Na manhã seguinte, perto das 5:30, Carolina desceu as escadas, percebeu que Karol seguia dormindo do mesmo jeito que a havia deixando a noite no sofá. Ela preparou um café da manhã rápido e foi chamar a filha, porém como ultimamente a menina tinha dificuldade de acordar, Carolina era insistente, chamava, chacoalhava, até que Karol acordou:
- Já acordei Mamá...
- Bom, filha que bom, preciso que se levante, escove os dentes tome o café pra podermos ir ao hospital e não se demore porque temos horário marcado. - orientou Carolina.
Karol não disse mais nada, se espreguiçou, parecia que ter dormido continuamente por mais de 14 horas a havia trazido um pouco de energia, ela se levantou e fez o que sua mãe pediu, logo em seguida comeu o cereal, que prudentemente Carolina havia feito uma porção pequena para não empazina-lá. Café da manhã tomado, as duas foram pro carro e dali para o hospital. Karol estava bem até metade do caminho, quando ficou muito pálida e passou a ter ânsia, sua mãe precisou parar o carro na urgência porque o vomito veio sem controle, o que deixou Carolina em estado de muito alerta.
Passada a sensação seguiram rumo ao hospital, lá Carolina foi amparando sua filha até o laboratório, onde prontamente foram atendidas. Karol estava tão chateada consigo mesma, por como seu corpo estava agindo, que nem ligou pro procedimento. O sangue foi coletado de forma muito rápida, antes de sairem do laboratório para esperarem o horário com o doutor, foram avisadas que o exame estaria disponível em no máximo 2 horas.
Na sala de espera, Carolina tentava fazer a filha comer pelo menos uma bolacha de água e sal, Karol demorou um tempo para comer uma única bolacha, a mastigou muito bem para ter certeza de que ela não voltasse nos minutos seguintes. Dentro de 30 minutos o doutor a chamou, ele percebeu de cara que havia algo errado. Dentro do consultório, Carolina explicava tudo que vinha acontecendo, todos os sintomas, enquanto o doutor fazia exames básicos em Karol.
- Como você esta se sentindo agora?
- Enjoada e cansada... - respondeu Karol.
- Pode se sentar na cadeira. - pediu - Veja não há traço de anemia, nem de deficiência de vitaminas no visual externo e de acordo com os exames dela anteriores ela vinha bem saudável e a reposição polivitaminica vinha dando resultando. Ela não está apresentando deficiência hepática, coração e pulmão estão muito bem. Ela fez exame de sangue? - explicou e perguntou o doutor.
- Sim doutor ela acaba de fazer. - respondeu Carolina.
- Vamos ter que esperar os resultados porque está bem atípico. Você tem tido dores abdominais? - seguiu o médico.
- Não... - respondeu Karol objetivamente.
- Você disse que ela estava em uma rotina bem intensa de trabalho? - indagou o doutor.
- Isso, já faz bem dizer uns 3 meses, mas mais intenso no último mês. - respondeu Carolina.
- Bom pode ser um quadro de exaustão psicomotora, mas vamos aguardar o resultado dos exames, vocês podem sair dar uma volta e daqui 1:30h creio que já possam retornar para darmos sequência ao atendimento, tudo bem? - orientou e perguntou o doutor.
- Certo, obrigado por hora. - agradeceu Carolina.
As duas se levantaram, saíram do consultório e foram para fora do hospital tomar um ar, sentar nos bancos na pracinha em frente, Karol estava oscilando energeticamente, mas não pode deixar de perguntar a sua mãe:
- Mamá o que será que está acontecendo comigo?
- Não sei filha, nem mesmo o doutor sabe, somente seus exames vão dar um direcionamento. - respondeu Carolina.
Karol estava meio perdida, tentando entender porque seu corpo estava agindo daquela forma, era como se ela estivesse perdendo o controle sobre ele, e tudo que tinha era sono, cansaço e náusea. Em segundos Ruggero chegou em seus pensamentos, ela tentava entender o que ele tinha feito a ela para que desde então ela não conseguisse se estabilizar, quer dizer sua mente até que estava bem mas seu corpo estava totalmente fora de si, como naquele dia em que ela não conseguiu controla-lo.
Passado a hora ali, Carolina ajudou a se levantar e retornaram ao hospital, o doutor já as esperava, entraram no consultório novamente se sentaram e o doutor abriu os exames e passou a analiza-los.
- Bom, seus exames estão bem, suas vitaminas e minerais estão até altos, o que é ótimo, colesterol e triglicerideos normais, olha esta bem bom esse exame, melhor do que os anteriores, deixa eu ver as taxas hormonais, - analisa - t3, t4, tsh normais, os outros estão em taxas boas. - acha um item alterado - Creio que encontrei a resposta, o beta está em 300. - disse o doutor.
- O Beta? O Beta hcg? - questiona Carolina.
- Qual seria o ideial? - perguntou Karol.
- Exatamente o Beta hcg, o ideal sería entre 3,8 e 5. - responde ambas o doutor.
- Isso é muito alterado, o que acontece?.- perguntou Karol atônita com a diferença e tentando entender o que havia feito para gerar tamanha alteração.
- Ela vai precisar de exame complementar? - perguntou Carolina tentando se manter calma, mas visivelmente alterada.
- Estou solicitando agora mesmo. - respondeu o doutor.
O médico se levantou foi até a porta, chamou uma das enfermeiras e perguntou:
- Sabe se a doutora Norma está livre?
- Está sim senhor, está na sala dela. - respondeu a enfermeira.
Ele a agradeceu, voltou a sua mesa e interfonou:
- Norma? Tudo bem? Você consegue fazer uma eco agora? Preciso de um exame confirmativo gestacional, paciente com alteração de 300 de Beta. - pessoa responde - Okay, vou mandar ela pra você já. - conversou e desligou o telefone o doutor.
- Gestacional? O que?? - questiona Karol saltando na cadeira.
- O Beta hcg é o hormônio que se altera quando a mulher está grávida, e bate com todos os seus sintomas, mas para confirmar bem, e saber como está é melhor fazer uma ecografia - anota - a qual você vai fazer nessa sala com essa doutora. - responde o doutor lhe entregando o papel.
Karol estava trêmula, tentando administrar o que acabará de ouvir, olhou para sua mãe que estava de cabeça baixa, ela a chamou:
- Mamá?
- Vá fazer o exame, depois conversamos. - respondeu Carolina objetivamente.
Karol saiu da sala ofegante, um medo a invadiu, tanto que não conseguia descobrir onde era para ir, uma enfermeira a percebeu perdida e ajudou, a levou até a sala da doutora.
- B- bom dia... - disse Karol entrando na sala.
Tão pouco conseguiu agradecer a enfermeira pela ajuda, estava começando suar, pensando na conversa que teria mais tarde com sua mãe.
- Karol Cisneiros ? - perguntou Norma.
- I- isso. - respondeu Karol.
- Me chamo Norma, prazer, pode se deitar aquí. - orientou a médica.
Karol se deitou na maca trêmula.
- Pode erguer a blusa até o peito por favor? - pediu Norma.
Karol o fez, em seguida a doutora lhe avisou que lhe passaria um gel gelado, o aviso não diminuiu a retração de Karol com a sensação de frio do gel.
- Beta hcg alterado certo? - Perguntou Norma deslizando o leitor.
- Sim... - respondeu Karol ainda tentando entender o que estava acontecendo.
A doutora analisa as imagens por alguns minutos, em seguida vira o monitor para Karol e a diz:
- Você tem um bebezinho de 9 semanas, que está bem formadinho, saco gestacional esta bem fixado, tudo bem normal para o período, vamos ver o coração. - disse a doutora.
Karol ficou ofegante ao olhar para a tela, levou a mão tampando a boca e passou a chorar contidamente, até ouvir um batimento cardíaco em alto e bom som que não era o seu, ao ouvir, ela não conteve mais o choro o deixou vir.
- Você não sabia? - perguntou a doutora.
- Não... - disse Karol soluçando.
Nunca ela havia cogitado a possibilidade de lhe estar acontecendo algo assim, o que a fez perguntar em meio ao choro:
- E- está T-tudo bem?
- Está sim, seu bebê está saudável e bem para o período. - respondeu a doutora.
"Seu Bebê, como assim, eu não sei cuidar de mim mesma...", pensava Karol e mais milhares de pensamentos todos juntos. A doutora percebeu que ela estava olhando fixo a tela, portanto deslizou mais um tempo o leitor, até mesmo para que ela se acalmasse. Quando percebeu que o choro estava parando ficando apenas soluços breves a doutora terminou o exame. Removendo o gel a disse:
- Você vai precisar fazer o pré Natal a partir de agora e se cuidar bastante, gravidez não é doença, mas é um quadro delicado, exige prudência e responsabilidade pela sua vida e pela nova que está se formando. Pode baixar a blusa, de minha parte o exame terminou. Parabéns pela nova vida.
- Obrigado. - disse Karol, ainda que tenha sido a única coisa que ela conseguiu dizer.
- Eu que agradeço, bom agora você pode retornar para falar com o doutor, já vou enviar o exame pra ele. - orientou a médica.
- Okay... - disse Karol quase sem voz.
Karol foi andando pelo corredor, ainda com lágrimas escorrendo involuntariamente, assimilando, ou pelo menos tentando, o que estava acontecendo " nova vida" tratava de digerir. Quanto mais perto da sala do médico ela chegava, mais desesperada ficava em pensar na reação de sua mãe. Quando chegou em frente a porta, respirou fundo, enchugou um pouco as lágrimas, ainda que em vão e entrou na sala, parou em frente a cadeira mas não se sentou, sua mãe sequer olhou para ela, o doutor quebrou o silêncio:
- Confirmado?
Karol balançou a cabeça.
- Quanto tempo? - seguiu o doutor.
- 9... semanas... - responde Karol engolindo o choro.
- Bom isso condiz com o tempo dos seus sintomas. Norma te deu as orientações? - perguntou o doutor.
- S-sim. - respondeu Karol.
- Então agora é fazer o pré Natal direitinho e se cuidar. Doente você não está então fique tranquila. - concluiu o médico.
- Obrigado doutor. - falou Carolina se levantando
- Não tem de que, qualquer coisa estou a disposição.
Ambas consentiram gestualmente, em seguida Carolina saiu da sala e Karol foi logo atrás. Todo trajeto até o carro, do hospital para casa sua mãe foi calada e Karol se rendendo aos medos, ficando desesperada por dentro, ela que sempre sabia o que fazer em questão de ações, dessa vez estava sem reação. Chegaram em casa, Carolina estacionou o carro, saiu do veículo e Karol foi atrás. Entraram na casa, Carolina deixou as chaves e a bolsa sobre a mesa e levou as mãos a cabeça, Karol fechou a porta, olhou para sua mãe e a chamou:
- Mamá?
Carolina virou para filha e a disse rispidamente:
- Você mentiu pra mim.