Ele acordou em um rompante, sentou na maca muito alterado, repetindo baixinho "ela está viva", as enfermeiras correram o fazendo deitar novamente devagar, pedindo que ele se acalmasse, mas ele só conseguia dizer ainda que falhado:
- Ela está viva e vou ver ela logo!
Preocupadas as enfermeiras chamaram o médico que prontamente apareceu lhe perguntando:
- Se acalme, como você está se sentindo?
- Bem, estou me sentindo bem. - respondeu com clareza Ruggero.
- Isso é muito bom, vou solicitar novos exames, não sei o que aconteceu nesse período, mas foi algo muito bom, porque você está mais corado, seu olhar está mais ativo, um contraste muito grande em como você estava de manhã.
- Ele parecia estar sonhando doutor se mexia bastante. - contou uma enfermeira passando por ali.
- Esse sonho foi muito bom pelo jeito! - exclamou o médico.
- O senhor não sabe o quanto. - disse Ruggero dando um sorrisinho em seguida.
- Isso é bom sinal, vou pedir os novos exames já! - concluiu o doutor saindo em seguida.
Naquele momento Ruggero estava o oposto do que estava antes, tudo que pensava é que precisava melhorar logo pra sair dali e retornar sua busca, agora sabendo que a encontraria.
Em Pescara, Karol acorda e se senta no sofá rapidamente, esfrega o rosto e olha para Antonella que a estava observando atônita.
- O que aconteceu? Estava dormindo tão bem? - perguntou Antonella.
- Eu... falei com ele... - respondeu Karol.
- Com quem carinho? - retornou Antonella.
- Com Rugge, com meu Rugge... - respondeu Karol ainda um pouco ofegante e tentando por as ideias no lugar.
Antonella reagiu com certa ternura, mas queria entender melhor o que ela estava querendo dizer, então seguiu:
- Como falou com ele?
- Eu... eu sonhei, sonhei que o encontrava, não me lembro exatamente todas as palavras mas eu o disse que estou bem, me parecia que alguém o tinha dito que havia acontecido o pior comigo, então tive que dizer que estou bem e segura... - percebe suas sensações - Sinto que ele está melhor agora... - contou Karol.
- Viu eu disse que dormir iria te ajudar a se sentir melhor... - lembrou Antonella.
- Foi mais do que isso Nella... muito mais do que isso... - disse Karol ganhando luz em seu semblante novamente.
Antonella a fez carinho nos cabelos e a sorriu, na verdade ela entendia bem do que se tratava.
O resto do dia transcorreu tranquilo, Bruno e Leo voltaram do treino extra de domingo na hora do café da tarde e encontraram uma Karol mais animada e uma Antonella mais descontraída.
Na manhã seguinte, todos acordaram mais cedo, Bruno preparou o café da manhã, montou uma cestinha com um pouco de cada coisa para que Antonella levasse no carro, pois Karol precisava estar de jejum para fazer o exame de sangue, mas certamente iria ter fome depois, com as duas prontas, Karol se deitou no banco de traz como da última vez e Anronella foi dirigindo, Léo não foi junto pois teria as primeiras aulas e não podia faltar.
Em minutos Antonella estacionou na clínica, Lúcia as estava esperando na recepção, as recebeu e levou Karol até o ambulatório. O exame de sangue foi colhido rapidamente, Karol nunca gostou muito, mas sabia que era preciso. Do ambulatório, foram para o consultório da doutora, lá Karol tirou o moletom fino que estava usando, pois a manhã estava mais fresca devido ao nublado. Assim que a observou Lúcia disse:
- Olha essa barriguinha, está linda, cresceu bastante desde a última vez que nos vimos, mas me conte como você está?
- Agora estou bem, mas tive muitas cólicas esses últimos 3 dias. - respondeu Karol.
- Ela ficou nervosa Lúcia, nós duas ficamos, porque tivemos um pressentimento de que Ruggero não estava bem, não conseguíamos falar com ele nem fazer contato com alguém que pudesse dar algum parecer... - inteirou Antonella.
- Humm, mas conseguiram? - elas confirmaram - E está tudo bem agora? - responderam novamente - E as cólicas passaram? - perguntou Lúcia.
- Sim, não tenho sentido desde ontem a tarde. - respondeu Karol.
- Certo, vou pesar você, medir e depois vamos pro exame por imagem tudo bem? - informou Lúcia.
- Uhum - concordou Karol.
Depois de fazer todo o protocolo padrão, a doutora informou:
- Seu peso está bom, sem alteração, mas essa barriguinha fofa esta com 12 cm de diferença da última vez, o moranguinho evoluiu para uma laranjinha certamente. - contou - Bom vamos ao exame por imagem!.
Do consultório foram a sala de exame por imagem, dessa vez Karol estava mais tranquila, já nem se lembrava da primeira ecografia. Ao entrar na sala, Karol se deitou na maca, Antonella se sentou ao seu lado como da última vez, a dando todo o apoio, a ajudou a subir a blusa e a descer um pouquinho a calça pois agora era preciso devido ao volume.
- E vamos ao gel gelado! - Falou em tom animado Lúcia, se sentando ao lado da maca e colocando o gel.
Karol se contrariu, talvez essa seria uma das coisas que ela não se acostumaria do exame.
Lúcia passou a deslizar o leitor olhando fixamente para a tela, mexia no teclado, muito concentrada, como se olhasse cada canto, em um momento ela disse bem baixinho:
- O que é isso aqui...
- Alguma coisa errada Lúcia? - perguntou Antonella percebendo o olhar curioso, mas preocupado da doutora.
- Não, não, só que tem... não, não, não tem nada, tudo certo, tranquilas, é que sou minusiosa... bom Anonella você sabe. - respondeu Lúcia.
Seguiu mexendo o leitor mais um pouquinho e quando foi virar a tela para elas exteriorizou perguntando:
- Ah! - leva a mão a boca e da um risinho - Eu já sei o que é, querem saber?
- Sim... - respondeu Karol.
- Então olhe aquí na tela - vira a tela para elas - O que temos aquí, conseguem identificar? - perguntou Lúcia.
- Não muito, dos menino estava diferente pelo que me lembro. - respondeu Antonella.
Karol ficou na expectativa, não entendía muito, então preferiu não palpitar.
- Justamente Antonella, esta diferente porque é uma mocinha. - contou Lúcia.
Antonella levou a mão a boca um instante, se emocionou imediatamente e perguntou para ter certeza:
- É mesmo uma menina?
- É sim, é ela está ótima, bem desenvolvida, o tamanho está entre uma laranja e uma pera, coraçãozinho está a mil, ela está muito bem e você também Karol, nada do que aconteceu esses dias afetou ela. - respondeu Lúcia.
Antonella seguiu emocionada, mas calada, o que gerou certa perturbação na mente de Karol, que ainda administrava que era menina e que estava tudo bem.
- Bom, eu vou passar algumas vitaminas pra você e reforço em acido folico, porque pelo seu exame de sangue é melhor repor, sei que sua alimentação está super boa, mas a sua estrutura é pequena e eu não quero que você tenha problemas mais a frente. No mais está tudo bem, na próxima essa mocinha ja vai estar um abacate de grande. - explicou Lúcia rindo em seguida limpando o gel em Karol.
Enquanto Lúcia fazia a receita das vitaminas, Karol seguia preocupada com o silêncio de Antonella que ainda estava visivelmente emocionada, no entanto, ela via algo diferente naquele olhar, não tinha braveza, ou preocupação era diferente, só restava a Karol esperar que ela se sentisse cômoda para lhe falar.
Com a receita nas mãos, elas se despediram da doutora e saíram da clínica se sentando no carro, mas antes que Antonella partisse ou a dissesse para se deitar Karol a pediu:
- Podemos comer antes de irmos, estou com muita fome.
- Claro carinho, deixa eu sentar atrás com você pra gente comer, porque também estou com fome, boa ideia. - concordou Antonella.
No banco de trás, as duas saboreavam tudo que Bruno havia colocado na cesta para elas, mas Karol percebeu que Antonella não tirava os olhos de sua barriga, o que a fez tomar coragem e perguntar:
- Nella você está bem? Está muito calada desde que a doutora nos contou que é uma menina...
Ao dizer "é uma menina", Karol sentiu coceguinhas dentro de si, era estranho e ao mesmo tempo emocionante saber o que é.
Antonella a olhou nos olhos, terminou de mastigar e engolir o pedaço de pão, respirou fundo e respondeu:
- É melhor eu te contar logo...
- Então me conte... - pediu Karol.
Antonella suspirou e começou a contar:
- Quando Rugge tinha uns 6 anos, nós fomos para a festa da colheita do solsticio de verão, passamos o dia lá, Rugge adorava, porque tinha sorvete, brinquedos... ele se divertia muito. Mais no final da festa estávamos andando de mãos dadas, eu, ele e Bruno, e uma cigana nos parou, olhou em meus olhos e me disse: " Esse seu menino vai ser famoso, vai atuar em várias áreas dad artes, porque tem talento sobrando. Por isso algumas garotas vão passar pela vida dele, algumas interesseiras, mas ele se apaixonará por apenas uma delas, perdidamente e a primeira vista, é um amor de outro mundo, outras vidas, muito forte, mas acarretará muitos medos, medos que se ele alimentar irão crescer e ele se pederá um tempo na estrada. Contudo sua certeza virá quando a destinada a ser a mulher de sua vida der a luz a uma menina e aquilo que foi separado se juntará e nunca mais se separará." Entende porque fiquei emocionada, porque sei que vocês se amam, sei como você o faz sentir, vejo em você o quanto o ama também e agora você vai ter uma menina, tudo o que a cigana disse está se cumprindo. - respira aliviada - Graças a Deus, coloquei isso pra fora, somente Bruno sabia disso, nunca contamos a ninguém, quer dizer, Rugge ouviu tudo na época, talvez ele se lembre... Quando te conhecemos e vimos como nosso filho ficava ao seu lado, essa profecia, vamos chamar assim, veio a tona nas nossas mentes outra vez, vocês viveram momentos tão lindos, até se separarem e ele ficar perdido, quando menos esperamos você apareceu contando que estava grávida, nesse mesmo dia eu e Bruno revivemos essa história com a cigana e ela se cumpriu... se cumpriu... estou emocionada sim carinho, mas de feliz, feliz por saber que tudo vai dar certo. - concluiu.
Karol ficou olhando Antonella absorvendo cada palavra, era estranho, pois conforme Antonella foi falando a "profecia" era como se ela já soubesse cada palavra, era algo mais conhecido dela internamente do que ela pensava, sem embargo ela exteriorizou:
- Isso explica muita coisa... esse amor que eu sinto por ele desde o primeiro dia... e que louco porque eu nem sabia que eu passaria no casting, não tinha noção que era para a protagonista, e quando fizemos o primeiro encontro do elenco não houve química com o menino que havia selecionado, então chamaram Rugge e ele poderia ter dito que não, mas aceitou, quando nos encontramos, que nos demos as mãos em cumprimento foi como se um raio tivesse caído na sala, eu disse "prazer em te conhecer" mas por dentro estranhamente eu disse "que saudade". Nella era como se eu conhecesse ele desde de sempre, no mesmo dia nós já éramos cúmplices. Sempre senti algo muito forte, uma conexão que nunca soube explicar, e quando nos distanciavamos ou quando nos dizíamos palavras duras, era como se eu me perdesse de mim mesma, as coisas só faziam sentido quando estávamos juntos, era como se ele fizesse o meu melhor sair ...
- E você o dele... - interrompeu Antonella.
- É... quando eu soube dela - leva a mão ao lunar - eu fiquei meio perdida de início, mas eu tinha uma certeza que ninguém a tiraría de mim e que eu a teria, porque ela é um pedaço dele... por isso não tive medo de deixar tudo pra trás e lutar por ela... - pensa - agora falando... nunca pensei que seria um menino... que loucura isso.
- Destino... chama-se destino, ainda que eu ache que vocês mesmos o escreveram. - disse Antonella.
- Sabe Nella eu ainda não sei muito bem o que é tudo isso, quer dizer eu sei que ela está aqui que esta crescendo, que está bem, mas... - voltou a falar Karol.
- Quando ela se mexer tudo vai mudar, é o momento mais marcante de toda a gravidez, porque você sente a vida que esta criando, sente os pés, as mãos, sente tudo, e agora mesmo ela já está nos ouvindo, mas ela vai passar a responder você... - É invadida por uma visão - Hunf... eu imagino o Rugge sabendo disso... - explicou e exteriorizou Antonella.