxa meus cabelos para que eu olhe para cima.

- Escuta aqui assistentezinha, nós vamos te atormentar até que você sucumba. Entendeu? - a garota puxa meus cabelos com tanta força que acho que eles arrebentarão de minha cabeça - morra Helena.

Olho para ela com o mesmo ódio. Não sinto medo até braços fortes me tirarem de lá. Até eu entrar no Studio. Até eu ver Tom com os olhos vermelhos. Então o pânico me atinge como um tiro. Não consigo falar. Não consigo respirar. "Vamos te atormentar até que você sucumba" as vozes martelar em meu cérebro "interesseira?" "Uma zé ninguém".

Acordo pela terceira vez nessa noite. Meu coração salta feito louco. As vozes não saem de minha cabeça. Se eu fechar os olhos, reviverei a mesma cena. Estou suando. Olho para o lado e vejo minha cama vazia. Tom se ofereceu para dormir comigo mas quis ficar sozinha. Passei o dia inteiro sem falar com ninguém.
Me levanto e vou até a cozinha. Preciso de água. Preciso sentir algo que não seja essa dor que aperta meu peito. Não conseguirei dormir assim. Com essas vozes em minha cabeça. Escuto alguém chegar e levo um susto, soltando o copo que se estilhaça no chão.

- Calma Helena. Sou eu - diz Tom levantando as mãos - você não consegue dormir não é? Eu também não. Estou preocupado com você.

Dou um passo para frente esquecendo completamente dos cacos de vidro no chão. Eles penetram em meu pé me fazendo perder o controle das pernas. "Morra Helena" escuto. Tom corre em minha direção me tirando dali. Me pega no colo e me deixa no sofá. Sangue escorre e o vejo caindo. O Kaulitz chega com um kit médico e estanca o sangramento.

- Não me olha assim - digo a ele.

- Assim como? - pergunta.

- Como se estivesse com pena de mim - respondo sem olhar em seus olhos.

- Eu... eu só estou preocupado - sinto ele tirar o pano e passar uma pomada. Arde e tento não uivar de dor - desculpa... É que você não disse quase nada o dia inteiro.

- Você quer que eu fale o que?
Que me ameaçaram de morte? Que me odeiam por namorar o ídolo delas? Que me atormentarão até que eu sucumba? - lágrimas descem pelo meu rosto. Tom parece assustado com meu tom de voz - Desculpa. Não queria falar desse jeit...

- Tudo bem. É super compreensível. Você passou por muita coisa hoje - sinto seus dedos envolverem meu pé com uma atadura - Mas você pode me contar as coisas. Quero passar esse momento difícil ao seu lado.

Tom se aproxima limpando as lágrimas de meus rosto. Ele olha para meus lábios. Me sinto quente. Sinto um desejo de beijá-lo enorme. Mas uma voz atinge minha cabeça "você tirou Tom de nós" "arruinou nossos sonhos". Recuo dele que percebe meu desconforto.

- O que foi? - pergunta preocupado.

- Nada... é só uma dor de cabeça - minto - acho que eu vou me deitar.

- Quer que eu vá junto? - pede Tom me ajudando a andar.

- Não precisa - digo forçando um sorriso - você não gostaria de me ouvir gritando com mais um pesadelo.

- Bom... na verdade te ouvir gritando é muito agradável - ele sorri maliciosamente me fazendo rir. Tom sendo Tom - Boa noite Helena.

Ao me deixar na cama, o Kaulitz se despede me dando um pequeno selinho. Queria que ele ficasse. Queria sentir o calor de seu corpo no meu. Mas parece que quanto mais perto eu chego dele, mais as vozes ficam altas. Talvez eu deva ir à uma psicóloga ou algo do tipo.
Consigo dormir assim que o sol começa a nascer. Sinto mais uma vez, minha pele sendo arranhada meus cabelos puxados. Acordo ofegante. Olho a hora. 10:32. Eu tinha aula hoje. Não me acordaram. Me levanto esquecendo que meu pé está machucado, uma dor me atinge e caio no chão. Ouço passos apressados vindo em direção ao meu quarto.

- Helena? - Gui aparece na porta junto com os resto dos meninos - Ah meu Deus. Você está bem?

Meu irmão me ajuda a levantar me levando até a cozinha. Todos me olham com pena. Isso me irrita. Não quero parecer fraca na frente dos outros.

- Por que não me acordaram? - pergunto irritada - tenho aula hoje.

- Você não parecia bem nem para estudar - responde Bill - Só achamos que você precisava descan...

- Eu não preciso descansar. Eu estou bem entenderam? - digo tentando levantar, mas a dor em meu pé não me permite.

- Você diz isso mas sua cara e seu corpo dizem outra coisa - fala Georg.

- Tom disse que você não dormiu quase nada. Por isso deixamos você dormir mais - se justifica Gui.

Olho para os meninos que me olham como se eu tivesse sido atropelada por alguém. Até Tom me olha ainda com pena, mesmo tentando disfarçar.

- Escutem aqui. Eu não preciso da ajuda de vocês - digo me levantando novamente - Não me olhem com essa cara, como seu fosse um cachorrinho abandonado, como se me achassem louca. Eu... estou... bem!

Volto até meu quarto andando com dificuldade. Ignoro a dor e sigo em frente. Não sou fraca. Não quero que me achem fraca. Fecho a porta e me jogo na cama. Cada músculo meu dói. Lágrimas brotam em meu rosto mas me recuso a deixa-las cair. Mais uma vez as vozes me atingem. Talvez eu esteja ficando louca sim.






Meu Imperfeito Amor - Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora