Capítulo 25

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- Você realmente está inspirado, cada frase sua da uma música irmão! - exclamou Lucas.
- É o que tenho sentido desde que soube que ela está bem, ainda que eu siga pensando nesse "lugar que você conhece bem." ... - disse Ruggero pensativo.
- Deixa pra pensar nisso quando você estiver melhor desse coração aí. - disse em forma de alerta Lucas.
- Eu já me sinto bem melhor, logo devo estar liberado... - chega uma avalanche de ideias na mente - ... Uh, já sei como terminar a música! - disse Ruggero um pouco eufórico subindo as escadas.
- Hei, hei, devagar aí!! - brandou Lucas.
- Tenho que escrever antes que eu perca tudo, tô me cuidando relaxa aí... - retornou Ruggero pegando uma caneta e escrevendo em seu caderno.
Uma manhã mais começava em Pescara, final de primavera, começo de verão, o calor não dava trégua, o que reduzia o apetite e aumentava a sede quase todo o tempo.
Antonella estava na cozinha preparando o café, como ultimamente Karol acordou indo diretamente ajuda-lá. Havia passado quase 2 semanas, em que Karol já estava completamente dentro da rotina da casa e de si própria. Ajudava com tudo, mas sua dedicação com mais afinco era no jardim e na horta, com o calor gostava de pegar hortaliças frescas para complementar o suco do café da manhã. Ao retornar para a casa, Antonella reparou nela, a observou um instante com muita atenção, exclamou e pediu:
- Santo Deus Karol! Deixa eu olhar pra você.
- O que foi Nella? Estou suja? - perguntou Karol curiosa.
- Erga a camiseta deixe eu ver. - seguiu Antonella.
Karol vinha usando camisetas mais largas, algumas de Ruggero antigas que havia encontrado em uma gaveta no armário, lhe faziam se sentir confortável, ao ouvir o pedido de Antonella ergueu a camiseta, dando confirmação a ela que constatou:
- Efeito Fiona.
- Você tinha me falado disso, mas eu não me lembro exatamente o que era Nella. - disse Karol tratando de compreender.
- Eu vi você anteontem colocando a camiseta e não estava assim, olha como cresceu essa menina! - contou Antonella.
- Você acha? Pra mim esta igual... - observa - ... na verdade aqui em baixo está cada dia mais firme, mas não vi muita diferença em tamanho. - disse Karol.
- Não carinho, está bem diferente, veja no espelho. - sugeriu Antonella.
Karol foi até o espelho da sala de estar, voltou a erguer a camiseta ao se olhar de frente disse:
- Pra mim está igual Nella.
- Vire de lado. - indicou Antonella.
Ao virar de lado, percebeu que realmente estava bem maior do que ela imaginava.
- Viu o que eu disse? - perguntou Antonella se aproximando a observando.
- Está maior mesmo, de frente não dá pra ver tanto, mas de lado sim. - confirmou Karol.
- E as borbulhas? - seguiu Antonella.
- Não senti mais depois daquele dia. - respondeu Karol ainda se olhando no espelho.
- Bom é cedo ainda, você começa a 16ª semana na terça, mas se sentir de novo me avise pra gente ir monitorando. - orientou Antonella.
- Quando normalmente dá pra sentir mexer? - pergunta Karol curiosa.
- Entre a 17ª e a 20ª semana. - respondeu Antonella.
- Bom não falta tanto assim... - constatou Karol.
- Realmente, creio que depois do próximo exame você já comece a sentir ela mexer, não que ela não se mexa agora, só é muito pequena pra ser sentida daqui de fora. - explica Antonella.
- Quando você sentiu Rugge mexer? - perguntou Karol.
- Na virada da 17ª para a 18ª semana. - respondeu Antonella.
- E... como é? - seguiu Karol.
- Na verdade é engraçado de primeira, parece que o intestino está fazendo movimentos maiores, mas então você sente que é um movimento diferente, a primeira esticada que ela der você não vai esquecer, aos poucos você vai percebendo o que é pezinho, o que mãozinha e até mesmo o corpinho. É muito bom sentir tudo isso, a gente muda sem perceber, é o primeiro passo para começarmos a nos tornar mães. Depois ela vai começar a responder você com movimentos, aí o coração fica cheio de ternura e o amor nos invade dos pés a cabeça. - explica Antonella com muito carinho e doçura na fala, recordando de quando havia passado com ela.
Quando Karol iria fazer outra pergunta, Léo e Bruno vieram pelo corredor em uma conversa bem mais exacerbada, ela baixou a camiseta e foi atrás de Antonella que foi terminar de colocar as comidqs na mesa, assim que Léo e o Bruno terminaram de colocar as louças mesa e se sentaram, Antonella os perguntou:
- Posso saber porque tanta agitação?
- Léo vai ter jogo hoje a noite... - começou Bruno.
- Vamos ter que viajar Mamma. - interrompeu Leonardo.
- Onde vai ser o jogo? - seguiu Antonella.
- Em Villa Maggiore. - respondeu Bruno.
- Mas isso é uma hora daqui, qual o problema? - seguiu Antonella.
- O problema é que o jogo começa às 21:00, o time vai passar a noite lá, ou seja vamos ficar por lá, voltamos de manhã. - contou Leonardo.
- Vou fechar a oficina, vou vim pegar as mochilas ir de taxi até o clube e de lá vamos com o ônibus da equipe. - repassou o plano Bruno.
- Mas Léo tem aula amanhã de manhã... - lembrou Antonella.
- Saímos de lá às 6 da manhã Nella, ele vai levar a mochila e vai do clube até a universidade, eu venho pra casa pegar o carro tomar café com vocês e vou pra oficina em seguida. - explicou Bruno.
- Mas se houver atraso? - perguntou Antonella.
- O técnico vai me dar um documento pra levar pra universidade. - respondeu Leonardo.
- Bom se está tudo engendrado só peço que se cuidem no trajeto ida e volta. - pediu Antonella.
- Sim Nella, vamos nos cuidar. - concordou Bruno observando Karol que estava compenetrada em si mesma.
- Presumo que não venha almoçar, nem tomar o café da tarde hoje, não é filho? - questionou Antonella.
- Não Mamma, saio da universidade direto pro último treino, mas vai ter almoço e café por lá, não se preocupe. - respondeu Leonardo.
- Karol, você está muito quieta e tá tudo bem filha? - perguntou Bruno.
- Oi? - respondeu automaticamente ao ouvir seu nome - Sim, sim, estou bem, perdão. - respondeu Karol.
- Estava pensando nessa mocinha aí? - seguiu Bruno.
- Sim... - respondeu - Mas ouvi que vão viajar hoje e tudo mais. - olha para Léo - tenho certeza de que você vai se sair bem e vão ganhar o jogo. - desejou Karol.
- Obrigado Ka, e vocês fiquem bem por aqui. - retribuiu Leonardo.
Ela assentiu com a cabeça e passou a comer o que havia colocado em seu prato.
No final do café da manhã, após ajudarem com a louça e a reorganização da mesa, Bruno e Leo se despediram, Léo sobretudo, pois não retornaria para casa antes do dia seguinte. Com a saída deles, e com o almoço quase finalizado, Karol foi para o jardim, cuidar dos animais que vinham de visita e dar água para as plantas.
Em Buenos Aires já era quase final de tarde, Ruggero havia terminando de escrever a música e estava terminando a melodia. Ficava sempre concentrado quando fazia isso, mas nesse caso ele estava mais do que concentrado, estava conectado com a alma enquanto finalizava os detalhes. Lucas chegou e o ouviu tocando, foi ao piso superior, Ruggero ao vê-lo parou o que estava fazendo e lhe contou:
- Terminei a música, falta alguns pequenos detalhes, mas já liguei pro estúdio devo gravar a música na próxima semana.
- Porque tanta pressa irmão? - indagou Lucas.
- Porque sinto que preciso dizer essas coisas pra que não só o mundo saiba, mas de alguma forma sinto que ela vai saber também.  - respondeu Ruggero.
- Rugge e se tiver acontecido mesmo o que Diego disse e você está só fantasiando baseado em um sonho? - teve coragem de perguntar Lucas.
- Lucas, nunca foi uma fantasia e não vou acreditar no Diego, porque ele tem um histórico bem complicado comigo... em certo ponto bem doloroso. - respondeu Ruggero.
- Você acredita mesmo que ela está viva? - continuou Lucas.
- Eu tenho mais do que convicção, eu sinto - aponta para o peito - aqui dentro. Além disso não tive aquele único sonho com ela, tive outros e cada día sinto que falta menos para nos encontrarmos. - respondeu Ruggero.
- Bom irmão você tem todo o meu apoio! - deixou claro - Mas posso ouvir a música toda? - perguntou Lucas.
- Só o começo. - respondeu Ruggero rindo.
- Ah poxa sou seu irmão de coração! - reclamou Lucas.
- Logo vou gravar e você vai ouvi-la inteira em primeira mão. - tranquilizou Ruggero.
Em Pescara, Karol estava sentada no jardim observando a vida seguindo seus ciclos. Acima da árvore um casal de pardais fazia um ninho, na base da árvore um esquilo ajustava a toca, enquanto o outro buscava comida, as joaninhas vinham em grupos, trazendo pontos vermelhos em meio a verde. Ao fundo da árvore um tilintar anunciava a chegada do gato Thinker, que subiu no muro, a observou por um instante e desceu indo de encontro a ela.
- Thinker você desceu, foi pra me ver não é? - perguntou Karol o fazendo carinho.
O gato apenas desfrutou de seu afago em confirmação. Derepente ele arregalou os olhos, se aproximou dela a olhando fixo no lunar.
- Hunf... tem uma menina crescendo aí... parece que você descobriu... - contou ela.
No segundo seguinte o animal se deitou em seu colo deixando a cabeça pousada em seu lunar, como se estivesse se comunicando com a bebê. Ela seguiu o fazendo carinho e o observando, por vezes ele esfregava a carinha em seu lunar, como quem criava vínculo com o ser de dentro.
Antonella que estava indo chama-la se aproxima e vendo a cena disse:
- Parece que alguém descobriu que você está carregando algo mais.
Karol olhou para ela retornando:
- Sim, até já se esfregou.
- Huhu... bom mocinha preciso terminar o café da tarde, Bruno deve chegar pra pegar as coisas rápido, quero deixar tudo pronto pra ele pelo menos comer alguma coisa antes de ir. - pediu Antonella.
- E deixa eu ver, você precisa da minha ajuda? - perguntou Karol rindo.
- Preciso sim! - respondeu Antonella.
Quando Karol foi falar que iria ajuda-lá,  sentiu algo e levou uma das mãos ao luna, Antonella ao perceber indagou:
- O que houve, o que está sentindo?
- Aquela sensação de novo, mas foi bem rápido. - respondeu Karol se olhando.
- Borbulhas? - seguiu Antonella.
- É..., mas foi bem rapidinho. Bom Thinker você é um doce, mas preciso ajudar a Nella agora, você me deixa ir? - respondeu e pediu Karol.
O gato saiu de seu colo ganhando um último afago, seguido de um miado, retornando a subir no muro. Karol se levantou com ajuda de Antonella e foi ajuda-la com o café.
Sem demora Bruno chegou bem apressado, foi direto montar as mochilas, retornando a sala em seguida percebendo a mesa posta:
- Deixaram o café pronto, que lindas... - pensa - Ah... talvez eu me atrase uns minutos, mas vale a pena.
Enquanto comia, seguiu:
- Prometem pra mim que vão se cuidar enquanto estamos fora?
- Sim amore, não se preocupe. - tranquilizou Antonella.
- Sim Pá, vamos ficar bem e vocês se cuidem! - pediu Karol.
- E como está essa mocinha aí? - perguntou Bruno tomando um gole de café.
- Está bem... - respondeu Karol sorrindo.
- Deve mexer logo amore, Karol tem sentindo borbulhas - contou Antonella.
- Pelo jeito vai mexer na mesma época que o pai dela... - suspira - ... saudades do meu filhote... - exteriorizou Bruno.
- Hum logo ele vem pra casa. Mas Bruno come tranquilo e reforçado, vou montar um pote pra você levar pro nosso filhotinho. - disse Anronella rindo ao final.
Karol ficou com ar de curiosidade no olhar, ao perceber Bruno contou:
- Rugge é o filhote porque foi o primeiro, Léo é o filhotinho, porque era o menor... agora nem tanto, passou até do irmão em altura.
- Entendi... vou sentir sua falta... - exteriorizou Karol.
- Amanhã já estamos de volta, você nem vai perceber minha ausência filha. - disse Bruno.
Rapidamente Bruno terminou de comer, pegou o pote para levar para Léo, as mochilas, se despediu de sua esposa e de Karol e saiu pedindo um táxi.
A noite enquanto jantavam, a mesa parecia quieta demais, ainda que Karol e Antonella conversassem, até Antonella propor:
- O que você acha de dormir no meu quarto hoje?
- Não te incomodaria? - perguntou Karol.
- Claro que não, seria uma boa companhia. - respondeu Antonella.
- Então combinado! - exclamou Karol animada.
Após o jantar, de limparem tudo, foram por seu asseio noturno, se acomodaram na cama no quarto de Antonella, que deu um livro antigo que havia guardado sobre a maternidade para que Karol pudesse ler.
Karol lia em voz alta e quando achava pertinente Antonella a comentava sanando dúvidas. Ficaram boa parte da noite fazendo as leituras e comentando em alguns momentos.
Seguiram, assim até depois da 00:00, quando o celular de Antonella chamou a deixando alarmada.

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