Era a tarde, fazia uma calor razoável, mas suportável, Karol estava sentada no jardim, tomando sol na barriga, enquanto observava os movimentos que sua filha fazia, parecia que quanto mais os dias passavam, mais contundentes e visíveis eram os movimentos da menina.
Ao longe Karol escutava um tilintar de um guizo já muito conhecido, o som foi se aproximando até Thinker subir no muro e descer no quintal. Era como se ele sentisse o cheiro dela de longe quando sentava ali, porque era ela chegar ele logo vinha se juntar a ela. Primeiro sempre cumprimentava a bebê esfregando a carinha na barriga, depois se deitava esperando afagos de Karol e ali ficava como quem tirava a soneca da tarde em seu lugar favorito.
Dessa vez ela queria conversar com ele, portando começou a contar e o gato abriu os olhos lhe dando atenção:
- Thinker... - chamou - eu segui seu conselho, pedi a Nella que chamasse Rugge, ele chega depois de amanhã e sinto uma felicidade interna que quase não consigo conter, mas ao mesmo tempo tenho uma certa ansiedade, por contar a ele sobre no... Nossa filha.
O gato a olhou firme, como se dissesse, "confia em mim vai dar tudo certo.", ela mais do que rápido rebateu:
- Acho incrível como nos comunicamos... adoro você Thinker...
Thinker apenas ronronou em retribuição.
Como Antonella havia dito, os dias passaram tão rápido que Karol quase nem os viu passar, e o dia da chegada de Ruggero havia chego. Contudo Karol acordou sentindo algumas cólicas, algumas bem doloridas, mas suportáveis, ela tinha certeza de que eram movidas por sua ansiedade, portando preferiu não alarmar ninguém e passou a tentar controlar o nervosismo.
O café da manhã foi tranquilo, mas era notório a agitação de todos, na saída dos meninos eles se despediram e Bruno as pediu:
- Qualquer coisa quero que me liguem sim?
- Sim Pá! - disse Karol.
- Não se preocupe amore, qualquer coisa lhe envio uma mensagem de emergência e você vem, mas creio que não será necessária. - tranquilizou Antonella.
- Não se esqueça por favor Nella, me chame qualquer coisa. - insistiu Bruno.
- Vai dar tudo certo amore... - o percebe raro e segue baixinho... - Tem algo a mais nessa preocupação, o que é? - perguntou Antonella.
- Uma sensação, pressentimento... me avise Nella por favor. - deixou claro Bruno a dando um beijinho e saindo.
A manhã seguiu seu curso com as tarefas da casa, perto do almoço Antonella recebe uma notificação.
- É Rugge?? - pergunta Karol ansiosa.
- É sim filha, ele está em Milão, aguardando o vôo para cá, deve chegar aqui perto das 15:30. - respondeu Antonella lendo mensagem.
- Isso é daqui a pouco!! - exclamou Karol agitada.
- É sim, mas quero que você fique tranquila, vamos almoçar, limpar tudo, vai dar tempo de você ficar no jardim um pouquinho e somente aí ele chega. Ele vai me avisar quando estiver chegando em casa. - explicou Antonella.
Elas prepararam o almoço e o saborearam, mas a agitação em Karol era inquietante, estava falante, mexia as mãos com constância, Antonella estava começando a se preocupar, sem se conter muito a alertou:
- Você está muito agitada filha precisa baixar um pouco essa energía, isso não faz bem para sua bebê.
- Estou tentando me manter calma, mas não estou conseguindo. - explicou Karol.
- Então sugiro que você vá pro jardim, lá eu sei que você fica mais tranquila, se distraia com as plantas - olha pela janela - Thinker já está até deitado na toalha te esperando. - orientou Antonella.
- Eu vou sim! Vai ser bom. Vou só pegar os petiscos pros meus amigos e vou. - disse Karol se levantando e pegando uma tigela para colocar as nozes, grãos e biscoitinhos.
Ela saiu em seguida, distribuindo os lanchinhos para casa animal. Antonella a observava pela janela da cozinha, ela estava tão ansiosa quanto Karol, mas precisava se manter, até mesmo para não acelerar mais a mente.
Depois de dar os lanches para os esquilos, para os pássaros, Karol se sentou sobre a toalha ao lado de Thinker o fazer carinho e lhe dizendo:
- Você já estava me esperando não é? Trouxe biscoitinhos pra você... pensando bem agora, você tem vindo aqui mais pelos petiscos no fim das contas.
Thinker miou em tom de negativo, esticou a patinha e pousou sobre o lunar de Karol a olhando, como se dissesse "Eu venho por você e por ela, os biscoitos são um bônus."
- Hunf, vamos fazer de conta que se eu não trouxesse nada você viria do mesmo jeito. - disse Karol.
- Miau! - miou Thinker como se dissesse " mas é claro."
Karol teve sua atenção tirada do gato por um cólica contundente do lado esquerdo, que a fez levar as mãos ali para amenizar. Thinker levantou preocupado deixando a cara bem próxima das suas mãos, como se quisesse ajudar que o desconforto passasse.
- Você precisa de acalmar, aproveitar o jardim se distrair, se ficar alimentando a ansiedade vai acontecer isso, não vai fazer ele chegar mais rápido... - disse Karol para ela mesma.
Aos poucos o incomodo foi passando, e ela começou a relaxar, a prestar a atenção em Thinker que brincava com a ponta da toalha de uma forma muito graciosa, ainda que ela achasse que ele estava fazendo aquilo para ajuda-la a se distrair. Se divertindo com as peripécias do gato, passou a brincar com ele com auxílio de um pequeno galho torto, o provocando e o fazendo agarrar o galho com as patinhas a fazendo rir, finalmente ela havia se distraído de verdade.
Na cozinha Antonella seguia organizando as coisas para um café da tarde para receber seu filho com as coisas que ele gostava, estava atenta a produção dos quitutes, quando recebeu uma nova notificação:
"Mamma cheguei na cidade, estou esperando um taxi, chego já já."
- Santo Deus o tempo voou! - exclamou Antonella saindo pela porta da cozinha até a varanda.
Antonella desceu o 3 degraus da varanda correndo em direção a Karol, ao se aproximar já foi logo anunciando:
- Filha, Rugge já chegou aqui, está esperando um taxi no aeroporto deve chegar em minutos!
Karol a olhou alarmada, soltou o graveto na grama, se despediu de Thinker que entendeu o que estava acontecendo e foi logo em direção ao muro subindo nele e ali ficando sentado. Antonella estendeu as mãos a ajudando a se levantar, as duas foram para dentro apressadas, ao entrarem, Karol percebeu que Antonella estava arrumando um café da tarde na mesa da sala e a disse:
- Eu te ajudo a terminar Nella, só não sei porque não me chamou para ajudar.
- Porque me distrai fazendo as coisas e não vi a hora passar. - explicou Antonella.
Elas agilizaram a arrumação da mesa, dispuseram todas as coisas gostosas sobre a mesa, Karol estava colocando os guardanapos quando um carro parou a frente da casa.
- Ele chegou filha, vai ficar quietinha no quarto. - orientou Antonella.
- Eu vou fechar a porta do corredor e ficar atrás dela ouvindo, pra ver em que momento eu apareço... - disse Karol roubando um canole de chocolate da mesa, indo para o corredor fechando a porta ofegante.
Em segundos Ruggero entrou pelo portão e foi até a porta tocando o interfone, Antonella respirou fundo, deu uma olhada na mesa pra ver se não faltava nada, deu uma olhada na sala pra ver se não havia algo que desse a entender que Karol estivesse ali e foi abrir a porta.
- Mamma! - exclamou Ruggero ao vê-la.
- Filho! - retribuiu o abraçando. - Vem, vamos entrar! - disse Antonella.
Ao entrar e ver uma mesa de café completa, ele expôs:
- Se eu soubesse que iria ter uma recepção dessas tinha vindo antes!
- Ah filho, é o mínimo que eu podia fazer de boas vindas... - disse Antonella.
Soa um alarme de celular.
- É o meu, preciso tomar os remédios. Vou precisar de um copo de água. - pediu Ruggero.
- Remédios? - questionou Antonella pegando um copo de água.
- Lembra que eu te disse que iria te contar, então agora temos tempo eu vou te contar tudo sobre isso, mas preciso tomar o remédios primeiro. - respondeu Ruggero pegando o copo de água com sua mãe e tomando os remédios.
- Sim, você tinha me dito que iria me contar, mas antes me diga como foram os vôos, parece cansado. - disse Antonella.
- Foram muito tranquilos, fiz só duas escalas foi rápido. Pareço sempre cansado antes de tomar o remédios, mas você vai ver que já vou melhorar. - contou Ruggero.
- Bom filho, vem senta aqui, vem comer e me conta o que houve, porque foi ao hospital e porque tudo isso de remédios? - retornou Antonella.
Eles se sentaram a mesa, Ruggero pegou um canole de chocolate, dentre muitas coisas que haviam na mesa, o que chamou a atenção de Antonella, pois foi exatamente o que Karol havia pego minutos antes, no entanto ficou esperando seu filho lhe contar o que havia acontecido.
- Bom, por onde eu começo... - começou Ruggero.
Karol que estava escutando pela porta do corredor, balbuciou "do começo".
Ruggero continuou:
- Caro me ligou contando que Karol havia sumido, eu até liguei pro Papá pra contar sobre isso e pedi a ele que se a visse me contasse. Criamos uma rede de buscas, procurei por Buenos Aires, depois vim pra cá procurando ela nas cidades que passamos com os shows, enfim qualquer pista eu estava seguindo, até vir passar aqui aquele dia, já que passaria por Milão para depois ir a Bruxelas achei boa ideia dar uma passada aqui para dar um "oi", mas não foi exatamente como eu imaginei, mas eu entendo porque. Enfim, estava pronto para ir pra Bruxelas, quando Lucas ligou, dizendo que Diego, estava convocando todos para uma reunião sobre o caso e pediu que voltassemos urgentemente. Eu pensei que fosse uma pista mais concreta, mas ... - respira fundo e olha pra cima, volta a respirar fundo mas faz uma pausa.
- Mas o que filho, o que aconteceu nessa reunião? - questionou Antonella atenta.
- Chegando na reunião Diego demorou pra chegar porque veio com os policiais do caso e mais algumas pessoas que estavam nas buscas, fez vídeo chamada com a Caro e o Mau, e começou a falar... - seguiu Ruggero, mas acabou parando novamente.
- O que ele disse? - retornou Antonella.
- Que haviam encontrado um... um... corpo perto da minha casa, que batia com a descrição da roupa que Karol estava usando quando saiu de casa ...
- começa a chorar - eu... eu perdi o chão Mamma... eu senti uma dor tão grande... - tentou explicar ele.
No corredor Karol levou a mão a boca para não vazar sua respiração.
- Oh meu filho... - ficou preocupada com o que vinha a seguir Antonella.
- Eu... senti uma dor e perdi a consciência, acordei não sei quanto tempo depois já na UTI... - seguiu contanto ele.
- Santo Deus, o que aconteceu filho? - perguntou Antonella se contendo.
- Eu ... eu infartei... e tive uma cardiomiopatia muito grave junto... Mamma eu queria morrer... - contou chorando Ruggero.
Antonella já estava em lágrimas. Karol no corredor começou a chorar fazendo de tudo para não ser ouvida, mas juntamente com o choro uma dor veio lancinante.
- Eu juro Mamma eu queria ir, sem ela eu não consigo, eu podia viver longe dela mas sem ela não, sem ela a minha existência não fazia sentido... logo depois... eu ... eu entrei em um quadro de sepse, Lucas tentou me motivar a melhorar mas eu pedi a ele que me deixasse ir... - contou Ruggero em prantos, era muito difícil lembrar de tudo.
Antonella o abraçou de rompante, chorando junto a ele.
Karol continuava contendo seu choro, mas dor não estava passando, estava cada vez mais forte e se tornando insuportável.
Ruggero se soltou de sua mãe a dando entender que ele queria continuar a contar a história, com a compreensão dela ele seguiu:
- Eu dormi, dormi e em sonho fui pra um lugar bonito, um campo, estava andando por ele quando a escutei me chamando e não pude crer no que meus olhos estavam vendo, era ela Mamma... era ela... ela me disse que estava bem, que o que Diego disse era mentira, que ela estava bem e estava segura... que estava em um lugar que eu conheço bem e que logo nos encontraríamos... Esse sonho chegou pra mim como um alento, uma esperança... no dia seguinte acordei sem sepse e muito melhor, logo fui pro quarto e foi quando te liguei... agora estou bem, tenho que tomar os medicamentos e monitorar, mas estou bem... estou bem porque sei que ela esta bem... e eu só quero encontra-la... - terminou de contar Ruggero.
Antonella queria contar a ele, mas sabia que dependia de Karol, abrir aquela porta, ela decidiu apenas dizer chorando:
- Ela esta mais próxima do que você imagina meu filho... Deus...
- Eu só quero ver ela, ou ouvi-lá mais uma vez... - começou a dizer Ruggero.
No entanto a dor em Karol chegou a um ponto em que ela estava encolhida atrás a porta, sem conseguir pensar no que fazer, quando foi se levantar para abrir a porta ela sentiu uma espécie de estalo e algo escorrendo em suas pernas, a dor passou no mesmo momento, ela se levantou, passou a mão em uma das pernas a olhou, era sangue, ela sabia o que tinha acabado de acontecer, "podia ter acontecido em tantos momentos, mas eu fiquei muito agitada..." pensava ela. Ao ouvir Ruggero dizendo que só queria saber onde ela estava, ela tomou fôlego e abriu a porta dizendo:
- Eu estou aqui... Nella eu preciso - fica tonta - eu preciso ir pra clinica agora!