- Eu as escolhi intuitivamente Mamma. - contou Ruggero admirando as joias na caixinha.
- E tinha um motivo especial delas serem de ouro branco? - perguntou Antonella curiosa.
- Não sei, só me chamaram a atenção e o joalheiro disse que poderia gravá-las na hora por serem desse material. - respondeu Ruggero olhando fixo as joias.
- Como eu disse, são muito bonitas filho, são diferentes do padrão, são únicas...- começou Antonella.
- Como ela é pra mim... única, não existe outra igual, só ela... - interrompeu, chacoalhando a cabeça como quem saia de uma memória antiga - Bom vou guardar tudo, espero que ela goste. - concluiu Ruggero.
- Tenha certeza de que ela vai meu filho. - disse Antonella o ajudando a guardar a caixa e a sacola de volta no alto do armário.-
A sexta passou voando, trazendo um sábado ainda quente de pleno verão, antes das 8 da manhã todos já estavam de pé, tomavam café da manhã em meio a muitas conversas de detalhes para o domingo, mas Karol seguia preocupada consigo mesma e com o exame de muito breve, o que a mantinha deveras quieta e concentrada em sua xícara de leite gelado.
- Amor? - chamou Ruggero a percebendo distinta.
Ela olhou para ele sem dizer nada, mas transmitindo tudo com o olhar, ao perceber Ruggero entrelaçou uma das mãos com a dela a levando até a boca dando um leve beijinho no dorso a retribuindo o olhar, como ela não esboçou nenhuma reação ele a indagou:
- Você confia em mim?
Ela assentiu com a cabeça.
- Então se desvencilhe das caraminholas e tenha certeza de que vai ficar tudo bem, porque vai Ka, já te disse que vou garantir isso e não é uma promessa. - deixou cristalino ele.
Ela absorveu a fala dele lhe devolvendo com um sorriso de lábios fechados.
- Melhor assim... - exteriorizou ele baixinho.
Sem demora após o café, Bruno e Leo ficaram organizando a louça, enquanto Karol, Ruggero e Antonella se ajeitavam no carro para se deslocarem até a clínica. Como sempre Karol foi deitada no banco de trás, mas dessa vez ela tinha a quem olhar, pois não tirou os olhos de Ruggero todo trajeto, ainda que fosse curto.
Na clínica, Antonella estacionou ao fundo como de costume, verificou o entorno e liberou Karol para se sentar. Os três saíram do veículo, Ruggero abraçou Karol enquanto caminhavam até a porta e entraram no local. Lúcia já os esperava em sua sala, quando viu Ruggero mais do que rápido exclamou:
- Ahh o papai veio dessa vez!
Ruggero sorriu um pouco acanhado, ele ainda estava trabalhando essa informação dentro de si, mas a cada dia ele se tornava mais consciente do que estava por vir.
Lúcia fez a checagem padrão de pré natal, com tudo certo e elogios por Karol ter ganho apenas algumas gramas de peso, eles se dirigiram para a sala de ultrassom. Dessa vez quem se sentou ao lado de Karol segurando sua mão foi Ruggero, Antonella se sentou ao lado dele bem animada para ver a neta. Com o gel posto, com a doutora deslizando o leitor, verificando calmamente todos os parâmetros, ela virou a tela para eles, deixando Ruggero ver por primeira vez sua filha sendo gestada.
- Aí Antonella eu não aguento essa menina chupando o dedinho, é o pai dela em vida. - exteriorizou Lúcia.
Ruggero estava mergulhado no vídeo, tanto que nem percebeu os comentários, Karol olhava para ele esperando alguma reação, mas ele estava vidrado.
- Ela esta ótima, bom tamanho, bom peso, tudo formado direitinho, sinal de que essa mamãe tem se cuidado bem. A placenta se espalhou e fixou mais depois do episódio anterior, está tudo muito bem Karol. - contou Lúcia.
Contudo Karol seguia esperando uma reação de Ruggero que parecia completamente de férias em Marte. No segundo seguinte uma lágrima escorreu no rosto dele, deu beijinhos na mão dela que estava segurando, a olhou finalmente e a disse balbuciando:
- Ela é linda...
Karol o sorriu, o fazendo suspirar.
- Bom Karol - chamou a atenção da moça - você está começando o final do segundo trimestre, pouca coisa vai mudar, ela só vai crescer um pouquinho mais, mas nada muito. Siga com a sua dieta, se cuidando bastante, nada de esforço, nada de muito tempo em pé, busque sempre o equilíbrio. No mais nos vemos somente no terceiro trimestre. - orientou Lúcia que passou a conversar com Antonella enquanto Ruggero ajudava Karol a se arrumar e a sair da maca.
Estavam quase saindo, quando Karol se lembrou de uma coisa, pediu que Antonella e Ruggero fossem indo na frente pois ela tinha algo a tratar com a médica. Os dois saíram sem questionar e Karol se dirigiu a Lúcia:
- Doutora, eu queria tirar uma dúvida com a senhora...
- Pois sim minha querida, em que posso ajudá-la?
- É que faz uns dias eu tenho sentido um calor pulsante, algo subir pela espinha quando eu e Rugge estamos muito perto, ontem mesmo de madrugada tive que me afastar dele, porque não estava conseguindo me conter... eu sei o que é, só não sei se posso... quer dizer se podemos... - tentou explicar Karol.
- Namorar? Claro que podem, com cuidado, mas podem sim, aliás devem, agora e mais ainda no último trimestre, ajuda muito a aliviar a pressão da abertura do quadril. Não fique se contendo, a libido fica mais alta mesmo nesse período, é só ter cuidado e respeitar o seu corpo. - esclareceu Lúcia.
- Hum... é que fiquei com medo por conta do que houve... - recomeçou Karol.
- Já passou, pode ficar tranquila e namorar o quanto quiser, vai fazer bem pra vocês. - deixou claro Lúcia.
- Okay... pena que ele tem medo... - disse Karol.
- Eles sempre tem, mas tome as rédeas, comunique o que você quer e deixe claro que está tudo bem e pode dizer que eu autorizei. - riu Lúcia.
Karol riu também, agradeceu a médica e saiu da sala encontrando Ruggero e Antonella no corredor conversando com um médico que dizia:
- Quero ver você aqui semana que vem, para uma nova bateria de exames, mas a julgar por como você está deve ter melhorado bastante... -
Karol se juntou a eles, Ruggero a puxou para abaixo do seu braço a dando um beijinho na tempora. - ... Bom é isso meu caro, nos vemos logo. - concluiu o médico se despendido em seguida.
- Você está bem? - perguntou Karol o olhando com os olhos brilhantes.
- Estou sim, semana que vem venho fazer exames, só pra ver como ando - leva mão ao peito - aqui fisicamente, porque no mais estou mais que curado eu acho... - respondeu - ... Mas e você, conversou com a médica? - perguntou Ruggero.
- Uhum... tudo certo... - respondeu Karol.
- Vamos meus filhos, temos muito que fazer hoje daqui a pouco chegam as flores. - alertou Antonella.
No carro voltando pra casa, com Karol deitada sentindo a bebê, Antonella percebeu Ruggero com o olhar meio perdido e o perguntou:
- E então, nos conte filho como você se sentiu?
- Hã? - volta para a realidade - sentiu com o que? - retornou Ruggero meio perdido.
- Se sentiu ao conhecer a sua filha? - quis saber Antonella.
- Ah! Isso... ela é linda... - respondeu meio sem jeito - talvez não tanto quanto a mãe dela, mas linda. - pensou alto Ruggero.
Karol esticou o braço o dando um tapa bem sonoro na lateral da perna que alcançava.
- O que?? Menti por acaso? - questionou ele esfregando o local do tapa.
Antonella e Karol riram, pois ele estava completamente bobo e sem muita reação.-
Em casa, enquanto arrumavam tudo para o almoço, Karol estava lavando as verduras, quando percebeu algo empoleirado na árvore do jardim, uma criatura que ela nunca tinha visto por ali, mas que estranhamente ela sentia conhecer, mas Antonella passou a fazê-la muitos pedidos para auxiliar as preparações o que a fez distrair-se.
Mais tarde depois do almoço, enquanto guardava a louça, Karol percebeu que Ruggero não estava mais na cozinha, estranhando perguntou a Antonella:
- Ué? Onde Rugge foi?
- Está no jardim filha... pode ir, eu termino aqui, vá ficar um pouco com ele, estou sentindo ele meio perdido, quem sabe você o ajude a se encontrar. - sugeriu Antonella.
Karol acatou a sugestão de sua futura sogra, saiu jardim a fora com Thinker nos seus calcanhares. Ruggero estava parado em frente a árvore olhando para cima, muito atento, para não assustá-lo, ela o chamou:
- Rugge?
- Oi? - deu atenção a ela.
Karol se aproximou dele, o abraçando de lado, olhou para onde ele estava olhando e viu a criatura empoleirada quase no topo da árvore nitidamente olhando para eles, assim que teve quase noção do que era ela perguntou:
- É um corvo?
- É sim... - respondeu Ruggero admirando a ave como se a conhecesse.
- Nunca o vi aqui... - exteriorizou Karol.
- Ele veio por um motivo... - disse Ruggero chegando mais perto da árvore com Karol ao seu lado.
- Por qual motivo? - estranhou Karol.
Mas Ruggero não a respondeu, apenas olhou para a ave mais um tempo, até dizer:
- Faz muito tempo amigo, muito tempo...
A ave fez uma reverência gentil como se respondesse algo, Ruggero olhou para Karol e a respondeu:
- Ele veio pro nosso casamento...
- Faz tempo que você o conhece? Desde pequeno presumo? - perguntou e tentou uma hipótese Karol.
- Faz tempo que o conheço, mas não é dessa vida... de uma a um bom tempo, onde eu o salvei e ele me salvou... melhor dizendo, nós o salvamos... - respondeu Ruggero.
Como em um gatilho, Karol passou a ver centenas de imagens em sua cabeça, pareciam embaralhadas, sem sentido algum, derepente elas começaram a se organizar, mas antes que ela pudesse proferir algo, Ruggero a beijou, como se não fizesse isso a milênios.
Alguns minutos depois a soltando devagar do beijo, ele a olhou profundamente, ela meio sem ar e ainda analisando tudo que estava chegando a sua cabeça de memórias que ela nem sabia que tinha, ela expôs baixinho:
- Eu me lembro de um vestido vermelho...
- Uhum - a beija - é por isso que eu adoro quando você esta de vermelho... - seguiu trocando beijos - Humm a sua família é sempre uma encrenca... já é - a beija - a terceira vida que eles mais atrapalham que ajudam... e pelo amor de Deus Karol, enquanto não estivermos juntos arrume uns caras melhorzinhos... - disse ele em tom de deboche.
- Parece que nessa vida o jogo virou, porque você não escolheu umas "amigas" muito bacanas... - reclamou Karol rindo.
- É que se eu não tenho você eu perco o senso... - exteriorizou sinceramente ele mudando o tom.
- Faz muito tempo que a gente vem junto... - começou ela analisando.
- Faz... e vai ser sempre assim...porque eu sou você e você sou eu... a energia que circula em mim é mesma que circula em você... - interrompeu ele.
- Porque somos um só... - completou ela.
- Não importa que vida seja, todas as vezes que nos encontramos o universo para, um microsegundo só para assistir o big bang que a gente causa... - contou ele voltando a beija-la profundamente a colando contra seu corpo.
Quando o ar faltou ele a deixou respirar e a disse:
- Tem algo diferente dessa vez...
- O que? - o perguntou ofegante.
- É a primeira vez que geramos um bebê antes de nos casarmos... - respondeu ele.
- Mudamos um pouco a ordem... e acho que era pra ser assim... - analisou ela.
- Eu fiquei bem emocionado na verdade em vê-la, e ela nem é tão pequena quanto eu imaginava... mas é linda... e não me bata... mas ela não supera você... - deixou claro ele.
Sem titubear ela bateu no braço dele, mas de leve e riu.
- Eu peço uma coisa...- começou ele.
- Faz mais de 400 anos que você me pede coisas... até onde eu me lembro...- disse ela o olhando com certo mistério.
- Pois é... e você segue impertinente... - muda o tom - e com os mesmos olhos... sempre... - contrapôs ele.
- Pelo menos nessa vida você veio mais obediente... - piscou ela.
- Obediente? Hahaha - riu ele.
- É porque você me dá razão as vezes e ... começa a responder ela.
- Ah sim, porque você tem mesmo razão, mas só as vezes, no resto do tempo você é teimosa, medrosa e ... - disse ele.
- Basta! - exclama, ele engole seco e se cala - Viu, obediente, assim que eu gosto.
Ele decide não falar mais, apenas beija-la como sempre fez desde eóns.