Capítulo 23

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- Hunf... já imaginei algumas vezes Nella... - disse Karol pensativa.
- Mas não é o momento ainda ... - complementou Antonella.
- Não...e não sei quando será, quando eu me sentir pronta, vou querer falar com ele... - pensou alto Karol.
- Conhecendo meu filho ele vai ficar emocionado e vai cuidar muito de você. - interrompeu Antonella.
- Isso é o que ele mais sabe fazer, cuidar de mim... - seguiu Karol.
- Na trajetória de vocês esse cuidar ganhou variantes, muitas vezes vocês se separaram porque ele queria cuidar de você e ficar com toda a pancada pra ele. - contou Nella.
- Nós nunca brigamos, nem sequer discutimos, nenhuma vez, até quando tínhamos que encenar discussões ele tinha dificuldade, regravávamos várias vezes porque ele sempre parava a cena e repetia "eu não consigo", eu sempre dizia pra ele imaginar uma pessoa que ele não gostasse. A única vez que conversamos de forma muito séria, ele falou muito baixo, não me deixou sequer dizer algo,  se levantou e saiu da sala, eu fiquei magoada, mas tinha certeza de que não havia verdade naquelas palavras, era como se ele estivesse sendo obrigado a fazer aquilo. - explicou Karol.
- Eu fiquei preocupada quando ele meio que empurrou você no palco, esse dia eu liguei e briguei com ele. - disse Antonella.
- Eu não sei o que Diego havia dito pra ele aquele dia, mas ele estava muito bravo e agiu com todos rudemente, não foi só comigo, até com o Mike ele foi grosseiro, eu não entendi muito bem também porque ele estava fazendo aquilo, o pedi pra parar de ser estúpido, mas ele não me respondia apenas mantinha distância. Depois, uma das meninas do figurino disse que Diego o tinha chamado pra conversar a portas fechadas pouco tempo antes da função. - elucidou Karol.
- O pessoal sempre sabe de tudo, mas tendo esse ponto de vista, agora entendo porque a única coisa que ele me disse depois que terminei de lhe dar o sermão foi, "Você não sabe o que é estar aqui e com um chefe arbitrário." - analisou Antonella.
- Muitas vezes vi Diego falando com ele, ou lhe mandando mensagens incisivamente, ele fazia isso com a minha mãe também, mas nunca eu recebi um chamado ou nada do tipo, muito menos pessoalmente, a não ser no último show, mas ele foi bem breve, era o chefe, eu o respeitava. Mas com Rugge, parecia que Diego estava sempre pendente de tudo que ele fazia e mais de uma vez o vi bravo por isso, mas ele nunca descontava em ninguém, até aquele dia, acho que ele havia chego no limite. - seguiu contando pensativa Karol.
- Creio que sim carinho, bom vamos pra casa? - perguntou Antonella.
- Sim, preciso cuidar de umas coisas no jardim e te ajudar com o almoço. - respondeu Karol.
- Não senhorita, você vai descansar! - deixou claro Antonella.
- Eu fiz isso ontem Nella. - a lembrou Karol.
- Mas hoje você fez exame, pelo menos um pouco você vai descansar. - disse Antonella.
- Bom, um meio termo, está bem. - aceitou Karol.
Antonella acenou com a cabeça e saiu do veículo retornando ao banco do motorista. Karol colocou a cesta sobre o assoalho do veículo e se deitou no banco traseiro ficando quietinha ali até chegarem em casa.
Quase fim da tarde em Buenos Aires, o médico andava apressado com folhas nas mãos, pelo corredor sentido a ala de UTI. Entrou  na ala indo diretamente no espaço onde Ruggero estava, lhe dizendo:
- Garoto eu não sei com o que você sonhou, só sei que sua sepse sumiu totalmente e seu coração está bem mais estabilizado, agora mesmo vão vir removê-lo para transferi-lo a um quarto.
Ruggero deu um sorriso singelo, por dentro ele dizia "eu preciso ficar bem pra poder encontrá-la.".
- Olha só a equipe, vão levar você pro quarto! Você quer que avise alguém? - perguntou o médico.
- Ao Lucas, somente a ele. - respondeu Ruggero.
- Vou avisá-lo imediatamente! - disse o doutor muito animado.
- Se puder diga a ele para trazer meu celular por favor. - pediu Ruggero.
- Pode deixar. Ah garoto não é todo dia que acontecem milagres por aqui, mas você me surpreendeu, essas coisas é que muitas vezes fazem valer a profissão. - disse o doutor muito animado saindo.
Já fora da ala da UTI, de volta a sua sala o médico liga para Lucas:
- Alô, senhor Lucas?
- Sim doutor é ele, por favor me dê logo a noticia, seja objetivo. - pediu Lucas.
- Ruggero esta sendo transferido para um quarto neste momento, ele está muito bem, pediu que assim que possível você venha vê-lo e lhe traga seu celular. - disse logo o doutor.
- O quê? Ele melhorou? Mas como? - questionou incrédulo Lucas.
- Eu só digo uma coisa meu jovem, ocorreu um milagre aqui pela manhã, mas sim ele está melhor sem sinal de sepse e o coração está bem estável. Então assim que puder venha vê- lo e lhe traga o celular. - respondeu e reforçou o homem.
- Não acredito, isso é uma boa notícia, eu vou assim que eu resolver umas coisas. Obrigado doutor, até mais. - agradeceu Lucas desligando em seguida.
Mais a noite Lucas foi visitar o amigo no hospital. Ao entrar no quarto, viu um Ruggero muito diferente do que anteriormente.
- Irmão, você tá bem, que alívio, mas  você tava mal pra caramba ante ontem, o que houve? - indagou Lucas curioso.
- Sonhei com ela! - respondeu Ruggero.
- Com quem? - retornou Lucas.
- Com Karol, e ela me disse que está bem, que está viva, que estivemos muito próximos e que esta em um lugar que conheço bem e que vamos nos ver logo. Deus eu abracei muito... - contou Ruggero.
- Bom o que importa é que você está bem e vai sair logo daqui! - vibrou Lucas.
- Você trouxe meu celular? - perguntou Ruggero.
- Trouxe sim! - respondeu Lucas tirando o aparelho do bolso e entregando ao amigo.
- Obrigado, quero ligar pra minha mãe. - disse Ruggero.
- Irmão ela ligou, parecia preocupada, eu disse que você estava ocupado e com a criatividade a mil, mas que ligaria pra ela assim que pudesse, eu não tive coragem pra dizer a verdade, me desculpe. - contou Lucas.
- Tudo bem Lucas, você fez o que pode, o que já foi muito, manter minha mãe tranquila foi a melhor coisa. - entendeu Ruggero.
- Se ela te visse como estava antes, seria muito chocante... - exteriorizou Lucas.
- Por isso você foi prudente, obrigado. Bom vou ligar. - disse Ruggero.
Em Pescara era final de tarde, Karol e Antonella agilizavam o café e o jantar. Antonella amassava uma massa com as mãos, quando seu telefone tocou:
- Aí céus vou ter que atender no viva voz porque não dá pra deixar essa massa parada se não vai criar fermento demais. - reagiu Antonella.
- E eu nem posso te ajudar com o telefone, mas posso te ajudar com a massa. - disse Karol.
- Não carinho você já está cuidando desse bolo aí, eu coloco no viva voz. - disse Antonella atendendo sem ver quem era apenas para se livrar do toque rapidamente.
- Olá Mamma! - falou Ruggero no aparelho.
- Filho!! Que bom que ligou! - reagiu Antonella.
Karol ficou estática, fazia tempo que não ouvia a voz dele tão próxima.
- Como está Mamma? - perguntou Ruggero.
- Estou bem filho, estou amassando pão, mas e você como está?? - responde e  pergunta logo Antonella.
- Humm aquele pão, sentí até o cheiro dele assando daqui. Agora estou bem Mamma, ainda estou no hospital, mas em breve devo ir pra casa. - respondeu Ruggero.
Karol soltou a colher na tigela levando a mão para tampar a boca e não deixar sua respiração aparecer.
- Hospital?? Como hospital?? Eu sabia que tinha acontecido algo!! - questionou Antonella.
- Calma Mamma, estou bem, eu te conto o que houve em outro momento, mas estou bem, fique tranquila, justamente por isso estou ligando, sei que Lucas lhe disse que eu estava ocupado, mas era pra você não se preocupar. - percebe o silêncio - Mamma, eu estou bem, vou pra casa logo, não foi nada que não tivesse solução, o médico está feliz com a minha evolução, não se preocupe. - pediu Ruggero.
- Filho, como que eu não vou me preocupar?? - questionou Antonella.
- Mamma, é por isso que estou te ligando, pra que você não se preocupe, estou bem, já passou. - respondeu Ruggero passando tranquilidade.
- Você vai me contar direitinho o que houve mocinho!! - brandou Antonella.
- Eu vou Mamma, prometo, mas agora fique tranquila porque estou bem. - deixou claro Ruggero.
- Eu vou acreditar nisso, mas qualquer coisa você vai me ligar, certo? - indagou  Antonella.
- Sim Mamma!  Mas agora vou deixar você amassar o pão em paz, desfrutem dele por mim, porque agora estão trazendo o jantar super saboroso e temperado do hospital - sussurra - só que não. - disse Ruggero.
- Vamos marcar de você vir aqui e eu faço toda a comida que você gosta! Por hora filho se cuide por favor e se comporte, não quero mais ter que passar esse tipo de aflição outra vez, você sabe como é meu coração de mãe. - deixou claro Antonella.
- Sim Mamma. Bom assim que eu sair daqui te ligo e marcamos, um beijo! - se despediu Ruggero.
- Um beijo meu filho, te amo! - retribuiu Antonella desligando em seguida.
Karol deixou a tigela no balcão, foi se sentar em uma das cadeiras a mesa, Antonella a viu, terminou de mexer a massa a cobrindo com um pano e foi por Karol se sentando a frente dela, vendo que ela estava com as mãos sobre o lunar.
- O que houve filha? Ouvi- lo mexeu com você não foi? - perguntou Antonella.
- Acho que sim...foi muito bom ouvi-lo... agora sei que está bem... - respondeu Karol mas sem tirar os olhos de seu lunar.
- O que esta acontecendo com essa menina? Está com cólica? - perguntou Antonella.
- Não, é só uma sensação diferente, como se fossem várias bolhas se movendo ... - respondeu e contou Karol.
- Começou agora isso? - seguiu Antonella.
- Sim, quando Rugge começou a falar... - respondeu Karol tentando entender.
- Isso é sinal de que ela vai começar a se mexer em breve. - disse Anronella a sorrindo.
Porém Karol não sabia definir se isso era bom ou ruim, teria que ter paciência para descobrir.
No jantar, Bruno estava curioso sobre o exame, como havia ocorrido tudo, mas Karol seguia calada e não tirava uma das mãos de seu lunar por nada, com a outra brincava um pouco com a comida antes de mastigar.
Antonella resolveu contar como havia ido o exame:
- Ela esta bem, vai começar a repor vitaminas em breve e a ecografia foi um boommm.
- Descobriram o que é? - perguntou Léo.
- Sim filho, já sabemos o que é! - respondeu Anronella sem quase se conter.
- Bom então nos diga! - pediu Bruno ansioso.
- É uma menina... - disse Karol ainda olhando para seu lunar.
- É mesmo? - questionou Bruno atônito.
- É sim amore, é uma menina e ela é tão lindinha! - disse Antonella.
- Jura Nella? - questiona Bruno um pouco mais sério.
- Sim, é uma menina. - deixou claro Antonella.
Léo percebeu um clima esquisito e preferiu quebrá-lo perguntando:
- Você já pensou em algum nome Ka?
- Eu não pensei ainda Léo, mas se você quiser me dar sugestões eu vou aceitar. - respondeu Karol.
- Eu também posso sugerir? - Perguntou Bruno.
- Claro Pá, todos podem sugerir... - respondeu Karol não muito preocupada com o assunto.
- Ah amore, Rugge ligou mais cedo! - contou Antonella.
- E tudo bem com ele? - perguntou Bruno.
- Ele esta no hospital... - se interpôs Karol.
- No hospital??? Porque? O que houve? - questionou Bruno levemente exaltado.
- Calma amore, ele me garantiu que está bem, somente não me explicou o que houve, mas disse que quando vier para cá me contará pessoalmente, mas que nesse momento ele está bem e logo vai pra casa. - se adiantou Antonella para acalmar seu marido.
- Eu também senti que havia algo errado com ele... - revelou Léo.
- Eu imaginei filho, você está distinto e não parecia ser pelo trabalho da faculdade... - contou Bruno.
- O importante é que ele está bem! - disse Antonella.
- Vou mandar mensagem pra ele depois... - disse Léo.
- Isso filho, assim ajudamos ele a se recuperar rápido.
Karol voltou a ficar quieta e introspectiva, apenas olhando e zelando por seu lunar, compreendendo que havia uma menininha se desenvolvendo dentro dela.

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