Capitulo 6

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Ela saiu pela entrada lateral a área principal do hotel, que parecia uma mansão com arquitetura clássica de fazenda, pegou a trilha de paralelepípedos, foi caminhando respirando aquele ar mais leve, sentindo o vento suave passar por seu corpo, o sol aquecer, todo aquele verde das pradeiras enchendo os olhos. Era um lugar tranquilo, aquelas sensações unidas, passo a passo foram a reenergizando. Ela seguiu pelo caminho até o trevo central onde havia uma fonte, uma placa com indicações e vários caminhos para escolher seguir. A princípio ela estava animada com tantas possibilidades, mas sua mente lhe trouxe o medo, ela passou a ficar ofegante, olhando para a placa e os caminhos, como se decidir um deles fosse decidir seu futuro. Ela se sentou na beira da fonte, levou a mão ao pescoço, fechou os olhos e passou a repetir para si mesma " Karol se controla. Você está segura, você esta bem, são só trilhas, você vai percorrer todas.". Ela foi se acalmando, se dominando, respirando mais fundo e pausadamente, aos poucos seus batimentos se estabilizaram, devagar ela abriu os olhos, olhou para a placa e escolheu um caminho, o que a levaria a uma cachoeira, " A água vai me ajudar a limpar meus pensamentos", pensou ela se levantando e seguindo pela trilha escolhida.
Boa parte da trilha era em meio a mata, cheia de árvores e animais silvestres, algumas borboletas pareciam acompanha-la pelo caminho. A trilha passou a ser em declive, o que fez Karol caminhar mais pausadamente, ainda se sentia cansada e não queria abusar de seu corpo. Alguns minutos depois ela chegou até a cachoeira, era linda, não era muito alta tinha cerca de uns 4 metros, mas a brisa que ela fazia equilibrava o calor do sol, ela se sentou em um tronco propositadamente alocado como banco, tirou os tênis e andou até a retenção da água que era quase uma prainha, molhou os pés e desejou do fundo do seu coração que as coisas ruins fossem levadas pela corrente da água, os pensamentos, as memórias, tudo aquilo que a fazia se sentir mal ou triste, contudo em meio a sua mentalização, a memória de Ruggero a dizendo que a amava a invadiu, ele a disse isso tantas vezes, mas suas atitudes posteriores não condiziam, como havia acontecido em um show, onde em um minuto ele disse que a amava e no outro a estava empurrando para sairem do palco, essa coisa dele ser volúvel a machucou muitas vezes, era como se ele fosse a princesa Fiona, um dia de um jeito, no outro dia de outro, isso sempre a deixava confusa e agora não parecia ser diferente. Mas porque tinha que lembrar disso justo quando estava pedido para que se esquecesse, não o bastante ela se lembrou de todas as vezes que ele a disse "me escuta, as coisas não são como parecem" e ela ficava furiosa e pediu pra ele se afastar, ainda que em dois dias estivessem juntos outra vez. Desde o início foi muito peculiar, a primeira vez que se viram foi muito impactante porque era como se já tivessem se conhecido antes. A conexão foi imediata, a amizade foi crescendo, eles foram se aproximando cada vez mais, devido a patinação os laços de confiança foram se fortalecendo e a amizade em poucos meses já havia se convertido em algo mais, um amor que ela nunca tinha sentido na sua vida, pelas respostas ele também não. Era muito surreal, eram cúmplices, ele a protegia, a cuidava todo o tempo, com muito carinho, ela era prioridade pra ele, tudo era tão bonito de ser vivido, até começar a haver interferência do chefe que parecia ter ojeriza de ver os dois juntos, os obrigou a se separarem tantas vezes, mas a conexão sempre foi mais forte e ainda parecia ser, mesmo com tudo contra.
Depois de uma longa volta mental, Karol voltou para o estado presente, olhava a água descendo a pedra em cachoeira com muito afinco, para que não desse margem para pensamentos que a fizessem sair dali.
Em um súbito rompante, ela entrou na água de roupa e tudo para baixo da queda da água. A água caia com força, mas era o que ela precisava pra lavar a alma mesmo que subjetivamente. A retenção era rasa, mas ela nadou um pouco, depois de um tempo saiu, pegou seus tênis e caminhou de volta até a fonte, no aclive foi mais devagar, quando chegou ao centro das trilhas, se sentou novamente na beira da fonte se esticando para que o sol a secasse, pelo menos um pouco. Quando se sentiu mais seca, voltou para o hotel, foi para o quarto, e lembrando que o cartão estava no bolso da sua blusa, desejou que a água não o tivesse danificado, por sorte funcionava muito bem. Ela entrou no quarto e foi direto tomar banho, quando saiu do banheiro secando o cabelo com a toalha deu de cara com sua mãe que espantada exclamou:
- Você tomou banho outra vez, tem algo de errado!
- Calma Mamá, eu desci a trilha pra cachoeira, não resisti e entrei na água mas fiquei muito molhada, um pouco fria, preferi tomar um banho pra regular a temperatura do corpo, está tudo bem. - tranquilizou Karol indo por sua maleta escolher uma roupa.
- Ah... mas ainda sim... enfim, eu tentei ligar pra você pra te avisar pra você vir almoçar, mas você não atendeu... - contou Carolina.
- E nem iria, deixei meu celular desligado em casa, quero ficar longe um tempo. - esclareceu Karol se vestindo.
- Hunf... é... vai te fazer bem, dar um tempo das redes mesmo. Mas enfim, já esta vestida, vamos almoçar? Tem um buffet incrível aqui, você vai amar! - compreendeu e indagou Carolina.
- Não estou com muita fome, mas vamos ver, quem sabe tenha algo nesse Buffet que eu goste. - respondeu Karol.
Carolina a olhou com certa curiosidade, pois tomando banho e com falta de fome, essa não era sua filha, ficaria a observando mais de perto para entender o que estava acontecendo.
Saíram do quarto e foram direto para o restaurante do hotel, era um local muito amplo com muita luz natural proveniente das imensas janelas em arco, que quase traziam a natureza para dentro do espaço. As mesas eram redondas e faziam o entorno do ambiente, no centro um buffet enorme, com tantas opções e aquele cheiro de comida de fazenda, aquelas infinidades de bolos e doces, fizeram o estômago de Karol que não sentia fome ranger, relutante ela pegou um prato e se serviu com sua mãe e Alejandro logo atrás. Ela escolheu coisas pontuais, mas montou um prato bem diversificado em poucas quantidades. Do buffet se sentaram a uma das mesas, passaram a saborear a comida que era muito rica em sabores, aromas e temperos. No entanto Karol, não conseguiu comer nem metade do que havia pego, passou a maior parte do tempo jogando a comida de um lado a outro do prato enquanto olhava para fora devaneamente.
Alejandro voltou ao buffet, quando retornou a mesa Carolina o perguntou:
- O que foi repetir?
- O mousse de chocolate está divino! - exclamou ele dando um beijo na ponta dos dedos e se sentando em seguida.
Karol o olhou fixo, soltou o garfo que caiu sobre o prato estridentemente, ela ficou ofegante, os olhos encheram de lágrimas, em um rompante ela se levantou e saiu correndo.
Alejandro e Carolina se olharam tentando entender o que havia ocorrido, mas foi olhando para seu prato que Alejandro pensou alto:
- Mousse, ela está tendo um gatilho... já volto Caro...
- Espera eu vou junto! - pediu Carolina.
- Deixa comigo Caro, você está almoçando ainda, termine tranquila, eu vou cuidar dela! - concluiu Alejandro saindo apressado.
Karol saiu correndo pela viela de paralelepípedos, chorando, era como se o corpo dela a forçasse pôr pra fora o que sentia em formato de lágrimas caudalosas que marcavam seu rosto e molhavam sua camiseta. Ela correu até um dos pergolados que por sorte devido ao horário estava vaziu, se sentou em uma das poltronas com as pernas bem juntas uma da outra, apoiou os cotovelos sobre as coxas e levou o rosto sobre as mãos e se permitiu chorar profundamente.
Alejandro a procurava preocupado, corria pelo saguão do hotel olhando cada canto, saiu pela lateral em direção às trilhas e de longe pode ver onde ela estava, correu até lá o mais rápido de pode. Ele se sentou ao lado dela, segurou um de seus pulsos a puxando para um abraço, ele não disse nada, apenas ficou ali a apoiando.
Quando ela teve coragem para soltar o que estava preso na sua garganta passou a dizer em meio ao pranto:
- Porque ele faz isso comigo... porque...
Alejandro a afagou nas costas a transmitindo que ela poderia dizer o que quisesse e ela seguiu:
- Eu... - soluça - eu o amo, mas tudo que ele faz desde que... Diego passou a intervir... - soluça - é me machucar... - tossiu um pouco - Ele me amou aquele dia, como nunca antes... mas pra que ?? Pra que???
Alejandro não conseguia ver ela sofrer daquela forma, seus olhos estavam cheios de água, a impotência era importunante e Karol seguia chorando compulsivamente, no fundo ele sabia que ela precisava por pra fora muitas coisas, as quais ela continuou:
- Eu não queria ter ido... eu pedi que ele me soltasse..., mas ... mas meu corpo fazia o oposto e... e... quando dei por mim... aí Ale... porque essas coisas acontecem comigo, porque tudo tem que ser assim... sempre mais difícil... você não sabe... - soluça - como é... amar uma pessoa e não... não poder estar com ela... - grita - Meu Deus eu odeio ele, eu odeio!!! Ahhhhhhh - segue chorando dolorosamente, volta a falar baixo - mas... mas... eu o amo... esse amor é mais forte do que eu... eu tento esquecer Ale, eu tento, eu tento esquecer o que vivemos... eu tento esquece-lo, mas quando finalmente eu tô conseguindo... ele volta... eu perco o controle...e só quero ele e nada mais...

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