Capítulo 3

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Durante o trajeto curto do hotel até o distrito de Iztacalco, Karol ficou olhando pela janela, pensativa, tentando entender o que havia acontecido, porque ele tinha sido tão doce e delicado, porque a tinha tratado com tanto amor, porque não falou nada sendo que era notório que ele queria falar, ela pensava aceleradamente, seu cerebro fazia sinapses frenéticas como quem abrisse arquivos continuamente em um filme de ficção científica para analisar um caso.
Karol chegou em casa em minutos, perto das 7 da manhã, agradeceu o motorista, desceu do veículo, olhou pro lado de onde tinha vindo, "ele estava tão perto" pensava ela. Procurou atrás do vaso na entrada da casa a chave reserva, abriu o portão, entrou, guardou a chave de volta no lugar e subiu. Entrando em casa, sua mãe estava sentada no sofá, mexendo no celular, com uma perna cruzada sobre a outra, balançando o pé suspenso, quando chegou ao lado do sofá, sua mãe sem tirar os olhos da tela do aparelho disse brava, em um tom muito grave e de julgamento:
- 7 horas da manhã Karol? Isso são horas? Ficou fazendo o que com o Ruggero até essa hora?
Karol engoliu seco pensando rapidamente em um reposta e disse:
- Ficamos jogando videogame como antigamente e acabamos dormindo, assim que amanheceu eu vim pra casa.
- E você acha que eu vou acreditar nisso, com você estando com essa roupa? Conheço vocês dois faz tempo. - retornou Carolina.
- Mamá estou falando sério, somente jogamos e dormimos pelo cansaço foi só isso nada mais. - tentou deixar claro Karol.
- Eu vou acreditar nisso. Anda vai tirar essa roupa e vai pra cama que mais tarde você tem compromisso e precisa estar descansada. - aceitou mais ou menos e orientou Carolina.
Karol acenou com a cabeça e subiu as escadas direto para seu quarto. Tirou o casaco, depois o vestido, vestiu o pijama e deitou na cama de lado se cobrindo até o pescoço, suspirou, fechou os olhos na tentativa de dormir, contudo, em segundos os flashs da noite invadiram sua mente, por um instante ela sentiu ele atrás dela a abraçando e respirando em seu pescoço. Por dentro ela desejava não ter ido pra casa, teria ficado lá com ele, protegida e segura, mas ela sabia que sua mãe faria mais perguntas do que já havia feito e por mais que ela fosse boa interpretando, a dissimulação para sua mãe não era fácil de se fazer, tampouco ela gostava de mentir, mas era isso ou ganhar uma discussão ferrenha. Ela queria estar com ele, quiza ele a procure, pensava ela enquanto o sono invadia sem piedade.
Karol dormiu tão profundamente que Carolina precisou além do alarme, de chamar, de chacoalha-lá pra que acordasse.
- Vamos Karol, Ale está te esperando temos duas horas pra você se aprontar e chegarmos no local da entrevista!! - brandou Carolina puxando as cobertas de cima da filha.
Meio desnorteada ela perguntou se espreguiçando e coçando os olhos:
- Que horas são?
- Quase 13h00 da tarde! CORRE! - respondeu Carolina saindo do quarto.
Karol sentou na cama, ainda sem forças nem vontade de se levantar, colocou os pés para baixo, contou até três, se levantou, indo até o banheiro escovar os dentes. Ela sentia seu corpo pesado, cansado, mas focou no que era importante, cumpriu com sua higiene e depois desceu encontrando Alejandro a esperando na sala para começar a maquiagem.
Foi ela sentar na cadeira, Alejandro olhar pra ela e questionar:
- Você não se desmaquiou ontem?
- N- não... - respondeu ela sabendo que ele iria dar um sermão.
Mas ao invés de brigar com ela, ficou em silêncio, removeu toda a maquiagem anterior, hidratou a pele e a deixou respirar um pouco enquanto ajustava tudo pra começar a maquiagem nova, Karol incrédula ficou olhando-o  e o disse:
- Jurava que você iria brigar comigo.
- Eu sei que você chegou só hoje de manhã em casa, sua mãe me contou. - disse Alejandro espalhando o primer.
- É eu cheguei mesmo... - confirmou ela ficando ruborizada.
- Pelo jeito a coisa foi boa... - esternalizou Alejandro.
- Sim, jogamos bastante! - deixou claro Karol.
- Tenho certeza que sim, Mario Kart não? - sussurra - Você pode convencer a sua mãe, mas eu estou há 8 anos acompanhando a história de vocês e tenho certeza de que o que vocês menos fizeram foi jogar. - disse Alejandro.
Por um segundo ela havia esquecido de tudo, mas as palavras de Alejandro fizeram ela reviver cada minuto outra vez, ela não disse nada ficou apenas calada, mas Alejandro continuou sussurrando:
- Pelo menos é no antebraço, da pra mascarar,  dizer que você se bateu em algum lugar.
Ela enferruscou o rosto, levantou o braço esquerdo, ao olha-lo percebeu um roxo se formando, suspirou, concordou com Alejandro, mas ficou abismada porque tinha se olhado inteira de manhã e não havia nada.
Carolina que estava na sala cuidando de alguns detalhes, levantou do sofá e subindo as escadas informou que iria passar as roupas que iriam usar, assim que ela desapareceu de vista Karol disse ainda olhando pro braço:
- Eu me olhei inteira de manhã e não havia percebido essa mancha..., quer dizer eu não me lembro de ter me batido em nada.
- Bom pelo menos não é como a do ombro na Bolívia em 2018, nem a do pescoço no Chile quando você se "bateu nos moveis", então está tranquilo. - piscou e a tranquilizou Alejandro segurando o riso.
- Eu não consigo ... - começou ela.
- Me esconder as coisas? Não mesmo! - confirmou Alejandro a interrompendo.
Alejandro pensou que ela fosse contestar, mas ela ficou quieta e muito pensativa, ele seguiu com seu trabalho, realizando uma maquiagem mais "natural", não demorou muito Carolina desceu com a roupa de Karol e pronta também.
Karol estava com o olhar fixo, nem percebeu sua mãe se aproximar e falar com ela, Alejandro precisou chamar sua atenção pra que ela saísse do "transe". Terminada a maquiagem, Carolina ajudou Karol a se vestir, repassaram algumas respostas para as perguntas e os 3 desceram rumo à garagem pegar o carro para irem para o local da entrevista.
Ela seguia muito quieta, encostou a cabeça no vidro, admirando o trajeto fisicamente, mas mentalmente ela estava pensando nele sem cessar, era como um jingle chiclete, ela podia tentar controlar os pensamentos prestando a atenção no movimento da rua, mas quando percebia ela estava revivendo momentos com ele, era uma luta perdida e sem fim.
Chegando no local da entrevista, ela desceu do carro se pôs ereta, arrumou a roupa, respirou fundo e com sua mãe e Alejandro em seus calcanhares entrou indo direto ao estúdio pois lhe aguardavam para a gravação.
Sua mãe e Alejandro se sentaram ao lado em uma espécie de cochia aberta, fora da boca de cena de gravação, ela foi recebida pela entrevistadora para passarem umas perguntas, pra verificarem se eram cômodas para Karol antes de gravarem oficialmente.
Eram muitas perguntas, ela estava ficando um tanto mareada, mas fazia de tudo para se focar, até a entrevistadora dizer:
- Tem uma pergunta aqui sobre o Ruggero, "Vocês ainda se falam, são amigos?"
- Que? - questionou Karol se perdendo inteira. Após o efeito atônito ela seguiu - Essa pergunta é melhor não fazer, não tenho autorização da Disn... do Diego Lerner para falar sobre o Ruggero. - respondeu Karol.
- Mas você o viu ontem, compartilhou nas redes sociais... - tentou argumentar a entrevistadora.
- Vi algumas pessoas do elenco ontem, mas foi só isso, creio que essa pergunta é desnecessária justamente por isso. - deixou claro Karol.
- Okay vamos remover essa então. - sussurra - Mas aqui entre nós, ainda acontece algo entre vocês dois? - insistiu porém discretamente a entrevistadora.
- Não. - afirmou Karol categoricamente sem deixar margem para perguntas injuriosas.
Por dentro ela respondeu completamente diferente, "sim, passa de tudo, pena que ele não tem coragem de conversar comigo, como sempre faz.", ela chacoalhou a cabeça pra voltar pra realidade e o momento, percebendo que perdeu algumas conversas paralelas, mas se adaptou rapidamente.
Com tudo engendrado, câmeras ligadas, okay do diretor, a entrevista foi gravada, Karol permaneceu bem concentrada, pensando bem nas respostas, para não dar margem para interpretações dúbias e falatórios posteriores.
Terminada a entrevista, cantou seu novo single, de forma muito entregue, com muita alma e coração em cada estrofe, todos puderam sentir que havia muito mais na música do que a própria letra poderia contar. Cumprido esse compromisso, se despediram, saíram do estúdio e foram almoçar em um restaurante pequeno, reservado, aconchegante, de comida casual voltado mais para habitos saudáveis.
Karol seguia quieta, sua mãe a elogiava pelo comportamento na prévia e na entrevista, Alejandro por sua vez notava o cansaço estampado em Karol, ela continuava freneticamente lutando com sua mente, repetindo para si mesma que deveria esquecer tudo que havia acontecido, que deveria esquece-lo e seguir em frente com suas atividades e projetos de carreira.

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