Capitulo 4

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Após o almoço tardiu, quase café da tarde, Karol seguia trabalhando com sua mente, havia comido tão rápido, que acabou acarretando em uma má digestão. Ela não comunicou a ninguém, apenas ficou quieta, se recriminando mentalmente pela estupidez de comer veloz como se isso resolvesse seus conflitos internos. Enquanto Carolina e Alejandro estavam comendo ainda na metade de seus pratos, ela pediu licença, para dar uma volta pra ver se o intestino melhorava, além de espairecer um pouco.
- Ela comeu muito rápido, deve estar com indigestão... - constatou Carolina comendo mais uma garfada vendo a filha saindo do local.
- Juntando com o cansaço de ontem, acho que ela precisa mesmo é aliviar a mente e descansar. - contrapôs Alejandro.
- Humm - mastiga - confeço que me assustei quando recebi a mensagem do Ruggero ontem... - exteriorizou Carolina.
- Eu também me assustaria, depois de 5 anos sem se falarem, sem olharem um pro outro, de repente ela some e você recebe a mensagem, no mínimo inusitado. - seguiu Alejandro.
- Eu quero muito acreditar que eles só ficaram jogando e depois dormiram, mas aqui dentro - coloca a mão no peito, quase na garganta - eu sei que eles foram bem longe... - disse Carolina.
Alejandro não disse nada apenas gestualmente deu a entender que tudo poderia ter acontecido e seguiu comendo.
- Eu prefiro acreditar nela, afinal se passaram 5 anos, ela amadureceu um pouco nesse tempo, ela não seria tão ingênua como antes de se deixar levar ... - continuou Carolina.
Karol que já havia retornado ouviu a fala da mãe e reforçou:
- Mamá eu só joguei e dormi, já te disse, fique tranquila e obrigada por dizer que amadureci um pouco... - abraçou a mãe pelas costas a dando um beijinho na tempora.
- Não muito, pois comeu muito rápido! - exclamou Carolina.
Karol a soltou, voltou a se sentar, com sua barriga fazendo milhões de barulhos, ela retornou a mãe:
- Comi rápido porque estou cansada, foi muito intenso esses dias...
- E vem mais dias intensos pela frente filha, você sabe que a agenda tem entrevistas todos os dias até o fim do mês, vamos ter uma folga no início de março apenas. - lembrou Carolina.
- Eu sei Mamá, mas eu queria poder descansar o máximo que eu puder... - exteriorizou Karol.
- Está cansada porque passou a noite fora isso sim, sabe Deus até que horas ficaram jogando e você é pouco competitiva minha filha, agora esta aí com o sono todo atrasado e você sabe muito bem dessa agenda. - brandou Carolina.
- Eu quero deixar bem claro que se fosse só por mim eu teria dormido em casa, mas Ru... ele insistiu... - retornou Karol.
Por algum motivo a dificuldade em dizer o nome dele havia retornado, era como se ela não pudesse pronuncia-lo.
- Isso só comprova que você queria ir com ele! - deixou claro Carolina.
- Confece que aqueles olhos ainda te deixam sem reação, nós sabemos! - inteirou Alejandro.
Karol respirou e em um rompante contido e em tom baixo ela respondeu a eles incisivamente:
- Não existe nada entre eu e ele, apenas jogamos e nada mais, parem de criar história onde não tem, basta!
- Está bem não falamos mais, não precisa ficar bravinha... - zombou Alejandro em conluio com Carolina.
Karol se recostou na cadeira, cruzando os braços e o olhando pro chão tentou limpar sua mente e questionou em seguida:
- Quando vamos pra casa?
- Vai demorar, você tem a entrevista na Telemundo as 18h00. Você tem a agenda no seu celular, pelo jeito você não a viu hoje. - brandou Carolina.
- Não vi, primeiro porque estava sem meu celular até hoje de manhã, depois porque estava cansada, estou cansada... - começou Karol.
- Por escolha sua! Eu vou pagar a conta e vamos indo, porque você tem que trocar de roupa. - concluiu Carolina deixando claro.
No fim das contas sua mãe tinha razão, foi por escolha, ela podia ter ido embora no primeiro sono dele, mas escolheu ficar, porque era onde ela se sentía protegida e ninguém, nem mesmo seu pai, ou seu irmão a fazia se sentir daquele jeito, somente Ruggero parecia ter essa habilidade de transmitir segurança e proteção.
Saíram do restaurante rumo a Telemundo, uma empresa televisiva que ficava a uns 12 km dali. Karol foi todo o trajeto novamente tentando ao máximo estar no presente, mas sua cabeça constantemente a tentava, a levava pro passado, ou criava possibilidades de futuro. Em um dado momento devido ao movimento do carro ela acabou pegando no sono, sono esse que a levou a reviver mais uma vez toda a noite anterior desde o momento em que ele a puxou até a escada de incêndio, até o "se cuida" da manhã, no exato tempo que faltava pra sua mãe chegar e estacionar na Telemundo.
Ela se inclinou bruscamente em resposta a sua mãe desligar o carro, soltou o sinto e abriu a porta saindo em seguida.
- Hei porque tanta ansiedade? - questionou Alejandro saindo do carro.
- Porque quero me trocar logo e ficar pronta pra entrevista.
- Filha a entrevista é às 18:00 temos tempo de sobra, vá com calma! - alertou   Carolina saindo do carro e o contornando para abrir o porta malas e pegar as bolsas.
- Certo, vou aproveitar para tirar um cochilo então... - disse Karol indo na frente.
Carolina olhou para Alejandro com estranhamento, terminaram de pegar as coisas no porta malas, fecharam o carro e foram caminhando.
- Pelo menos eu sei que ela é sonolenta as vezes, por se não fosse por isso, começaria a me questionar sobre o que passou ontem na verdade. - desabafou Carolina.
Dentro do prédio, foram recebidos por uma equipe de boas vindas e conduzidos a uma sala que havia sido preparada para recebê-los, ao entrar, depois de observar todo o lugar, Karol vibrou por dentro que havia um sofá no local. Assim que foram deixados a vontade, Karol sem pensar se jogou no sofá, escondendo o rosto com uma almofada, quem sabe a penumbra ajudasse sua mente a se desligar um minuto e a permitisse relaxar e dormir por toda próxima hora.
Enquanto Karol dormia finalmente, Alejandro arrumava o balcão com os itens para retocar a maquiagem e Carolina passava vapor na roupa para ficar sem amassados.
- Ela dormiu mesmo... - constatou Carolina ao ouvir a respiração anazalada e sonora de sua filha.
- Estava cansada isso era notório, espero que esteja mais refeita quando acordar, pra estar com carinha de mais saudável. - disse esperançoso Alejandro.
Cerca de uma hora e quinze minutos depois, uma das pessoas da equipe veio avisa-los que faltava 35 minutos para entrarem no ar, que viriam chamar Karol em breve.
Carolina foi imediatamente pela filha, removendo a almofada que tampada seu rosto a chamando. Assim que a luz encontrou o rosto de Karol ela contraiu os olhos, se virou de barriga para cima, e antes que pudesse coçar os olhos, Alejandro advertiu:
- Pelo amor, não coce os olhos vai borrar tudo e amassar os cílios!
- Quase Ale, quase que ela coçou! - contou Carolina.
Karol levantou devagar se localizando, só o fato de olhar ao redor e não ver que estava em um quarto de hotel, era um alívio.
- Vamos filha, tem pouco tempo. - disse Carolina a ajudando a tirar a roupa.
Karol vestiu um conjunto de alfaiataria rosa, trocou o sapato para um de salto fino off white, se olhou no espelho pra ver se sentía bem e antes que pudesse dizer algo, Alejandro a chamou:
- Vem, senta aqui, deixa eu olhar pra você pra ver o que tem que retocar e aí damos uma mudada nesse cabelo.
Karol acatou e foi se sentar, Alejandro a olhou bem em todos os cantinhos do rosto e disse:
- Apesar de um pouco amassada aqui do lado direito, pelo menos agora parece mais descansada, vou só retocar o baton e uniformizar o contorno, e por essa roupa, vamos fazer um rabo de cavalo alto, vai ficar bem, nem vai parecer que fez as duas entrevistas no mesmo dia.
No entanto Karol piscava mais vezes que o normal e suas pálpebras estavam mais moles, o que fez Alejandro a dizer baixinho no pé do ouvido:
- Estou começando a ter certeza de que a noite foi bem longa, devido ao seu cansaço. - volta ao tom normal e se afasta um pouco dela - Ainda esta com sono não é?
- S-sim... - respondeu no automático Karol.
Parecia que sua mente e corpo estavam em desalinho, tão pouco ela conseguia raciocinar muito, o "sim" impreciso foi bem uma resposta dupla para o sussurro e fala de Alejandro.
Enquanto sua maquiagem era retocada, ela se reorganizava por dentro colocando as ideias no lugar e se concentrando, afinal a entrevista ao que tudo indicava iria ser ao vivo, ela não poderia dar margem para respostas  impensadas. Quando Alejandro passou a arrumar seu cabelo, ela começou a repassar perguntas e respostas como em um jogo mentalmente, programando ações e reações, pensando em possibilidades, fluxos da entrevista.
Quando terminou de arruma-la, disse a Carolina:
- A julgar por como está maquinando essa cabeça, ela está bem concentrada para a entrevista.
- Perfeito, quando ela se concentra, lidamos menos com tabloides e mensagens estranhas nas redes.
Sem demora, abriram a porta e avisaram que estava na hora. Karol saiu da cadeira em um salto, agradeceu Alejandro e foi indo em direção ao palco de gravação com sua mãe logo atrás. Com o término do bloco, Karol se abraçou a sua mãe que lhe desejou sorte e em seguida ela foi chamada.
Em minutos Alejandro que havia ficado organizando suas coisas nas bolsas, se juntou a Carolina para verem a entrevista ocorrer da área da equipe e visitantes.
A dinâmica da entrevista foi bem dominada por Karol, alguns momentos ela dava respostas objetivas, em outros a pergunta dava margem pra um contexto mais longo, ela seguiu o ritmo e foi muito bem. Mais uma entrevista tranquila que não geraria problemas posteriores. Voltando pro camarim sob elogios e palavras de incentivo, Karol sentou no sofá muito agradecida e colocou um tênis, ela adora sapatos, se sente muito elegante, mas tudo tem limite, sobretudo quando se tem um cansaço não vencido latente.
Assim que Alejandro e Carolina pararam o parlatório, Karol disse deixando claro:
- Por favor me digam que vamos jantar e depois vamos pra casa, eu preciso desesperadamente dormir.
- Já pedi tacos pro seu tio, ele vai levar pra nós, daqui vamos direto pra casa. - contou Carolina.
- Graças a Deus, pelo menos em casa se eu dormir com um taco na boca ninguém vai fotografar e postar. Estava com medo de ir a um restaurante e dormir mergulhada no prato. - retornou Karol seguida de um suspiro.
Dali como dito, foram direito pra casa, ela dormiu o trajeto todo, cada instante que podia, ela deixava o corpo apagar, mas ainda tinha muita energia para recuperar da noite anterior.

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