Na manhã seguinte, estava mais quente, sinal de que a primavera começava a se mesclar com o verão no hemisfério norte. Devido ao calor, o suor acabou acordando Karol, ela se espreguiçou, virou para um lado, depois paro o outro, colocou uma perna pra fora da coberta, mas viu que não conseguiria ficar mais na cama. Esfregou os olhos e os abriu, observando tudo ao redor, estava no quarto de Rugge e não do seu. O cheiro dele aguçou suas memórias olfativas, ela queria muito olhar pro outro lado da cama e o ver deitado ali com ela, mas seguia sendo um espaço vaziu. Sem dar margem para tantos pensamentos ela se sentou, se levantou, em seguida foi ao banheiro, praticou sua higiene com seu estomago borbulhando e de lá foi rumo a sala em frente a cozinha. Chegando no ambiente notou uma mesa bem farta de café da manhã, ao olhar os lugares arrumados, percebeu que havia um para ela o que a fez se sentir incluída, haviam pensado nela.
- Bom dia Karol! - desejou Antonella ao vê-la.
- Bom dia An... Nella... - retribuiu Karol.
- Huhu, dormiu bem? - quis saber Antonella.
- Dormi sim, só acordei porque está bem quente e porque bom estou com fome.
- Ah essa época do ano vai ficando cada vez mais quente, mas se quiser podemos ligar o ar, ou colocar um ventilador o que for mais confortável pra você. Mas sente-se, se está com fome pode ir comendo, Bruno e Leo já devem estar vindo. - comentou Antonella colocando uma geléia fresca no meio da mesa, se sentando em seguida.
Karol concordou agradecida e se sentou onde havia se sentado no dia anterior, e parecia que era para ela aquele lugar, porque ao lado da xicara tinha um biscoito amanteigado em formato da letra k. Ao observar os demais, percebeu que cada uma das xicaras tinha sua respectiva inicial, ela não pode deixar de dizer:
- Que delicadeza Nella esses biscoitinhos.
- Gosto de fazê-los, faço uma fornada de cada letra dividida em sabores diferentes pra variar todo dia. - contou Antonella.
Karol a sorriu e Antonella complementou:
- Gosto de fazer com que as pessoas se sintam lembradas e especiais.
Karol a olhou com muita ternura, nem nos seus dias mais lindos com sua família haviam feito algo tão doce e gentil.
Minutos depois, Bruno e Leo vieram pelo corredor, se juntaram a elas a mesa, Leo ao vê-la disse:
- Bom dia Karol! Que bom que você está aqui!
Karol relutou, mas retribuiu:
- Bom dia! Obrigado, eu que fico feliz de estar aqui e ser tratada com tanto carinho.
- Humm - mastiga um pedaço de pão - você merece, por mim você teria estado aqui desde sempre. - disse Leonardo.
"Você merece", ela havia ouvido isso poucas vezes, por muito tempo ela mesma achava que não era merecedora de nada, que apenas cumpria com seu trabalho, como em qualquer outra profissão. Ela até pensou por um instante que estava demais, mas se lembrava bem que eles eram assim mesmo, muito atenciosos e amorosos, mas que quando tinham que ser brandos o faziam, exatamente como Ruggero demonstrava antes de sofrerem interferência externa.
Karol comeu bem no café, bastante frutas que já estavam picadas, cereal, leite, pãozinho com geléia e um copo de suco das cramberrys que estava muito bom.
- O suco estava bom não é? - perguntou Bruno.
- Estava uma delícia! - respondeu exclamando Karol.
- Se nota... - ri Bruno.
- O que? - perguntou estranhando Karol.
- Está com bigode de suco. - lhe contou Antonella a entregando um guardanapo.
Karol se limpa e ri, fazia uns dias que não ria por bobeiras, o que a fez pensar que aos poucos ela estava voltando a fazer as coisas que gostava.
- Bom nós vamos indo, vou deixar Leo na Universidade e vou para a oficina, qualquer coisa me telefonem meninas! - informou Bruno saindo da mesa seguido de Léo.
Os dois saíram pela porta da cozinha rumo a mais um dia.
Em seguida Antonella se levantou e começou a recolher a louça, Karol também se levantou e mais do que rápido perguntou:
- Posso te ajudar?
- Claro que sim. - respondeu Antonella.
Mais tarde, com a louça resolvida e as sobras condicionadas, Antonella verificou os armários e perguntou:
- Você quer ir ao mercado comigo, ou prefere ficar aqui?
- Eu prefiro ficar, não me sinto confortável de sair... - respondeu Karol.
- Compreendo carinho, vou em um pé e volto no outro, só preciso repor algumas coisas. Qualquer coisa me chame no celular o número está fixado no porta chaves. - orientou Antonella.
Antonella pegou sua bolsa, trocou de sapatos, estava saindo, quando viu Karol indo ao corredor.
- Karol, você pode assistir tv, ou jogar videogame se quiser, já sabe a casa é sua. - sugeriu Antonella saindo sem seguida.
Mas naquele momento tudo que Karol quería era voltar para o quarto e descansar, ainda que não tivesse sono, mas o cansaço ia e vinha conforme a hora e ela sentia necessidade de deitar-se.
Entrou no quarto sentou na cama, estava calor e o sol batia bem ali através da janela, deixando a cama um pouco insuportável. Passou a observar as coisas do quarto, os livros sobre escrivaninha, viu um porta retrato abaixado no topo da estante, se levantou foi até ele e o erguendo viu uma foto dele de uma apresentação em um programa e na frente para sua surpresa, colada do lado de fora do objeto, uma foto dela com ele. Ela se lembrava bem daquele día, 2016, tinham uma série de entrevistas para fazer pela França, estava frio, mas o sol era bem forte, os dois usavam óculos escuros, ela era parte de uma sequência de fotos que Céci havia feito com celular. Ninguém sabia, mas eles já estavam juntos, foi quando se beijaram a primeira vez sem ser para o trabalho, porque queriam, porque já não conseguiam mais esconder um do outro o que sentiam. Ele havia se colocado muito intenso depois disso, porque sempre que podía jogava beijos pra ela a deixando desconcertada e quando ninguém estava olhando a roubava beijos, " Você tem que parar de fazer isso, uma hora vão pegar a gente." Lembrava de dizer ela.
O questionamento que ficava, era porque ele havia impresso a foto e colado ali, pois a julgar pelo brilho do papel ele havia feito isso recentemente. Karol buscava na memória algum outro ocorrido nesse dia, que não fossem os beijos, mas não conseguiu encontrar nenhum motivo.
- Ah você está aqui! - exclamou Antonella entrando no quarto.
- Oi! Já voltou? - retornou Karol no susto, já que estava concentrada um tempo divagando por suas memórias.
- Sim, o mercado é aqui do lado. - percebe o porta retrato em pé - Estava vendo a foto não é? - respondeu e perguntou Antonella.
- Sim, e tentando entender porque ele tem essa foto e aqui... - respondeu Karol voltando a olhar para o porta retrato.
- Me lembro do dia que ele colou a foto aí, estava conversando com o Leo, eu estava passando no corredor quando parei para ouvir a conversa. Léo o estava perguntando o motivo da foto e Rugge o respondeu que havia sido nesse dia que ele teve dimensão do quanto importante você era pra ele, e por isso tinha que estar aí, junto do registro da sua primeira grande conquista. - contou Antonella.
Karol ficou olhando a foto absorvendo o que acabará de ouvir, em seguida perguntou:
- Quando ele a colou aqui?
- Depois que vocês foram no Amici, ele veio pra cá, no dia seguinte me deparei com a foto colada aí. Bom, ao ver a sua carinha, eu sugiro que você descanse, mais tarde te chamo para almoçar. - respondeu Antonella.
Karol tirou os olhos da foto, olhou para Antonella e a disse:
- Eu quero ajudar você com o almoço e no que mais precisar...
- Está bem, mas por hora quero que descanse sim. - concluiu Antonella saindo do quarto em seguida.
Karol ainda ficou em pé olhando a estante, " Ele colocou a foto aqui em 2018, em janeiro de 2018..." organizava a memórias, ou seja havia sido realmente mais recente, "era importante pra ele, queria que ainda fosse... ", pensou alto Karol. Cansada ela foi para a cama, se deitou mas ainda ficou olhando a foto até pegar no sono.
Na cozinha, enquanto arrumava os ingredientes para preparar o almoço, Antonella falava ao telefone com sua antiga obstetra para marcar a consulta para Karol, ela reforçava incisivamente que tudo tinha que correr dentro da maior discrição possível e a doutora compreendeu, a disse que não se preocupasse e que as esperaria na segunda próximo às 9.
Perto das 11 da manhã, Karol acordou com o suor a incomodando novamente, do quarto foi direto a cozinha, meio mareada, Antonella ao vê-la, a faz sentar lhe dizendo:
- Santo Deus Karol, você deve estar com a pressão muito baixa... - pega uma colher de sal - Aqui, coloque em baixo da língua, vai melhorar.
Karol encostou a cabeça no espaldar da cadeira, sua respiração estava funda e curta, ela piscava lentamente, Antonella não saiu de perto, ficou aguardando ela responder com alguma melhora.
Passado alguns minutos Karol voltou a respirar normalmente, passou a olhar com atenção para Antonella que a perguntou:
- Esse calor e seus hormônios uma bagunça geram isso, mas estou aqui, vai ficar tudo bem, já está passando mais o mal estar não?
Karol balançou a cabeça dizendo que sim, aos poucos foi se recuperando mais rapidamente, quando se sentiu melhor, foi se levantar mas Antonella barrou:
- Não senhorita, você vai ficar sentadinha aí.
- Mas eu quero ajudar... - contrapôs Karol.
- Está bem, tem algumas coisas pra cortar, isso você pode fazer sentada, depois que cortar se estiver bem melhor, eu deixo você me ajudar a cozinhar o resto das coisas. - entendeu Antonella.
Karol passou a cortar vários legumes e verduras, aos poucos foi ficando mais animada e se sentindo útil.
Bruno ligou para avisar que não iria para casa almoçar porque a oficina estava cheia, mas que Leo não tinha treino e estava indo pra casa.
Com Karol bem, Antonella passou a ensiná-la a preparar um dos pratos, ela tinha um jeito de ensinar muito calmo, mas objetivo, o que deixou Karol atenta, estava seguindo tudo direitinho.
Em poucos minutos Leo chegou, foi incumbido de por as louças a mesa, enquantos elas terminavam os preparativos. Sentaram para saborear a comida riquíssima, diversificada e cheia de componentes que eram benéficos a todos, mas em especial a Karol. Na verdade Karol tinha certeza de que o cardápio havia sido escolhido pensando mais nela do que em outra pessoa, o que a certo ponto a incomodava.
Depois da sobremesa, todos cuidaram da cozinha juntos em uma força tarefa, que com mais pessoas terminou em um instante. Antonella foi por suas coisas, seus afazeres, Leo e Karol foram para o sofá pois ele a havia convidado para jogar videogame e ela aceitou, algo que certamente a faria se sentir em casa.