Quando Karol se acalmou, ficando apenas com uns soluços eventuais, Antonella a disse tom ameno:
- Vamos pra casa.
Karol concordou com a cabeça, Antonella a soltou, saiu do carro, entrando novamente se sentando no banco do motorista, assim que ela deu a partida, Karol se deitou no banco de trás, ficando completamente em silêncio.
Em casa, Karol ajudou nas tarefas, na produção do almoço, mas ainda muito calada, comeu muito pouco e ainda parecia justificavelmente triste. Depois de arrumarem toda a cozinha, Karol olhou para Antonella sendo retribuida e a perguntou:
- Eu preciso me deitar um pouco, você se importa?
- Não carinho, pode ir, eu iria sugerir isso pra você também. - respondeu Antonella.
- Qualquer coisa me chame sim? - retornou Karol.
- Descanse, principalmente sua mente. - orientou Antonella.
Karol foi para o quarto, fechou a porta, se deitou na cama de lado, deixando as mãos sobre seu lunar, que agora lhe preenchia uma das mãos. Ela pensava sobre tudo o que havia acontecido, ainda que sentisse certa tristeza, compreendia que era melhor assim, pois já estava sendo bem complexo entender tudo de um bebê, imagine de dois, "Eu acho que não conseguiria.", pensava, mas ao mesmo tempo se lembrava da sua bebê e acabou falando baixinho se acarinhando:
- Você está muito grande, ver você chupando o dedo me deu ternura, não sei explicar o que senti, o que estou sentindo por você, mas quero que saiba que é algo bem especial...
De tantos devaneios ela acabou dormindo profundamente, o que era muito bom porque assim se desligava um pouco de tudo e dava ao seu corpo um fôlego para se dedicar a criação que estava fazendo.
Em Buenos Aires, Ruggero lidava com a repercussão da música que chegou a um milhão de visualizações em quatro horas.
- Eu não acredito! - exclamava ele.
- A música ficou muito boa irmão e tem um porque. - disse Lucas.
- Qual? - questionou Ruggero.
- A sua paixão ao cantar cada palavra, cada estrofe, irmão sério, você colocou sua alma nessa canção. - respondeu Lucas explicando.
- Eu a escrevi com a alma, que bom que consegui transmitir isso, mas não esperava tudo isso tão rápido. - explanou Ruggero admirado.
- Você merece irmão! Depois de tudo que passou nesses ultimos tempos!- exclamou Lucas.
- Eu espero que quem tinha que ouvir tenha ouvido... - exteriorizou Ruggero.
- Ainda esta pensando nela? - perguntou Lucas.
- Eu nunca paro de pensar nela. - deixou claro Ruggero.
- Eu sabia que você gostava dela, mas não tinha dimensão do quanto até você parar o hospital. - contou Lucas.
- Eu não gosto dela Lucas. - deixa claro Ruggero.
- Como assim?? - questiona Lucas atônito.
- Eu não gosto dela, porque eu a amo. Gostar é muito superficial, gostar todo mundo gosta do que a pessoa aparenta ser, mas amar, amar é outra coisa meu amigo, amar é profundo, é um mergulho em outra pessoa, é ter o dia mais perfeito somente por ter visto o sorriso dela de manhã. Eu compreendi com tudo o que aconteceu, que amar exige mais do que responsabilidade, exige maturidade, a qual eu não tinha antes, porque me deixava levar pelos medos. Agora que eu me permiti sentir esse amor, eu já não sei mais como é viver sem sentir tudo isso. - explicou Ruggero.
- Nunca tinha pensado dessa forma... Desde o dia que fui te ver no hospital e você já estava no quarto, percebi que algo em você mudou. - contou Lucas.
- Acho que tudo que aconteceu me fez acordar e parar de fugir. De que me adianta escrever várias músicas pra ela, mas não estar com ela. Ninguém conseguiu fazer eu me sentir como ela fazia, era como se eu pudesse ser eu mesmo sem reservas, como se ela fizesse o meu melhor sobressair, e sei que fazia o mesmo com ela. Adorava comemorar todas as conquistas que ela conseguia fossem pequenas e "bobas", fossem grandes e importantes. Tivemos um bom tempo de "paraíso", até começarem a me fazer ter medo dos meus sentimentos, algumas pessoas e suas falas. Aos poucos o paraíso desvaneceu, e para não machuca-la eu ficava com os problemas e as pancadas pra mim, mas hoje sei que isso a fez sofrer, que era algo que eu não queria, por isso a deixei ir, a disse que a distância a manteria sem sofrimentos... - seguiu falando Ruggero.
- Mas você sofreu, você sofreu com a distância Rugge, 7 meses que pensei que você iria entrar em depressão profunda, tudo que você fazia era beber, comer e dormir. - interrompeu Lucas.
- Achei que eu precisava passar por isso, como consequência do que havia feito com ela, mesmo que contra a minha vontade, fui muito inconsequente em muitas atitudes, aos poucos eu fui perdendo ela, quando dei por mim ela não queria mais me ver e tinha total razão em não querer.
Mas em fevereiro, não sei explicar, foi como se seguissimos de onde havíamos parado, eu perdi o controle e ela também, mesmo que eu quisesse não iria conseguir parar o que havia começado, era como se uma força do além fosse a regente e ela nos quisesse juntos outra vez. Eu tentei me expressar algumas vezes durante aquela noite sobre o que sentia, mas não consegui por em palavras, porque eu mesmo não me compreendia, estava tão desconhecido de mim mesmo... e se não sei quem sou, se não me conheço, como vou saber conhecer e entender outra pessoa. - continuou Ruggero.
- Dai veio "Espejo", você, encarou a si mesmo, pra poder se reconhecer novamente, não foi? - indagou Lucas.
- Foi, foi sim, naquele momento eu comecei a abrir os olhos, foi onde percebi que conheço a Karol muito bem, seus defeitos, suas virtudes, suas manias, carrego muitas comigo... sinto que a conheço muito além disso também... - respondeu Ruggero.
- "Sigo aqui" nasceu disso certo? - retornou Lucas.
- Sim, foi escrevendo essa música que comecei a identificar meus medos, um deles era de que conheço a Karol tão profundamente que a conhecendo me conheço, o que agora depois de praticamente perde-la, está cada vez mais cristalino, o que me deixa mais consciente e desesperado por poder vê-la e poder contar tudo que sinto a ela. - seguiu analisando Ruggero.
- E "Vou ficar" então é uma declaração mais consciente. Ou seja tudo foram aprendizados, situações e contextos que te trouxeram até aqui. O universo é meio louco, mas no final faz todo o sentindo. - concluiu Lucas.