Capítulo 29

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Os dias passavam em Pescara apesar do calor, com muita tranquilidade, promoviam calmaria na mente e muitos desejos e planos para o futuro.
Era domingo e como em toda casa de italiano, o dia começava mais tarde e empurrava todas as atividades subsequentemente.
Era próximo das nove da manhã, Karol foi acordada com uma sensação diferente dentro de si, se espreguiçou, semicerrou os olhos percebendo o sol através da cortina, certamente mais um dia de calor predominava do lado de fora, ela se virou de lado, coçando os olhos, relutando para se levantar, até sentir novamente aquela sensação distinta. Era algo estranho por dentro, como espamos na região baixa do abdômen, ela abriu os olhos e olhou pra si, levantou a camiseta, fez carinho em seu lunar, estava bem firme, sentiu outro espamo, resolveu se sentar, era uma sensação nova, ela não tinha tido nada parecido antes, ficou ali um tempo, até seu estomago roncar, "deve ser fome", pensou ela se levantando.
Ela cumpriu com seu asseio da manhã indo a cozinha posteriormente. Antonella já havia despertado, se encontrava preparando suas panquecas clássicas com especiarias, no fogão um panela produzindo xarope de cramberrys para acompanhar para o café da manhã, o que confería um aroma tão bom que havia se convertido em uma memória olfativa e afetiva para Karol.
- Bom dia filha! - desejou Antonella ao percebe-la.
- Bom dia Nella, hummm esse cheiro, é tão bom! - retribuiu Karol aspirando ar para que o aroma lhe preenchesse.
- Eu sei fica um aroma que se espalha por toda a casa, eu adoro! - exclamou Antonella.
- Deixei a porta do corredor aberta, o cheiro vai acordar os meninos com certeza. - disse Karol agilizando a arrumação da mesa.
- E esse outro cheiro está sentido? - perguntou Antonella.
Karol aspirou bem o ar tentando identificar o aroma, quando sentiu o cheiro do fermento exclamou:
- É do seu pão de sarraceno! Nossa hoje os cafés, obviamente como todos os dias, vão estar deliciosos!
- Já tinha acabado o pão eu fiz mais! Opa, pode desligar o xarope pra mim? - perdi Antonella.
- Claro! - atendeu Karol desligando o fogão.
Quando ela foi se virar sentiu novamente aquele espasmo e levou as mãos ao lunar, Antonella percebeu e tirando a última panqueca da frigideira a perguntou:
- O que esta sentindo?
- Não sei, é como se cada dia aqui estivesse mais durinho e eu sentisse meu corpo funcionando desde de dentro, algo assim... - seu estômago ronca novamente - Nossa eu tô com muita fome! - respondeu Karol.
Antonella lhe serviu as panquecas primeiro e com muito xarope, não demorou muito para Léo e Bruno se juntarem a elas para o café. O cheiro do pão recém saído do forno fez Karol comer mais de quatro fatias, a fazendo dizer em seguida:
- Ushi... comi demais, estou bem cheia...
- Se você estivesse comendo somente por você estaria preocupado, mas sei que tem mais alguém aí crescendo e com fome. - exteriorizou Bruno.
- Karol, filha, porque não vai até o jardim pegar algumas ervas frescas, vou fazer pinolles com ervas para o almoço, não se preocupe que arrumamos tudo aqui, aproveite para pegar um pouco de sol pra ajudar com a fixação das vitaminas. - sugeriu Antonella.
- Vou sim, aproveito para dar comida pros meus amiguinhos! - exclamou Karol animada.
Ela saiu para o jardim, de imediato regou todas as flores e ligou a irrigação da horta. Em seguida levou nozes para os esquilos na base da árvore e ao olhar pra cima percebeu que um dos passarinhos estava no ninho, ao se atentar, ficou claro que se tratava da fêmea e que ela estava ali porque aquecia três pequenos ovinhos, Karol sorriu e depositou um pouco de sementes perto do pássaro, que de alguma forma lhe agradeceu pelo gesto.
- Você também vai ser mamãe, precisa comer bem... - disse Karol baixinho.
Em seus pés um gato branco e laranja se enroscava e ronronava.
- Oi Thinker, nem vi você descer do muro, algo me disse que você viria e trouxe uns petiscos pra você também! - contou Karol ao animal.
Karol deu uma olhada geral para garantir que tudo seguia bem, colheu as ervas em uma tigela e se sentou um pouco no seu lugar habitual.
Sem demora Thinker se deitou em seu colo deixando a cabeça sobre seu lunar, com cuidado para não incomoda-lo, ela ergueu a camiseta expondo sua gravidez ao sol, ainda que Thinker ficasse um pouco na frente. Ela fechou os olhos um tempo, sentindo o calor, o sol e a leve sutil brisa que o vento norte soprava pela copa da árvore que farfalhava. Estava desfrutando do momento, quando sentiu outra vez um espamo, porém dessa vez o gato também sentiu, pois afastou a cabeça brevemente miando, como se reclamasse, ela retribuiu perguntando:
- Você sentiu também?
Thinker miou em resposta como se confirmasse. Karol passou a olhar para seu lunar, enquanto Thinker pousava sua cabeça em sua perna para evitar sem incomodado outra vez. Ela fazia carinho em seu baixo ventre, quando sentiu novamente outro espasmo, mas dessa vez ela não só sentiu como viu sua barriga se movimentar. Ficou ofegante levemente, se sentou com as pernas cruzadas e levou as duas mãos ao ventre, Thinker se esticou ao seu lado espojando-se ao sol. Não demorou muito ela sentiu e viu outra vez, e outra, e mais outra, até entender o que estava acontecendo.
- Oi... você está se mexendo... - exteriorizou ela baixinho.
Que sensação maluca, engraçada e maravilhosa era aquela, ela não estava somente gerando uma vida, estava sentindo a vida se mexendo dentro dela, ela sentia um vínculo crescendo, olhava para aqueles movimentos com tanta ternura e pensava "será que são os pesinhos ou as mãozinhas...". Karol havia passado por muitas coisas na vida, algumas não tão boas, outras muito boas, outras incríveis, mas nenhuma delas se comparava ao especial que estava sendo esse momento. Dentro dela no tangível as emoções, algo parecia ter mudado, antes ela tinha centenas de dúvidas, medos e derepente ela foi invadida por várias certezas, visões tão fofas e lindas, que ela teve total segurança em admitir pra si mesma que havia tomado a melhor decisão sobre sua vida.
Conforme os dias foram passando ela foi sentindo cada vez mais sua bebê se mexendo, sendo visível do lado de fora. Ela não quis comentar com ninguém, quería desfrutar um pouco sozinha daquelas sensações, viver pela primeira vez algo novo na maior plenitude que pudesse.
Em jantar na quarta feira seguinte, Antonella havia feito uma torta típica especial, além de outros acompanhamentos com ajuda de Karol, enquanto Bruno finalizava mais um Tartelete di Bosco para sobremesa. Com tudo pronto e todos sentados a mesa, Antonella tirou a forma do forno, a posicionando ao meio da mesa anunciando:
- Protinho, uma Scarpaccia di Camaiore, ou para que Karol entenda, uma torta de massa fina de abobrinha e flor, algo típico da região feito sempre entre primavera e verão espero que esteja boa!
- Vai estar Nella! - Vê Leornando indo puxar a forma mais perto de si. - Léo! Cuidado a forma está quente, pegue com o guardanapo sim! - alertou Karol exacerbada.
- Tranquila, eu vou pegar o guardanapo. - deixou claro Leonardo.
Antonella olhou para Karol com atenção, mas preferiu não comentar nada.
O jantar seguiu seu curso com todos elogiando ambas as tortas, quase não havia sobrado para o dia seguinte. Limparam tudo, Karol estava secando  louça enquanto Léo guardava, quando ela foi secar o último item, Antonella a disse baixinho:
- Hoje sei que está cansada, caprichamos no jantar, mas amanhã depois do Café da manhã vamos conversar sim.
Karol assentiu com a cabeça, não ficou pensando muito sobre o que era, normalmente Antonella lhe contava mais algo sobre a gestação logo ela teve certeza de que era disso que se tratava.
Na manhã seguinte Karol estava ajudando com o café, mas achando estranho o olhar de Antonella para ela, estava começando a ficar intrigada, quando viu Bruno que estava trocando a lampada perto do armário, bambeou na escada, ela imediatamente correu segurá-la lhe dizendo:
- Pá tenha cuidado o senhor pode cair e se machucar!
- Essa escada está bamba a um tempo filha já estou acostumado, mas agora já troquei a lâmpada vou descer. - tranquilizou Bruno.
Karol ficou segurando o equipamento, até Bruno estar com os dois pés no chão, o que chamou a atenção de Antonella que teve certeza do que estava acontecendo.
Após o café da manhã, bem como os meninos sairem para a oficina e a universidade, Antonella agilizou a louça, enquanto Karol reorganizada a mesa, assim que acabaram Antonella a lembrou:
- Bom chegou a hora da nossa conversa.
- Sim Nella, o que você quer me contar hoje. - acatou Karol presumindo sobre o que seria.
- Eu que te pergunto, tem algo pra me contar? - perguntou Antonella.
- Como assim? - questionou Karol estranhando.
- Você esta diferente... - respondeu Antonella.
- Como diferente? Me sinto normal. - seguiu Karol.
- Está com um brilho extra no olhar, está mais animada, mas o ponto principal é que esta super protetora, o que aconteceu? - retornou Antonella.
Karol olhou para baixo, friccionando os lábios, tentou formular uma resposta, sem perceber levou as mãos ao lunar, sem aguentar mais o suspense Antonella compartilha sua percepção:
- Ela começou a mexer não foi?
Karol a olhou nos olhos, deu uma leve suspirada abafada e confirmou com a cabeça, iria dizer algo mas Antonella se interpôs:
- Está curtindo esse momento só você e ela não é... eu compreendo, mas quando ela começou?
- Sim, é algo que sinto pela primeira vez... começou no domingo... - respondeu Karol.
- É sempre a primeira vez, não importa se você já tenha um filho, esse momento é único tanto quanto cada gravidez é única. Domingo... no mesmo período, 17ª para 18ª  semana, como o pai dela. E como está se sentindo? - seguiu Antonella estampando a felicidade no rosto.
- Sinceramente? Estou me sentindo incrível... é muito mágico... - respondeu Karol.
- Eu disse que tudo seria diferente depois que ela se mexesse, é como um sanar de dúvidas. - diz Antonella olhando o calendário.
- Exatamente isso que senti, que as dúvidas foram embora... mas o que esta procurando Nella? - retornou Karol.
- Que lua era domingo... - descobre - Era quarto crescente, a Lua da ação, não poderia ser em outra. - respondeu Antonella.
- Não estou entendendo. - exteriorizou Karol.
Antonella pega o calendário e diz:
- Vou te contar, vem, vem sentar aqui comigo no sofá.
Karol a acompanha, as duas se sentam e Antonella começa a contar a ela:
- A gestação é contada em semanas, porque a Lua demora uma semana para cumprir um ciclo e mudar, logo tudo é regido por ela. Não são só 4 fases, na verdade são 8, não só fases, cada uma tem um propósito. São elas: Lua crescente, que é a lua onde projetamos o que queremos, depois é a que estamos, a lua quarto crescente, que é a lua da ação, por isso essa menina começou a mexer agora. Em seguida a lua crescente gibosa, chama-se assim por ocorrer na transição, é a lua da reavaliação, então passamos para a Lua cheia, que é o momento do reconhecimento, depois a Lua minguante gibosa, que é a lua onde devemos agradecer a tudo que nos acontece seja bom ou ruim, depois vem a lua quarto minguante, que é lua da libertação, então vem a lua minguante, que a lua para relaxar e pôr fim a lua nova, a lua do recomeço. A lua demora 28 dias para dar a volta completa no nosso planeta, nesse período ela rege  as marés, as plantações, aos homens, mas principalmente nós mulheres, pois a lua representa o feminino, rege os ciclos menstruais e as gestações, assim podemos saber quando o bebê vai nascer que normalmente é na virada de fase.
- Wow, nunca tinha olhado e percebido dessa forma... - exteriorizou Karol.
- A lua tem mais ação sobre nós mulheres, únicas em capacidade de gestar do que possamos imaginar.

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