Cápitulo 20

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Era quinta-feira, Pescara estava com temperaturas altas logo pela manhã, parecia que o verão estava se antecipando na primavera. O suor a fez acordar, devido ao desconforto ela sentou na cama, espreguiçou, girou colocando os pés no chão, esfregou os olhos, se levantou, abriu as cortinas, deu uma olhada no jardim através da janela, os isentos voavam de planta em planta, a luz do sol parecia evaporar a água da terra o que tornava tudo ainda mais quente. Do quarto ela foi ao banheiro, fez sua necessidade, escovou os dentes e tentou amenizar o calor molhando o pescoço e o rosto. Ao se olhar no espelho percebeu que algo estava maior do que nos dias anteriores, passou a se olhar no espelho erguendo a camiseta do pijama, Antonella que passava pelo corredor a viu, a observou e constatou:
- Como cresceu esse bebê!
- Sim... - sente o lunar - e está mais firme aqui em baixo... - concorda Karol ainda se observando e sentindo.
- E é só o começo do segundo trimestre, até o próximo exame já vai estar maior, mas a mudança vem mesmo na 18ª semana, eu particularmente chamo de efeito Fiona, dorme de um jeito acorda de outro. - explicou Antonella.
Karol ficou pressionando com os dedos o lunar mais alguns segundos, era muito interessante como a região estava mais durinha e ela não conseguia pressionar muito para dentro, realmente o bebê estava crescendo, mas ela ainda não queria lidar com isso, voltando sua atenção a Antonella que seguia a observando, Karol perguntou:
- Quer ajuda com o café Nella?
- Ai sim carinho, e hoje vamos ter que bolar algo bem refrescante porque esse calor está escaldante. - respondeu Antonella.
- Poderíamos fazer um suco, talvez de limão, uma salada de frutas e torradas com algum creme salgado gelado por cima... - sugeriu Karol.
- Boa ideia filha! Nossa eu estava quebrando a cabeça sobre o que fazer! - disse Antonella.
Elas foram a cozinha prepararam tudo, Karol pôs a mesa, logo Leo e Bruno se juntaram a elas para tomarem o café da manhã.
- Céus que calor... - exteriorizou Antonella se sentado.
- Está mesmo Nella... - bebe o suco - Nossa esse suco esta muito bom e geladinho na medida. - disse Bruno.
- Eu que fiz! - contou Karol orgulhosa.
- Está muito bom mesmo! - olha para Léo - Filho conseguiu terminar o trabalho ontem? - perguntou Antonella.
- Sim Mamma, a Ka me ajudou. - respondeu Léo.
- Ah era isso que tinha um falatório a noite, quase levantei pra mandar vocês dormirem. - explanou Bruno.
- Era sim Pá, ele estava com dificuldade na conclusão, mas deu tudo certo. - contou Karol.
Bruno a sorriu, adorava que ela a chamasse de "Pá", porque na verdade era como ele se sentia.
- Você tem treino até tarde hoje filho? - perguntou Antonella.
- Não, venho com o Papá pra casa. - respondeu Léo.
- Você está bem filho? - perguntou Bruno achando o filho muito objetivo e um pouco desmotivado.
- Estou sim, só tô cansado. Ninguém me avisou que a faculdade iria ser trabalho em cima de trabalho, parece que nunca tenho folga... - expôs Léo.
- Aí filho infelizmente faz parte... - concluiu Antonella, ainda que por dentro ela sentisse que era outro o motivo daquela carinha.
Depois do Café, Bruno e Leo saíram, Karol e Antonella arrumaram a cozinha e deixaram tudo previamente preparado para o almoço. O dia transcorreu normalmente, com Karol ajudando Antonella na rotina da casa fazendo breves paradas para suportarem o calor.
A noite depois do jantar, os 4 ficaram conversando a mesa diversidades, a temperatura havia dado uma trégua, o que os deixou mais animados, Léo até foi pegar um jogo pra que eles passassem um tempo em família. Contudo na metade do jogo, Karol começou a ter uma sensação estranha de que algo fosse acontecer, tentou abstrair daquilo, mas a sensação ia e voltava, ela não sentia que era algo com ela, mas era um pressentimento indefinido.
Após boas partidas do jogo, todos foram por sua higiene e se retiraram a seus quartos. A sensação em Karol havia passado, com o cansaço ela acabou dormindo rápido e profundamente.
A sexta chegou calorenta, quase ou igual ao dia anterior, o café da manhã foi leve e refrescante e a rotina seguiu seu curso sem grandes alterações.
Em Buenos Aires, Ruggero não conseguiu comer nada no café da manhã, apenas tomou uma xícara de café, mesmo no almoço nada parecia descer bem, seguia inquieto, balançando as pernas sem parar, as 14:40 saiu de casa na companhia de Camila e Lucas rumo a reunião com Diego.
Ao chegarem no local, a ansiedade estava dando aceleração cardíaca em Ruggero, entrou na sala, sentou em uma das cadeiras e apoiava a testa sobre os dedos polegares unidos com as mãos apoiadas sobre a mesa. Parecia que seu coração iria sair pela boca, passou a transpirar, quando iria dizer algo Diego entrou na sala com mais algumas pessoas que estavam fazendo parte da busca, todos se sentaram, solicitaram chamada de vídeo com Carolina e Maurício, e muito seriamente Diego passou a falar:
- Eu tenho uma notícia, mas não sei como dar ela pra vocês da melhor forma porque, não creio que haja. Vou ser direto, fazem 6 dias encontraram um corpo no rio perto da sua casa Ruggero, estava em estágio avançado de decomposição, indicando que já fazia mais de mês que estava ali... esse corpo apesar do estado estava com as roupas mais conservadas e ... batem com a roupa que Karol foi vista a última vez.
- O que você está dizendo Diego??? - questionou Carolina em tom de desespero.
- Que infelizmente Karol se foi... - respondeu Diego em tom arrasado.
- Não..., não... - reagia Carolina.
- U... como... - tentava administrar Ruggero.
- Mas Diego, você tem certeza? - questionou Lucas.
- Vocês querem ver as fotos, não creio que seja prudente mas se quiserem... - respondeu Diego.
Ruggero levantou da cadeira levando as mãos a cabeça repetindo "não" várias vezes, seu coração parecia que iria sair pela boca, até sentiu gosto de sangue.
Carolina seguia transtornada, Maurício já havia se retirado, mas era possível escuta-lo chorando, Lucas e Camila estavam sem reação, apenas observavam Ruggero.
- Não... não... eu a perdi... - começou ele a dizer desatando a chorar compulsivamente - Eu tive a chance de dizer e não disse... porqueeeee, porque ela... - seguia inconformado Ruggero.
Em um rompante ele passou a bater na parede, Lucas se levantou pedindo que ele parasse pois iria se machucar ainda que fosse em vão. Porém no segundo seguinte Ruggero, sentiu algo dentro de si rompendo e desfaleceu, Lucas não conseguiu segurá-lo e ele foi ao chão já inconsciente, Camila ao ver todo o ocorrido chamou uma ambulância imediatamente.
Uma hora mais tarde, na sala de espera no hospital, uma enfermeira apareceu perguntando:
- Acompanhante do senhor Ruggero?
- Nós! - responderam Camila e Lucas.
- Vocês são o que do paciente? - seguiu a enfermeira.
- Eu e ele moramos na mesma casa, ela é... uma amiga próxima, a família dele mora na Itália, então somos a rede de apoio dele. - respondeu Lucas.
- Okay. O médico vai conversar com vocês, me acompanhem. - informou a enfermeira.
Em Pescara, Karol estava apoiada no balcão ofegante, com uma mão sobre o peito.
- Filha o que você tem? - perguntou Bruno guardando a louça.
- Tem... alguma coisa acontecendo com o Rugge... - respondeu Karol chorando.
- Pai, a Mamma não tá bem...- foi Léo correndo avisar.
- Ka venha comigo, vamos ali na sala junto com a Nella, venha. - direcionou Bruno a segurando nos ombros.
Ao chegar ao lado de Antonella ela disse:
- Aí Bruno, estou com um pressentimento muito ruim sobre sobre nosso filho... - percebe Karol - O que houve minha menina?
- Ela esta tendo o mesmo pressentimento que você Nella. - respondeu Bruno preocupado.
Léo ao ver toda a situação pega o telefone e passa a ligar para o irmão, tentou ligar para a casa, mas sem resposta e informou:
- Pá ele não está atendendo nem no celular nem na casa...
- Se acalme filha, por favor, pensa no seu bebê... notícia ruim chega rápido, tenho certeza de que vamos conseguir falar com ele em breve e saber o que houve, se acalme. - pedia Antonella segurando as mãos de Karol que seguia chorando.
No hospital em Buenos Aires, Lucas e Camila aguardavam o médico em uma sala, muito calados, apreenssivos. Em minutos o médico entrou na sala fechando a porta e se sentando de frente a eles os perguntou:
- Acompanhantes do paciente Ruggero?
- Sim senhor. - respondeu Lucas.
- Como ele está? - perguntou objetivamente Camila.
- Bom, não vou mentir para vocês, o caso é grave, Ruggero teve duas paradas cardíacas, conseguimos reverter, mas o quadro é delicado, ele passou por alguma emoção muito forte recentemente? - explicou e perguntou o médico.
- Ele acabou de descobrir que uma pessoa importante pra ele se foi. - respondeu Camila.
- Certo, esse deve ser o motivo, ele esta com a sindrome do coração partido, que é uma cardiomiopatia, porém a dele está muito grave, porque ele teve um infarto junto. - seguiu explicando o médico.
- E como se trata isso? - perguntou Lucas.
- Bom ele está na UTI, estamos fazendo o possível, mas o coração dele ainda não está bombeando o suficiente para levar sangue e oxigênio a todo o corpo, os próximos dias serão bem decisivos. - respondeu o médico.
- Quais são as chances? - retornou Lucas.
- Ele esta inconsciente, se ele acordar vai ser um bom sinal, mas ele ainda correria risco de sepse, se ele não acordar vamos ter que deixa-lo em coma induzido e aguardar alguma reação, mas isso não tem prazo que eu possa dar a vocês. Na melhor das hipóteses ele acorda e vai melhorando aos poucos, mas vai precisar tomar medicamentos por um tempo mesmo depois de uma alta. - esclareceu o médico.
- Vamos torcer pelo melhor. - concluiu Lucas.
- A torcida e o positivismo ajudam bastante. Qualquer novidade nós avisamos, por hora ele não poderá receber visitas, espero que compreendam. - disse o médico.
- Tudo bem, vamos aguardar, obrigado da mesma forma. - disse Camila.
Lucas e Camila saíram da sala, com a impotência foram para o carro, lá Camila suspirou e pôs para fora:
- Ele a ama muito...
- Ele sempre deixou isso claro pra você. - lembrou Lucas.
- Eu sei... mas nunca imaginei que fosse tão forte ao ponto dele estar quase morrendo... - exteriorizou Camila.
- Não diga isso dele estar morrendo nem de brincadeira. - brandou Lucas.
Em Pescara, Antonella e Karol estavam um pouco mais calmas. Karol estava deitada com a cabeça em uma almofada sobre as pernas de Bruno, com as pernas encolhidas, com uma das mãos sobre seu lunar, Bruno a fazia cafuné com uma das mãos, com a outra segurava firme a mão direta de Antonella, que estava encostada nele com a cabeça em seu ombro.
Léo estava sentando ao lado de sua mãe e os 4 tentavam se distrair com um filme na TV. Contudo Karol passou a se contrair e a suspirar sonoramente, o que fez Bruno a perguntar:
- O que esta acontecendo Ka?
- Cólica... - respondeu ela um pouco ofegante.
- Ela ficou muito alterada... - olha para Léo - Filho vai pegar uma manta pra Karol. - constatou e pediu Antonella.
- Mas tá calor... - Rebateu Léo.
- Filho não questione sua mãe, faça o que ela pediu. - disse Bruno.
Léo foi até o quarto de Karol, pegou uma manta, retornou a sala e sob o olhar indicador de Antonella, cobriu Karol que o agradeceu, em seguida ele voltou a se sentar.
- Quando vocês vão na médica? - perguntou Bruno.
- Segunda de manhã... - respondeu Antonella.
- Espero - suspira - que o assunto de hoje se resolva pra ela se acalmar e dar tudo certo segunda. - exteriorizou Bruno.
No dia seguinte Antonella tentou contato com Ruggero, quase todo o dia, tentou falar com Lucas, com Agustín, e demais amigos aos quais ela possuía contato, mas ninguém parecia contestar os telefonemas. Karol passou o sábado todo lidando com as cólicas, quase nem conseguia andar, seguia notoriamente preocupada com Ruggero.
Em Buenos Aires, o telefone de Camila toca, era um número desconhecido, mas ela pensou que poderia ser do hospital e o atendeu. Seu pensamento foi certeiro, era a enfermeira avisando que Ruggero havia acordado, mas que seguia na UTI e a recomendação de que ele não recebesse visitas seguia vigente, mas só o fato dele ter acordado promovia grande alívio e esperança.

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